Embora a secularização esteja avançando no Ocidente e em outros países, a situação pode ser um pouco mais complexa e menos inequívoca do que se poderia pensar, mostra o estudo apresentado no final de fevereiro na Pontifícia Universidade da Santa Cruz, em Roma.

Trata-se de uma pesquisa internacional sobre jovens, valores e religião, promovido pelo grupo de pesquisa Footprints. Young People: Expectations, Ideals, Beliefs, da mesma universidade, em conjunto com outras sete universidades de todo o mundo e com o apoio da agência de pesquisas espanhola Gad3.

Embora a secularização avance, o estudo mostra que há uma tendência minoritária mas significativa: um aumento no desejo de viver a fé pela convicção, substituindo a religião “sociocultural”, isto é, aquela que é vivida por mera tradição.

A Itália é o único país onde, diante da pergunta “Você acredita em Deus?”, 32% respondem: “Estou investigando”, como disse Cecilia Galatolo, parte da equipe que participou do estudo.

Galatolo disse que “a nível nacional a fé católica está muito enraizada e todos recebem uma educação religiosa mínima, por isso de alguma forma, mesmo entre aqueles que vão embora, há uma espécie de nostalgia”.

Acrescentou que a ruptura entre os jovens e a paróquia ocorre precisamente “entre os 11 e os 14 anos, nos quais a pessoa se afasta muitas vezes preservando boas memórias”, e isso também se deve a esse dado sobre estar em “busca”.

Galatolo disse que “no que diz respeito à Itália, verifica-se que a maioria dos jovens está interessada em questões religiosas. Nem um em cada dez jovens se declarou indiferente à espiritualidade (9%), enquanto 35% declararam acreditar em Deus, contra 11% que ‘deixaram de acreditar’ e 9% que dizem não ter acreditado nunca”.

“Um dado relevante, que só vemos no nosso país”, acrescentou, “é a grande presença de 'céticos' ou 'esperançosos' na existência de Deus. Referimo-nos àqueles que tentam acreditar em Deus (16%) ou não sabem se podem acreditar em Deus ou não (16%).”

Portanto, disse Galatolo, “os incertos são então um bom 32% (um valor significativamente superior em comparação com todos os outros países participantes na pesquisa). Portanto, podemos afirmar que a maioria dos jovens italianos ou tem fé ou está em busca dela”.

“Isso se deve a que a Itália vive um momento delicado: por um lado, o chamado à fé e à espiritualidade ainda é forte no país. Quase todos os jovens receberam o batismo e uma educação cristã inicial. A cultura, no entanto, leva-os a olhar para além de Deus, a “se secularizar” como grande parte do resto da Europa. O jovem italiano está, portanto, muitas vezes dividido, fragmentado”.

Por que os jovens buscam a espiritualidade?

“Por aquele motivo pelo qual a fé dá sentido à vida: torna-a mais bela. Além disso, segundo os jovens entrevistados, a fé está associada à capacidade de perdoar e de ser solidários uns com os outros. À pergunta feita só aos ateus se, apesar de não acreditarem em Deus, oram às vezes ou se o fazem em momentos específicos das suas vidas, mais de um em cada dois (52%) respondeu que sim.

Como os jovens vivem a realidade paroquial?

“Mesmo comparando os nossos dados com outras pesquisas”, disse Galatolo, “pode-se evidenciar que a Igreja (especificamente as paróquias) poderia fazer mais para se aproximar do mundo dos jovens, que muitas vezes percebem “tédio e formalidade” nos ambientes paroquiais.

“Isso não significa que entre os católicos entrevistados a Igreja seja percebida na maioria dos casos (64%) como uma instituição humana e divina desejada por Jesus para o bem dos homens. Isto diz-nos que, entre aqueles que permanecem ou voltam à Igreja depois dos 18 anos, a imagem da Igreja é substancialmente positiva e que a relação com ela é significativa nas suas vidas”, disse.

Que relação eles têm com a oração?

A especialista disse que “um fato interessante é que, se lhes for perguntado sobre qual imagem mais associam a Deus (independentemente de acreditarem ou não), para os jovens envolvidos nas pesquisas em todos os países a resposta mais popular é: ‘Alguém que ama e tem misericórdia'; enquanto a menos pronunciada é “um juiz que me controla”. Portanto, quando os jovens se voltam para Deus – principalmente com orações já formuladas por outros, mas muitos também com as próprias palavras – eles se voltam para um Deus de amor”.

No entanto, disse que “entre os católicos ainda existe uma total falta de consciência de que Deus é ‘Alguém’ com quem se deve estabelecer uma relação íntima e confidencial, por exemplo através dos sacramentos”.

“Um fato que nos faz refletir é que 53% dos católicos (portanto, um em cada dois) estão convencidos de que Jesus está verdadeiramente presente, não simbolicamente, na Eucaristia (26% não sabem responder e 21% —dos católicos —diz que não há presença real)”, acrescentou.

No entanto, “embora aproximadamente um em cada dois católicos acredite na presença real de Cristo na Eucaristia, apenas 6% (menos de um em cada 10 cristãos) afirma que reza diante do Santíssimo Sacramento. Entre os jovens declarados católicos, 35% assistem à missa semanalmente”.

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Finalmente, disse que “uma informação muito útil para fotografar a situação de fé entre os jovens italianos é a da confissão”.

“67% dos católicos reconhecem a sua importância (entre eles, 17% declaram que é um aspecto fundamental). Entre aqueles que não se confessam, é interessante notar que apenas 14% declaram que “não têm pecados a serem perdoados”. 51% reconhecem que precisam de perdão e pedem diretamente a Deus. Em conclusão, os jovens católicos, na maioria dos casos, não perderam a ideia de necessitar do perdão de Deus”, disse.