“Reafirmamos que o desejo do povo pela permanência de dom José Azcona no território marajoara corresponde com o nosso”, escreveram os padres da prelazia do Marajó em nota publicada ontem (13) à noite nas redes sociais. Os padres também disseram ter pedido esclarecimentos à nunciatura apostólica no Brasil sobre a decisão de que o bispo emérito, dom José Luís Azcona Hermoso, deve deixar o território da prelazia.

Em um comunicado divulgado no sábado (9), assinado pelo administrador, o padre Kazimierz Antoni Skorki, a prelazia do Marajó informou que o núncio apostólico no Brasil, dom Giambattista Diquattro, ligou para dom Azcona informando que ele não poderia mais morar no território da prelazia, sem dizer quais seriam os motivos para essa decisão.

Segundo o jornal O Liberal, do Pará, dom Azcona deve deixar Marajó até janeiro, quando toma posse o novo bispo, dom José Ionilton Lisboa de Oliveira, nomeado pelo papa Francisco no início de novembro.

Dom José Luís Azcona nasceu em Pamplona, Espanha, em 28 de março de 1940. É religioso da Ordem dos Agostinianos Recoletos. Chegou ao Brasil em 1985. Foi bispo da prelazia do Marajó de 1987 a 2016. Mesmo após sua renúncia, continua vivendo na ilha do Estado do Pará.

Em 2009, denunciou casos de pedofilia e exploração sexual de crianças e adolescentes no Marajó por políticos e empresários locais. A denúncia deu origem à CPI da Pedofilia na Assembleia Legislativa do Pará e no Congresso Nacional.

Em 2019, no contexto do Sínodo da Amazônia, foi uma das vozes conservadoras a se manifestar. O bispo emérito não participou do sínodo no Vaticano, mas publicou diversos artigos com críticas ao Instrumentum Laboris, ao sínodo e ao documento final.

O bispo criticou a “ausência de Cristo Crucificado” no Instrumentum Laboris, o texto de trabalho do sínodo, chamando atenção para a ausência do elemento central do anúncio evangelizador no documento. Dom Azcona também alertou sobre nenhuma menção ao pecado nos povos indígenas no documento de trabalho e defendeu o celibato sacerdotal. Também alertou para o escândalo e a idolatria causados pelo uso de imagens de Pachamama em eventos no Sínodo da Amazônia.

Dom Azcona também criticou a Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM). Ele classificou a REPAM como uma “instituição de pensamento único” e disse que “isto é ameaçador até por ser um perigo para a liberdade de pensamento na Igreja da Amazônia. É uma Amazônia imposta”.

Depois do anúncio de que dom Azcona deveria deixar o território da prelazia do Marajó, fiéis fizeram diversas manifestações nas redes sociais e em diferentes locais da prelazia pedindo a permanência do bispo emérito.

Na nota publicada ontem, os padres da prelazia do Marajó disseram que se reuniram no encontro anual que fazem em Belém, “na presença fraterna de dom José Ionilton Lisboa de Oliveira-SDV, bispo nomeado para a prelazia do Marajó” em 3 de novembro. Eles manifestaram “solidariedade e apoio às manifestações em favor da permanência de dom José Luís Azcona Hermoso”.

Os padres disseram que enviaram uma carta à nunciatura apostólica no Brasil, “juntamente com dom José Ionilton, em espírito de comunhão”, pedindo “esclarecimentos sobre a decisão pela saída de dom José Azcona do território da prelazia do Marajó”. Também solicitaram “que tal decisão, para o bem dos fiéis, seja revista”.

Dom José Ionilton foi nomeado bispo de Marajó em 3 de novembro. Ele era bispo da prelazia de Itacoatiara (AM). Assumirá a prelazia do Marajó em 13 de janeiro de 2024.

Em 2018, foi eleito vice-presidente da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e, em 2021, assumiu interinamente a presidência da CPT. Atualmente, é secretário da REPAM-Brasil. Em 2019, ele participou do Sínodo da Amazônia, no Vaticano.