O papa Francisco reconheceu um milagre atribuído à irmã carmelita Ana de Jesus, filha espiritual de santa Teresa D’Ávila e amiga de são João da Cruz, mais de 400 anos depois de sua morte.

Em decreto assinado ontem (14), o papa Francisco autorizou a beatificação de Ana de Lobera y Torres (1545-1621), mais conhecida pelo nome religioso irmã Ana de Jesús, que ajudou a expandir as carmelitas descalças para a França e a Bélgica.

Ana ficou órfã aos nove anos e foi apresentada a santa Teresa na cidade espanhola de Toledo em 1559, que viu as virtudes de Ana e a convidou para ingressar nas carmelitas. Ana e Teresa criaram um vínculo forte e até partilharam uma cela no mosteiro de Salamanca enquanto Teresa escrevia o “Livro das Fundações”.

Depois da morte de Teresa, Ana reuniu todas as suas obras literárias e enviou-as a um frade para serem publicadas. Ela deu continuidade ao legado de Teresa fundando novos mosteiros na França, em Paris, Pontoise e Dijon, e em Bruxelas, na Bélgica.

Santa Teresa de Lisieux escreveu mais tarde em sua autobiografia espiritual “História de uma Alma” que Ana de Jesus lhe apareceu em sonho e lhe disse que em breve poderia ir para o céu: “Reconheci, sem a menor hesitação, a venerável Madre Ana de Jesus, fundadora do Carmelo na França. Tinha rosto bonito, de uma beleza imaterial.”

São João da Cruz escreveu o comentário de abertura do seu “Cântico Espiritual” a pedido da irmã Ana e confiou-lhe o documento enquanto estava preso em Toledo.

O papa Francisco avançou a causa de beatificação de Ana na festa de são João da Cruz, celebrada ontem (14).

O papa também reconheceu um milagre atribuído a um padre mexicano, o padre Moisés Lira Serafín (1893-1950), cuja intercessão curou um feto de hidropisia fetal em 2004, segundo a Santa Sé.

Lira serviu como sacerdote em meio à perseguição religiosa durante a Guerra Cristera no México. Ele expandiu seu apostolado clandestino em 1926, formando grupos de catequistas para encorajar os jovens na fé. Lira fundou a Congregação das Missionárias da Caridade de Maria Imaculada em 1934.

No decreto de ontem (14), o papa Francisco reconheceu o martírio de cinco padres e um seminarista.

O padre Luigi Carrara, o padre Giovanni Didonè e o padre Vittorio Faccin eram sacerdotes missionários xaverianos italianos na República Democrática do Congo e foram martirizados por guerrilheiros antirreligiosos na rebelião de Kwilu em 1964. O padre Albert Joubert, um padre diocesano local, filho de pai francês e mãe africana, foi morto junto com eles.

O papa também reconheceu o martírio de Ján Havlík, um seminarista eslovaco que foi preso e torturado pelo governo comunista e condenado a 10 anos de trabalho forçado em uma mina de urânio, onde fez um apostolado clandestino entre os presos até que sua saúde se deteriorou devido às duras condições de trabalho que levaram à sua morte em 1965.

O martírio do padre Giuseppe Rossi, um padre diocesano italiano morto por soldados fascistas em 26 de fevereiro de 1945, também foi reconhecido no decreto.

Com a aprovação papal das suas próximas beatificações, a irmã Ana de Jesus, o padre Moisés Lira Serafín, o padre Luigi Carrara, o padre Giovanni Didonè, o padre Vittorio Faccin, o padre Albert Joubert, o padre Giuseppe Rossi e Ján Havlík estão cada um a um passo de serem canonizados, o que exigirá um milagre atribuído à sua intercessão.

Três católicos do século XX também foram declarados veneráveis ​​no decreto. O papa Francisco reconheceu a virtude heróica de um pai de cinco filhos da Guatemala chamado Ernesto Guglielmo Cofiño Ubico (1899–1991), bem como o frei Alberto Beretta (1916–2001), um sacerdote e médico capuchinho italiano que serviu como missionário no Brasil por 33 anos, e Francesca Lancellotti (1917–2008), uma leiga italiana conhecida por seus dons espirituais.