O cardeal Robert Sarah reagiu à declaração Fiducia supplicans da Santa Sé que permite ao clero abençoar uniões homossexuais em determinados cenários, instruindo os fiéis a “responderem à confusão com a palavra de Deus” em reflexão no último sábado (6).

“Não nos opomos ao papa Francisco, mas opomo-nos firme e radicalmente a uma heresia que mina gravemente a Igreja, o Corpo de Cristo, porque é contrária à fé e à tradição católica”, escreveu Sarah em reflexão publicada no blog italiano Settimo Cielo.

Sarah, de 78 anos, é um bispo guineense que foi prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos da Santa Sé de 2014 a 2021.

“A verdade é a primeira das misericórdias que Jesus oferece ao pecador”, escreveu ele.

“A liberdade que devemos oferecer às pessoas que vivem em uniões homossexuais reside na verdade da palavra de Deus”, continuou ele. “Como poderíamos ousar fazê-los acreditar que seria bom e desejado por Deus que permanecessem na prisão do seu pecado?”

Embora os bispos em todo o mundo estejam divididos sobre a declaração, muitos bispos católicos em toda a África rejeitaram publicamente a controversa Fiducia supplicans.

No seu discurso, Sarah encorajou “todos os bispos a fazerem o mesmo” que as conferências episcopais dos Camarões, do Chade e da Nigéria ao proibir as bênçãos a uniões homossexuais.

Sarah observou que a declaração “não foi capaz de corrigir esses erros” da Igreja na Alemanha, onde a controvérsia sobre o Caminho Sinodal causou divisão na Igreja.

Em março de 2023, o Caminho Sinodal Alemão, um processo de reforma em curso realizado pela Conferência Episcopal Alemã (DBK, na sigla em alemão) e o Comitê Central de Católicos Alemães (ZdK, na sigla em alemão), uma espécie de sindicato de trabalhadores leigos da Igreja na Alemanha, aprovou rituais formalizados para bênçãos a uniões homossexuais. A declaração da Santa Sé permite “bênçãos espontâneas”, mas não litúrgicas.

Mas, na opinião de Sarah, a declaração da Santa Sé piorou as coisas.

“Além do mais, com a sua falta de clareza, apenas ampliou a confusão que reina nos corações e alguns até aproveitaram-na para apoiar a sua tentativa de manipulação”, escreveu Sarah.

Ele escreveu que “discussões vãs sobre o significado da palavra bênção” deveriam ser evitadas.

Embora tenha observado que as bênçãos para os pecadores são um dado adquirido, Sarah enfatizou que a Igreja “nunca pode desviar-se ao torná-las uma legitimação do pecado, da estrutura do pecado, ou mesmo da próxima ocasião de pecado”.

Ele também expressou preocupação de que a confusão provocada pela Fiducia supplicans pudesse “reaparecer” sutilmente no Sínodo da Sinodalidade em outubro deste ano.

Sarah refletiu que a Igreja deveria responder às uniões homossexuais com a misericórdia da verdade.

“O que dizer às pessoas envolvidas em uniões homossexuais? Como Jesus, ousamos a primeira das misericórdias: a verdade objetiva dos atos”, escreveu ele.

Sarah argumentou que abençoar uma união homossexual não é a resposta adequada.

“A única coisa a pedir às pessoas que estão numa relação contra a natureza é que se convertam e se conformem à palavra de Deus”, escreveu ele.

Sarah, que nasceu e cresceu na Guiné, recordou a instrução do papa Bento XVI à África para ser o “pulmão” espiritual da humanidade, em contraste com o niilismo, o materialismo e o relativismo que afetam o Ocidente.

“A Igreja da África é a voz dos pobres, dos simples e dos pequenos”, escreveu Sarah, observando que deve proclamar o Evangelho aos cristãos ocidentais que “acreditam ser evoluídos, modernos e sábios da sabedoria do mundo."

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“Portanto, não é surpreendente que os bispos da África, na sua pobreza, sejam hoje os arautos desta verdade divina face ao poder e à riqueza de alguns episcopados do Ocidente”, acrescentou o cardeal.