O secretário de Estado da Santa Sé, o cardeal Pietro Parolin, comentou ontem (12) sobre as reações variadas à declaração Fiducia supplicans em meio a uma grande reação das conferências episcopais.

“Este documento suscitou reações muito fortes; isso significa que foi tocado um ponto muito delicado, muito sensível; será necessária uma investigação mais aprofundada”, disse Parolin ontem (12) durante uma conferência na Accademia dei Lincei, em Roma.

O cardeal prosseguiu dizendo que “se estes fermentos servem para caminhar segundo o Evangelho para dar respostas ao hoje, estes fermentos também são bem-vindos”, reiterando que “a Igreja está aberta e atenta aos sinais dos tempos, mas deve estar fiéis ao Evangelho”.

Respondendo a um jornalista italiano se o documento era um erro, o principal diplomata da Santa Sé respondeu de forma sucinta: “Não entro nestas considerações; as reações nos dizem que tocou num ponto muito sensível."

O documento do Dicastério para a Doutrina da Fé publicado no último dia 18 de dezembro permitiu aos sacerdotes oferecer bênçãos não litúrgicas para casais em situações “irregulares” e uniões homossexuais, observando “que oferece uma contribuição específica e inovadora ao significado pastoral das bênçãos, permitindo uma ampliação e enriquecimento da compreensão clássica das bênçãos.”

“O que foi dito nesta declaração sobre as bênçãos de uniões homossexuais é suficiente para orientar o discernimento prudente e paternal dos ministros ordenados a este respeito. Assim, além das orientações fornecidas acima, não se devem esperar mais respostas sobre possíveis formas de regular detalhes ou aspectos práticos relativos a bênçãos deste tipo”, escreveu o prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé, o cardeal Víctor Manuel Fernández.

No entanto, após a reação generalizada das conferências episcopais na África e na Europa Oriental, e fortes denúncias de alguns dos principais bispos da Igreja, Fernández emitiu um comunicado de imprensa de cinco páginas em 4 de janeiro para fornecer esclarecimentos sobre o documento, escrevendo que a sua aplicação vai ocorrer “segundo os contextos locais e o discernimento de cada Bispo diocesano com a sua Diocese.”

“Em alguns lugares não existem dificuldades para uma aplicação imediata, em outros há a necessidade de não inovar nada enquanto se toma todo o tempo necessário para a leitura e a interpretação”, continuou Fernández na carta.

Uma das declarações mais fortes até agora veio do arcebispo de Kinshasa, na República Democrática do Congo, e presidente do Simpósio das Conferências Episcopais da África e Madagascar (SECAM, na sigla em inglês), o cardeal Fridolin Ambongo Besungu.

Em carta publicada na quinta-feira (11), Besungu sublinhou que os bispos africanos “reafirmaram fortemente a sua comunhão com o papa Francisco”, mas observou que Fiducia supplicans causou “uma onda de choque” e “semeou equívocos e inquietação nas mentes de muitos fiéis leigos, pessoas consagradas e até pastores”.

Em seu discurso ao clero de Roma, em 13 de janeiro, o papa fez comentários esclarecedores sobre o documento, afirmando que “a disposição sobre as bênçãos de uniões homossexuais diz respeito às pessoas, não às organizações. (…) Abençoamos as pessoas, não o pecado.”