O papa Francisco destacou hoje (10) a importância de ouvir a Deus abraçando o exemplo de João Batista, "a voz de quem clama no deserto", durante sua mensagem do ângelus no segundo domingo do advento.

Embora o deserto seja "um lugar vazio, onde você não se comunica", ele foi um cenário importante para o ministério de João, pois representa um lugar de encontro onde podemos autenticamente "ouvir a Deus", disse hoje (10) o papa aos quase 25 mil fiéis reunidos na praça de São Pedro.

Notando que a imagem do deserto estéril como lugar de pregação pode "parecer duas imagens contraditórias", elas são de fato reconciliadas através da figura de João Batista, pois sua voz "está ligada à genuinidade de sua experiência e à clareza de seu coração".

O papa também observou que o deserto é um "lugar de silêncio e essencial, onde alguém não pode se dar ao luxo de se debruçar sobre coisas inúteis, mas precisa se concentrar no que é indispensável para viver".

O deserto não ocupa um lugar central no contexto bíblico, mas é uma alegoria para nós hoje como um lugar de contemplação, encontro com Deus, além de fornecer um exemplo sobre viver uma boa vida.

"Para prosseguir no caminho da vida, precisamos ser despojados do 'mais', porque viver bem não significa estar cheio de coisas inúteis, mas estar livre do supérfluo, cavar profundamente dentro de nós mesmos para nos apegarmos ao que é verdadeiramente importante diante de Deus."

"Somente se, por meio do silêncio e da oração, abrirmos espaço para Jesus, que é a Palavra do Pai, saberemos nos libertar da poluição das palavras vãs e da tagarelice", observou Francisco.

Depois do ângelus, o papa lembrou o aniversário da assinatura da Declaração Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas, em 10 de dezembro de 1948.

Ao observar que o documento de 30 artigos foi um divisor de águas que inaugurou novas normas e um conjunto universalizado de direitos fundamentais, ele alertou que há o risco de "retroceder".

"O compromisso com os direitos humanos nunca termina! A este respeito, estou próximo de todos aqueles que, sem proclamações, na vida concreta cotidiana, lutam e pagam pessoalmente para defender os direitos daqueles que não contam", exclamou o papa.

O papa também aproveitou para chamar a atenção para uma recente troca de prisioneiros entre os governos da Armênia e do Azerbaijão.

"Vejo com grande esperança este sinal positivo para as relações entre a Armênia e o Azerbaijão, para a paz no sul do Cáucaso, e encorajo as partes e seus líderes a concluir o tratado de paz o mais rápido possível", disse o papa.

A troca de prisioneiros, anunciada pelos dois governos na sexta-feira (8), teve dois azerbaijanos e 32 armênios trocados e foi um grande avanço nas relações entre os dois Estados desde que as tensões aumentaram na região de Nagorno-Karabakh, disputada pelos dois países, no início deste ano.

O papa encerrou seu apelo também implorando por paz ao entrarmos na época do Natal.

"Estamos caminhando para o Natal: será que poderemos, com a ajuda de Deus, dar passos concretos rumo à paz? Não é fácil, sabemos. Certos conflitos têm raízes históricas profundas. Mas também temos o testemunho de homens e mulheres que trabalharam com sabedoria e paciência para uma convivência pacífica".

"Sigam o exemplo deles! Todos os esforços devem ser feitos para abordar e eliminar as causas dos conflitos. E, enquanto isso, falando em direitos humanos, civis, hospitais, locais de culto devem ser protegidos, reféns devem ser libertados e a ajuda humanitária garantida", enfatizou Francisco.