O santuário de Fátima, Portugal, vai inaugurar no domingo (19), Dia Mundial dos Pobres, a obra “Jesus sem-teto” (Homeless Jesus), do escultor canadense Timothy Schmalz. Estátuas iguais já foram instaladas em diferentes locais no mundo, como no Vaticano e no Rio de Janeiro (RJ).

“Esta escultura de bronze fundido, da autoria de Timothy Schmalz, retrata de forma realística os sem-abrigo das cidades contemporâneas; Esta peça tem sido colocada em diferentes lugares do cristianismo, a fim de se denunciar este drama social”, disse o santuário de Fátima à Agência Ecclesia.

A escultura representa Jesus, em tamanho natural, como um sem-teto deitado em um banco, envolto em um fino cobertor, do qual despontam apenas os pés chagados. Schmalz disse que teve a ideia de fazer esta escultura depois de ver um sem-teto dormindo em um banco ao ar livre, no Canadá, no Natal.

Retratar Jesus em uma cena fictícia não faz parte da tradição iconográfica da Igreja. As primeiras imagens sacras da Igreja, que datam do século III, representam mais símbolos, como o Bom Pastor ou precursores d’Ele do Antigo Testamento, como a estrela de Balaão ou Jonas. Depois, jesus foi retratado como o Pantocrator. A partir do século XIII, teve início a tradição de representar diversas passagens da vida de Jesus contadas nos Evangelhos. Não há nas igrejas imagens em que Jesus representa algo ou alguém diferente do que ele foi.

Em 2016, uma escultura de “Jesus sem-teto” foi colocada durante a Semana Santa do Jubileu da Misericórdia no pátio de Santo Egídio, no Vaticano, na entrada dos escritórios da Esmolaria Apostólica. Uma cópia em formato reduzido da obra foi abençoada pelo papa Francisco em 2013, ao final de uma audiência geral. “Quando o Santo Padre viu a obra, tocou-a nos joelhos e nos pés e rezou. O papa Francisco está fazendo propriamente isso, aproximar-se dos marginalizados”, disse Schmalz na época.

No Dia Mundial dos Pobres de 2018, uma escultura de “Jesus sem-teto” foi inaugurada em frente à catedral metropolitana do Rio de Janeiro. A obra está presente também em países como Canadá, EUA, Espanha, Irlanda, entre outros.

A inauguração da obra no santuário de Fátima será no domingo, às 12h. O escultor Timothy Schmalz estará presente, além do bispo de Santarém e presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana da Conferência Episcopal Portuguesa, dom José Traquina, do reitor do santuário de Fátima, padre Carlos Cabecinhas, e do diretor do museu do santuário, Marco Daniel Duarte.

Timothy Schmalz tem várias outras obras com a mesma temática, como a escultura conhecida como “Jesus mendigo”, que fica na entrada do hospital Santo Spirito, em Roma, Itália. Essa peça é intitulada “When I was Hungry & Thirsty” (Quando eu tive fome e sede) é e baseada no capítulo 25 do evangelho de são Mateus, sobre o juízo final. Outras obras do artista baseadas no mesmo evangelho são “When I was a stranger” (Quando eu era um estranho), “When I was naked” (Quando eu estava nu), “When I was sick” (Quando eu estava doente) e “When I was in prision” (Quando eu estava na prisão) colocada do lado de fora da basílica de São Paulo Fora dos Muros, em Roma. Em todas elas, Jesus é representado nas situações às quais fazem referência.

Segundo o artista sacro Guto Godoy, que cursou Arquitetura e Arte para a Liturgia no Pontifício Ateneo Sant’Anselmo, em Roma, nem toda arte é adequada ao espaço litúrgico. “Em primeiro lugar”, disse, o espaço litúrgico “é um espaço sagrado, ou seja, separado daqueles espaços cotidianos. Um espaço aonde não se vai de qualquer modo ou para qualquer coisa. É um espaço destinado a uma ação específica: o louvor a Deus e a santificação do povo cristão”.

“Impera na mentalidade cristã, a ideia que o espaço e também a arte nele inserida estão a serviço da liturgia, quando, na verdade, o espaço é liturgia em pedras, vidros etc. A arte sacra é liturgia em cores e formas”, disse.

Por isso, ressaltou, “muitas vezes aquela arte que fica bem na praça ou na parede de casa ou em um museu, não encontra espaço dentro do espaço litúrgico, pois nele tudo deve manifestar o Mistério de Cristo celebrado e vivido pela comunidade cristã”.

Segundo Godoy, “com a liberdade concedida pela Igreja, é necessário julgar cada obra pelos elementos que a compõe e discernir se ela possui essa característica ou não”. O artista sacro disse que “uma bela obra de arte” que não possui as devidas características para o espaço litúrgico “pode e deve ser acolhida em outro espaço do complexo do templo, mas não dentro dele”.