Mama Antula, a leiga consagrada que foi elevada aos altares numa missa celebrada pelo Papa Francisco hoje (11) na basílica de São Pedro, no Vaticano.

Milhares de fiéis e religiosos chegaram ao templo logo pela manhã para participar da cerimônia que começou às 9h30 (horário de Roma).

O presidente da Argentina, Javier Milei, chegou à basílica com a delegação do país cerca de 20 minutos antes do início da Eucaristia. Depois de cumprimentar alguns dos mais de 500 argentinos presentes, ocupou o seu lugar numa das primeiras filas do lado direito do altar.

O papa e o presidente da Argentina tiveram um breve encontro antes do início da cerimônia. Francisco também cumprimentou a irmã do presidente, Karina Milei, secretária-geral da presidência. Milei abraçou o papa no final da cerimónia.

No início da Eucaristia, o prefeito do Dicastério para as Causas dos Santos, cardeal Marcello Semeraro, leu a biografia de María Antonia de la Paz y Figueroa, conhecida como Mama Antula e considerada “a mãe espiritual da nação”.

Na homilia lida em italiano, o papa disse que, “num contexto marcado pela miséria material e moral”, a nova santa “desgastou-se pessoalmente, no meio de mil dificuldades, para que muitas outras pudessem viver a mesma experiência”.

Assim, Mama Antula “envolveu inúmeras pessoas e fundou obras que perduram até hoje. Pacífica de coração, ela estava ‘armada’ com uma grande cruz de madeira, uma imagem de Nossa Senhora das Dores e um pequeno crucifixo no pescoço com uma imagem do Menino Jesus presa a ele”.

A santa argentina dizia que “a paciência é boa, mas a perseverança é melhor”, disse o papa, e pediu que o exemplo e a intercessão dela “nos ajudem a crescer na caridade segundo o coração de Deus”.

As lepras da alma

No dia em que a Igreja celebra o Dia Mundial do Doente, Francisco falou sobre “três causas da injustiça”, que definiu como “a lepra da alma”: o medo, o preconceito e a falsa religiosidade.

Ao refletir sobre o trecho evangélico, que trata de um leproso o Santo Padre disse que esta doença “ainda está associada a atitudes de marginalização” e advertiu que não é “uma coisa do passado".

“Quantas pessoas sofredoras encontramos nas calçadas das nossas cidades, e quantos medos, preconceitos e incoerências, mesmo entre aqueles que acreditam e professam ser cristãos, contribuem para feri-los ainda mais”, disse o papa.

Tocar e curar, como fez Jesus

Para “curar” estas doenças, o Papa Francisco propôs imitar o exemplo de Jesus, que “toca e cura”.

O Santo Padre sublinhou que o “caminho” de Jesus, que tocou o leproso mesmo sabendo que o poderiam rejeitar, “é o do amor que se aproxima do sofredor, que entra em contacto, que toca as suas feridas”.

Ele também observou que Deus “não permaneceu distante no céu, mas em Jesus tornou-se homem para tocar a nossa pobreza”.

 

“E diante da ‘lepra’ mais grave, a do pecado, não hesitou em morrer na cruz, fora dos muros da cidade, renegado como pecador, para tocar a nossa realidade humana até ao mais profundo”.

Ao mesmo tempo, o papa Francisco disse que isso “não é fácil” e que para o conseguir “devemos vigiar quando aparecem nos nossos corações os instintos contrários a tornar-se próximo e a tornar-se dom”.

Isto acontece, segundo o papa, quando “nos distanciamos dos outros para nos concentrarmos em nós mesmos, quando reduzimos o mundo ao recinto do nosso ‘estar bem’, quando acreditamos que o problema são sempre e apenas os outros”.

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“Nesses casos tenhamos cuidado, porque o diagnóstico é claro: é a ‘lepra da alma’, uma doença que nos torna insensíveis ao amor, à compaixão, que nos destrói através das ‘gangrenas’ do egoísmo, do preconceito. indiferença e intolerância.”

“Se não forem tomadas medidas imediatas, a infecção cresce e torna-se devastadora”, disse Francisco.

“É deixando-nos tocar por Jesus que nos curamos por dentro, no coração. Se nos deixarmos tocar por Ele na oração, na adoração, se permitirmos que Ele atue em nós através da Sua Palavra e dos sacramentos, o contato com Ele realmente nos muda, nos cura do pecado, nos liberta dos fechamentos, transforma além do que podemos fazer por nós mesmos, com nossos próprios esforços”.

Segundo o papa, as feridas devem ser apresentadas em oração: “Mas não uma oração abstrata, feita apenas de fórmulas repetitivas, mas uma oração sincera e viva, que deposita aos pés de Cristo as misérias, as fragilidades, as falsidades, os medos".

Para isso, exortou os fiéis a se perguntarem: Peço a Jesus que toque nas minhas “lepras” para que me cure?

Quando nos deixamos tocar por Jesus, disse o papa, “os tecidos do coração se regeneram; o sangue dos nossos impulsos criativos flui novamente carregado de amor; as feridas dos erros do passado cicatrizam e a pele dos relacionamentos recupera sua consistência saudável e natural”.

Dessa forma, “a beleza que temos, a beleza que somos, também retorna. Sentindo-nos amados por Cristo, redescobrimos a alegria de nos doarmos aos outros, sem medo nem preconceitos, livres de formas anestesiantes de religiosidade e despojados da carne de irmão. É assim que se fortalece em nós a capacidade de amar, além de qualquer cálculo e conveniência.”

Segundo Fancisco, “seria enganoso pensar que este milagre requer meios grandiosos e espetaculares para ser realizado, porque acontece principalmente na caridade oculta de cada dia”.

“Aquela caridade”, continuou, “que se vive na família, no trabalho, na paróquia e na escola; na rua, nos escritórios e nas empresas; aquela caridade que não procura publicidade e não precisa de aplausos, porque o amor é suficiente para o amor.”

Por fim, o papa exortou a praticar a “proximidade e a discrição”.

“Deus nos ama assim, e se nos deixarmos tocar por Ele, também nós, com a força do seu Espírito, podemos tornar-nos testemunhas do amor que economizar".