A basílica de São Pedro no Vaticano é a igreja mais reconhecível do mundo. Os visitantes da basílica muitas vezes ficam maravilhados ao admirar a grandeza e a beleza da maior igreja do mundo.

O mesmo ocorre com as pinturas da Capela Sistina de Michelangelo, a “Missa de Réquiem” de Wolfgang Amadeus Mozart Christian Bach e até mesmo o “Angelus” de Jean-François Millet – mais algumas das obras de arte mais influentes e amadas do mundo, criadas ao longo dos milênios.

O que todas essas grandes obras de arte têm em comum? Elas foram feitas por católicos.

Por milênios, artistas católicos atraíram milhões de pessoas a Deus através do poder da verdade, da bondade e da beleza. Mas hoje, a Igreja já não é amplamente conhecida por produzir belas artes. O que houve?

O artista católico contemporâneo Daniel Mitsui, que cria arte no estilo medieval e vive em Hobart, em Indiana, nos EUA, disse à CNA, agência em inglês do grupo EWTN, que a arte católica sofre hoje com as feridas de uma faca de dois gumes: rejeição da tradição e complacência.

“Acredito que os artistas religiosos católicos têm duas tarefas”, disse ele. “Em primeiro lugar, devem ser fiéis à tradição, buscando transmitir, por sua vez, as coisas que foram lembradas desde o tempo do Novo Testamento e que se refletem também na sagrada liturgia e nos escritos dos Padres da Igreja. E, segundo, eles deveriam fazer o seu trabalho tão belo quanto possível, porque eles estão tentando retratar as coisas da maneira como Deus as vê”.

“A experiência da beleza”, disse ele, “é como uma vaga memória da vida no paraíso, uma experiência que nenhum artista humano caído será capaz de recriar. Mas devemos nos esforçar para fazer o melhor que pudermos!”

A 'religião da Encarnação'

Apesar da carência artística nas últimas décadas, parece haver agora um ressurgimento crescente no mundo artístico católico.

Gwyneth Thompson Briggs é uma das artistas que mais produz obras do estilo católico tradicional. Artista da região da Nova Inglaterra, nos EUA, Briggs disse à CNA que viu “desejos de restauração no mundo da arte” e um “desejo crescente de um retorno à grande tradição da arte sacra”.

Ela criou um site chamado Catholic Artists Directory (Diretório de Artistas Católicos, em inglês) que apresenta muitos dos artistas que lideram o renascimento artístico da Igreja. Thompson acredita que esse renascimento é de vital importância.

“O inimigo quer tornar o mundo feio e ele teve muita ajuda nesse sentido nestes últimos 200 anos. A nossa tarefa é tornar o mundo mais bonito”, explicou ela, acrescentando que porque “o cristianismo é a religião da Encarnação”, a arte cristã “deveria ser encarnacional também”.

Reconstruindo a Igreja

O renascimento artístico católico não se limita apenas à pintura. Emergindo de uma era relativamente sombria da arte católica, existem agora muitos artistas católicos talentosos trabalhando nas áreas de pintura, escultura, música, arquitetura e muito mais.

Na verdade, uma grande porcentagem das igrejas católicas construídas nas últimas duas décadas foi construída em estilos tradicionais nos quais a beleza e a forma são enfatizadas.

O Centro Católico St. Mary em College Station, no Texas, nos EUA, é um exemplo de uma bela igreja católica construída na última década.

Ao servir uma comunidade estudantil vibrante na Texas A&M University, St. Mary's lutou por muito tempo para acomodar as multidões de estudantes que frequentavam à missa em sua antiga igreja. Então, a direção do centro decidiu que era hora de construir uma nova igreja.

O pároco de St. Mary, o padre Will Straden, disse à CNA que quando estavam planejando a nova igreja, queriam algo “que não se parecesse com outros edifícios” e que “os alunos pudessem identificar como uma igreja”.

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“Queríamos que o prédio fosse um farol, uma luz que guiasse os alunos a Deus”, disse ele.

A igreja foi projetada por uma equipe de fiéis católicos do Studio io e concluída em 2023. A estudante da A&M e estagiária em St. Mary's, Anna Olinger, disse à CNA que a nova igreja já teve um grande impacto nos estudantes, católicos e não-católicos.

“A nova igreja tem sido uma grande bênção porque permite que os alunos entrassem na liturgia e na oração de uma forma que usa todos os nossos sentidos”, explicou ela. “Desde o nascimento, cruz e ressurreição até o reinado eterno de Cristo, a igreja faz o Céu parecer um pouco mais próximo. A igreja ajuda melhor os alunos a compreender a história da salvação e o plano que Deus tem para a sua salvação pessoal.”

“A arte e a arquitetura têm sido ferramentas importantes de evangelização durante séculos, e isso ainda é verdade para a geração mais jovem”, disse ela.

‘Surpreender pelo Evangelho’

O artista sacro Martin Earle, que vive no Reino Unido e é especializado em obras para igrejas e liturgia, disse à CNA que não se deve confundir um renascimento artístico com uma simples recriação do passado.

Segundo Earle, o trabalho de um artista católico hoje é entrar “na pele” das antigas obras-primas da fé e, em vez de copiá-las, “criar novas obras que manifestam uma tradição viva”.

“Nós, artistas, temos um papel a desempenhar na pregação do Evangelho a cada geração: apresentá-lo em todo o seu frescor, beleza e vivacidade numa linguagem que seja atraente para os nossos pares. Isto só pode acontecer se antes de tudo nos deixarmos surpreender pelo Evangelho. Depois precisamos encontrar as ferramentas para comunicar a nossa admiração”, explicou.

No entanto, segundo Mitsui, os fiéis leigos comuns vão precisar desempenhar um papel crucial para um renascimento artístico católico. Sem os católicos apoiando os artistas e promovendo um ambiente onde nova arte possa ser feita, nada vai mudar.

“Vivemos em uma época na qual é fácil obter reproduções de muitas obras-primas históricas. Talvez apenas colecionar essas reproduções pareça satisfatório e menos arriscado do que apoiar qualquer artista vivo. Mas se todos fizerem isso, o próximo grande artista religioso nunca terá a oportunidade de existir, porque teve que conseguir um emprego em publicidade ou algo parecido”, explicou.

Somente com a ajuda dos fiéis, disse Mitsui, os artistas católicos poderão ajudar a Igreja a alcançar uma nova era de beleza e maravilha na arte.