O papa Francisco disse que a formação sacerdotal “dura a vida toda” e pediu aos seminaristas que não tenham medo e trabalhem sua maturidade emocional e humana, em audiência hoje (16), no Vaticano, a membros do seminário arquiepiscopal Alessio Ascalesi de Nápoles, Itália.

No início do seu discurso, o papa dirigiu-se a alguns casais que também participaram da audiência e disse que “na formação sacerdotal, precisamos da contribuição daqueles que escolheram a vocação do casamento”.

Ele agradeceu aos seminaristas a disponibilidade ao serviço da Igreja, incentivando-os a “cultivar a beleza da fidelidade a cada dia, com entusiasmo e dedicação, entregando as suas vidas ao contínuo trabalho do Espírito Santo, que os ajuda a assumir a forma de Cristo".

O papa fez referência ao “trabalho interior contínuo” daqueles que se preparam para o sacerdócio, lembrando-lhes que “a formação nunca acaba, dura a vida inteira”.

“Se você para, não fica onde está, mas volta”, disse Francisco.

Um canteiro de obras

Francisco comparou a preparação para o sacerdócio a um “canteiro de obras” e disse que “a Igreja é, antes de tudo, um canteiro de obras sempre aberto”.

“Permanece constantemente em movimento, aberta à novidade do Espírito, vencendo a tentação de preservar a si mesma e a seus próprios interesses”, disse.

Ele disse também que o essencial “da Igreja em ação é caminhar na companhia do Crucificado Ressuscitado, levando aos homens a beleza do seu Evangelho”.

A “arte do discernimento”

Segundo Francisco, “isto é o que o caminho sinodal nos ensina”, que por sua vez é “o que a escuta do Espírito e dos homens do nosso tempo nos pede”.

Por isso, exortou os seminaristas a serem servidores que saibam “adotar um estilo de discernimento pastoral em cada situação, sabendo que todos, clérigos e leigos, estão em marcha em direção à plenitude e são operários da mesma obra em construção”.

Ele também disse que não podemos “oferecer respostas rígidas e pré-fabricadas à complexa realidade de hoje, mas devemos investir nossas energias anunciando o essencial, que é a misericórdia de Deus, e manifestando-a através da proximidade, da paternidade, da mansidão, refinando a arte do discernimento”.

Francisco voltou à ideia de que o “caminho da formação ao sacerdócio” é um canteiro de obras e disse que “é necessário estar atento para não cometer o erro de se sentir superior e de se considerar pronto diante dos desafios”.

“A formação sacerdotal é um canteiro de obras no qual cada é chamado a se dedicar através da verdade, para permitir que seja Deus quem construa ao longo dos anos a sua obra”, disse.

"Não tenham medo"

Francisco pediu que não tenham medo de “permitir que o Senhor aja em suas vidas, o Espírito virá primeiro para demolir aqueles aspectos, aquelas convicções, aquele estilo e até mesmo aquelas ideias incoerentes sobre a fé e o ministério que impedem o seu crescimento segundo o Evangelho”.

“Então – continuou o papa – o mesmo Espírito, depois de limpar as falsidades interiores, lhes dará um coração novo, construirá as suas vidas no estilo de Jesus, os fará tornar-se novas criaturas e discípulos missionários”.

“Ele amadurecerá o seu entusiasmo através da cruz, como aconteceu com os Apóstolos. Mas não tenham medo: certamente pode ser um trabalho árduo, porém se permanecerem dóceis e verdadeiros, disponíveis à ação do Espírito sem se enrijecerem e se defenderem, descobrirão a ternura do Senhor dentro das suas fraquezas e na alegria pura do serviço", disse ele.

“Cavem fundo esse canteiro de obras que é a formação de vocês, 'fazendo a verdade' em si mesmos com sinceridade, cultivando a vida interior, meditando na Palavra, aprofundando no estudo das perguntas do nosso tempo e das questões teológicas e pastorais”, aconselhou o papa.

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Ele também pediu que trabalhem a maturidade emocional e humana, pois, segundo ele, “sem isso, não se vai a lugar algum!”.

Por fim, disse que a estrutura do seminário é como “um grande canteiro de obras” e lembrou que está em curso um processo que inclui novas perguntas e novas respostas sobre a formação sacerdotal,

“Os itinerários de formação estão passando por muitas transformações, à escuta dos desafios que aguardam o ministério sacerdotal e que exigem compromisso, paixão e criatividade saudável por parte de todos”, acrescentou.

Ele também disse que “novas experiências pastorais e missionárias estão sendo vividas, com a intenção de promover uma inserção gradual na futura vida ministerial”, bem como processos para promover o amadurecimento individual.

Para o papa Francisco, “é bom acolher e examinar estes novos desenvolvimentos, vivendo-os como oportunidades de graça e de serviço, captando neles a presença de Deus”.

Quaresma, caminho de conversão e renovação

A propósito do início do caminho quaresmal, o papa Francisco encorajou-os a viver este tempo de conversão e de renovação e a deixarem-se “conquistar por Deus com renovado estupor, fundamento da vocação que se acolhe e redescobre especialmente na adoração e em contato com a Palavra; vivam com alegria a escolha pela sobriedade e evitando o desperdício”.

“Aprendendo – continuou – um estilo de vida que os capacitará a serem sacerdotes capazes de se doar aos outros e de estarem atentos aos mais pobres; não se deixando enganar pelo culto da imagem e da aparência, mas cuidando da vida interior”.

Ele também os convidou a “cuidar da justiça e da criação, questões atuais e candentes em sua terra, que espera palavras corajosas e sinais proféticos da Igreja a este respeito; viver em paz e harmonia, superando divisões e aprendendo a viver em fraternidade com humildade”.