Hoje (18), no primeiro domingo da Quaresma, o papa Francisco concentrou seu discurso do ângelus na tentação de Jesus no deserto para destacar que é um convite a entrarmos no deserto proverbial para entrarmos "em contato com a verdade".

Ao observar que Cristo esteve na companhia de "feras e anjos" durante 40 dias no deserto, o papa refletiu que, quando entramos nessa simbólica "selvageria interior", também "encontramos feras e anjos".

Essas feras assumem um significado profundamente simbólico em nossa "vida espiritual", e assim "podemos pensá-las como as paixões desordenadas que dividem nosso coração, tentando tomar posse dele. Elas nos seduzem, parecem sedutoras, mas se não tivermos cuidado, corremos o risco de sermos dilacerados por elas", disse o papa aos quase 15 mil fiéis reunidos na praça de São Pedro.

Ao expandir essa ideia de "paixões desordenadas", o papa sugeriu que podemos concebê-las também como "os vários vícios", como "a ânsia de riqueza" ou "a vaidade do prazer".

"Elas devem ser domadas e combatidas, caso contrário devorarão nossa liberdade", enfatizou o papa.

Para enfrentar esses vícios que afligem a cada um de nós, o papa ressaltou que é preciso "ir ao deserto para tomar consciência de sua presença e enfrentá-los – e a Quaresma é o tempo de fazer isso".

O deserto tem sido destaque na série de catequeses do papa ao longo do ano e é o tema principal da mensagem do papa Francisco para a Quaresma de 2024, retirada do livro do Êxodo: "Através do deserto, Deus guia-nos para a liberdade".

Embora seja imperativo empreender este caminho de autoexame, o papa destacou que não estamos sozinhos: somos ajudados pelos anjos, que "são mensageiros de Deus, que nos ajudam, que nos fazem o bem".

"De fato, sua característica, segundo o Evangelho, é o serviço, o exato oposto da possessão, típico das paixões de que falamos anteriormente", continuou o papa.

Comparando o espírito de possessão com a virtude do serviço, o papa destacou que os anjos "recordam os bons pensamentos e sentimentos sugeridos pelo Espírito Santo", acrescentando que "enquanto as tentações nos separam, as boas inspirações divinas nos unem em harmonia, saciam o coração, infundem o sabor de Cristo, 'o sabor do céu' ".

"Assim, a ordem e a paz retornam à alma, para além das circunstâncias da vida, sejam elas favoráveis ou desfavoráveis. Mas também aqui, para captar os pensamentos e sentimentos inspirados por Deus, é preciso calar-se e entrar em oração", continuou o papa.

O papa pediu aos fiéis que examinem o que são essas "feras" pessoais em nossas próprias vidas, para que possamos "reconhecê-las, dar-lhes um nome, entender suas táticas". Desta forma, podemos "permitir que a voz de Deus fale ao coração e o conserve na bondade".

Hoje (18) à noite, o papa e os membros da Cúria Romana vão começar seu retiro espiritual pessoal para a Quaresma de 2024, que vai terminar na tarde da próxima sexta-feira (23).

Todas as audiências papais regularmente agendadas estão suspensas durante a semana.