O papa Francisco reapareceu hoje (28) na audiência geral depois de ter cancelado a sua agenda na segunda-feira (26) por causa do seu estado de saúde, que ainda o impediu de ler com a própria voz a catequese sobre a inveja e a vanglória marcada para hoje no ciclo dedicado aos vícios e às virtudes.

"Queridos irmãos e irmãs, ainda estou um pouco resfriado. Por isso, pedi ao monsenhor Ciampanelli para ler a catequese de hoje”, disse o papa Francisco aos fiéis presentes na Sala Paulo VI no início da audiência.

Não é a primeira vez que monsenhor Ciampanelli se encarrega de ler a catequese numa audiência geral. Isso aconteceu em novembro de 2023, depois do cancelamento da viagem a Dubai e no início de dezembro passado. O papa Francisco também pediu que ele fizesse o discurso planejado aos participantes num simpósio universitário no dia 12 de janeiro.

No sábado (24), a Sala de Imprensa da Santa Sé anunciou a suspensão das atividades do papa devido a “uma gripe leve”. Depois de rezar publicamente o Ângelus no domingo, na segunda-feira (26) ele cancelou novamente sua agenda porque persistiam “sintomas leves de gripe, sem febre”.

Inveja e vanglória

Na catequese, o papa Francisco expõe a inveja como “um dos vícios mais antigos”, como se reflete na passagem do assassinato de Abel por Caim, registrada no Gênesis: “o rosto do invejoso é sempre triste: o olhar é cabisbaixo, parece que perscruta continuamente o terreno, mas na realidade não vê nada, porque a mente está mergulhada em pensamentos cheios de maldade”.

O papa alertou que a inveja “se não for controlada, leva ao ódio pelo outro” e é um vício em cuja raiz “há uma falsa ideia de Deus: não aceitamos que Deus tenha a sua ‘matemática’, diferente da nossa”, conforme explicado na parábola dos trabalhadores que chegaram em momentos diferentes à vinha. “Gostaríamos de impor a Deus a nossa lógica egoísta, mas a lógica de Deus é o amor”, acrescentou.

Sobre a vanglória, o papa Francisco disse que “ela anda de mãos dadas com o demônio da inveja e, juntos, estes dois vícios são caraterísticos de uma pessoa que aspira a ser o centro do mundo, livre de explorar tudo e todos, objeto de todo o louvor e amor”.

“A vanglória é uma autoestima inflada e sem fundamento”, continuou, e quem a sofre “é um perene mendigo de atenção” que “zanga-se ferozmente” quando os outros não reconhecem suas qualidades.

Para o papa, “o mal da vaidade tem o seu remédio em si mesmo: os elogios que o vaidoso esperava receber do mundo depressa se voltarão contra ele”.

“A melhor instrução para vencer a vanglória encontra-se no testemunho de são Paulo”, continuou. Assim, depois de pedir a Deus que o libertasse de um defeito, Jesus lhe respondeu: “Basta-te a minha graça, porque a força se manifesta plenamente na fraqueza”, recordou o papa.

“A partir daquele dia, Paulo foi libertado. E a sua conclusão deveria tornar-se também a nossa: ‘Por isso, é de bom grado que me orgulharei das minhas fraquezas, para que o poder de Cristo permaneça em mim’”, concluiu o papa.

Durante o resumo da catequese em espanhol, o papa considerou que “seria bom para nós nesta Quaresma meditarmos frequentemente na ‘Ladainha da Humildade’ do cardeal Merry del Val, para combater os vícios que nos afastam da vida em Cristo”.

Na saudação aos peregrinos em italiano, o papa renovou o seu apelo à paz. Assim, citou os casos da Ucrânia, Palestina e Israel e pediu para rezar “pelas vítimas dos recentes ataques contra locais de culto em Burkina Faso” e “pelo povo do Haiti, onde continuam os crimes e sequestros por gangues armadas.”