A nova análise de um estudo que diz ser o maior levantamento nacional de padres católicos em mais de 50 anos mostrou, entre outras coisas, que os padres que se autodenominam “progressistas” estão praticamente “extintos” entre os graduados dos seminários nos EUA, com a grande maioria dos jovens ordenandos se autodenominando conservadores e ortodoxos.

Conduzido por The Catholic Project, um grupo de pesquisa da Universidade Católica da América em Washington, DC, o mais recente lançamento se centra na polarização, na dinâmica geracional e no impacto contínuo da crise dos abusos sexuais.

A primeira parte da pesquisa, divulgada em outubro, descobriu que, apesar dos níveis relativamente elevados de bem-estar pessoal e realização entre os padres como um todo, uma percentagem significativa de padres tem problemas de esgotamento, desconfiança no seu bispo e medo de serem falsamente acusados de má conduta.

O novo relatório de novembro destaca “vários temas que surgiram de uma análise mais detalhada dos dados quantitativos, bem como de um estudo cuidadoso dos dados qualitativos recolhidos nas entrevistas individuais com os padres”. O estudo usou respostas de pesquisas de 3.516 padres de 191 dioceses e eparquias nos EUA.

Os investigadores disseram que os padres que se autodenominam “liberais” ou “progressistas” praticamente desapareceram dos grupos de padres mais jovens e que os padres que se autodenominam “conservadores/ortodoxos” atingiram mais de 80% entre os ordenados após 2020.

A nova análise também descobriu que o tamanho diocesano tem um efeito sobre o quanto um padre confia no seu bispo, sendo os padres em dioceses menores mais propensos a confiar no seu bispo do que os padres em dioceses maiores. Os sacerdotes que se consideram no mesmo campo ideológico do seu bispo – seja política ou teologicamente – também tendem a confiar mais nele.

Padres ‘progressistas’ estão ‘extintos’

O relatório diz que isso mostra uma “divisão significativa” entre a auto-identificação política e teológica dos padres mais velhos versus os padres mais jovens.

“Simplificando, a parcela de novos padres que se consideram politicamente 'liberais' ou teologicamente 'progressistas' tem diminuído constantemente desde o Concílio Vaticano II e agora praticamente desapareceu”, diz o relatório.

“Mais da metade dos padres ordenados desde 2010 se consideram no lado conservador da escala. Nenhum padre pesquisado que foi ordenado depois de 2020 se descreveu como ‘muito progressista’”.

Os pesquisadores disseram que 85% do grupo mais jovem se descreve como “conservador/ortodoxo” ou “muito conservador/ortodoxo” teologicamente, com apenas 14% se descrevendo como “intermediários”.

O relatório também diz que quase 70% dos padres ordenados em meados e finais da década de 1960 se descrevem como um pouco ou muito “progressistas”. Dos ordenados em 2020, menos de 5% dos padres se descrevem dessa forma.

O Concílio Vaticano II e as revelações de 2002 sobre a crise dos abusos sexuais foram momentos decisivos, disseram os investigadores, com dados mostrando que os padres começaram em grande parte a se ver como mais “progressistas” depois do Vaticano II e mais “conservadores” depois de 2002.

As conclusões de The Catholic Project relativas à ideologia sacerdotal são compatíveis com outras pesquisas feitas com padres americanos nos últimos anos, uma das quais, em 2021, observou uma percepção crescente de jovens sacerdotes “mais teologicamente conservadores ou ortodoxos” em comparação com os seus colegas mais velhos.

Além disso, dois padres ligados aos seminários que falaram com a CNA, agência em inglês do grupo EWTN, ao qual pertence ACI Digital, disseram que os resultados da pesquisa se enquadram na sua própria experiência em relação à ideologia dos jovens que atualmente entram e se formam no seminário.

O reitor do seminário São João Paulo II em Washington, DC, padre Carter Griffin, disse que a maioria dos jovens que frequentam o seu seminário procuram ser “parte da solução… querem se colocar à disposição para as necessidades da Igreja”.

Ele também advertiu que os jovens que se autodenominam “ortodoxos” não têm necessariamente preferência por práticas “tradicionalistas”. Em vez disso, disse ele, os jovens que hoje entram no seminário procuram se tornar parte de algo maior do que eles próprios, pregando o Evangelho e servindo aos pobres em um contexto de total fidelidade à Igreja.

“Ninguém quer dar a vida por um ponto de interrogação… Acho que aqueles que vão se apresentar e que estão abertos à ideia de entrar no sacerdócio serão os que estão mais empenhados em garantir que sejam católicos e que concordam com tudo”, disse Griffin em entrevista à CNA.

O padre Griffin disse que os “homens que se apresentam agora para o sacerdócio são homens que realmente amam o Senhor e amam a Igreja. Eles acreditam nela. Eles acreditam que Ele a fundou. E, portanto, não há nenhum instinto de acreditar em outra coisa senão aquilo que a Igreja acredita, de ensinar o que a Igreja acredita”.

“Penso que muitos deles estão reagindo aos destroços do materialismo secular, e muitos deles viram o efeito desse materialismo, desse secularismo, nos seus pares. Eles viram pessoas presas no pecado e querem fazer a diferença no mundo. Eles querem ser pessoas que ajudam a trazer luz, alegria e esperança de volta a um mundo que parece tê-los perdido”.

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Sacerdote da diocese de Lafayette, Louisiana, e coordenador de formação intelectual no seminário Notre Dame em Nova Orleans, o padre Bryce Sibley disse à CNA que viu um fenômeno semelhante entre seus seminaristas. Segundo ele, observou um “desejo de certeza, para maior clareza, em um mundo onde as coisas parecem tão fluidas, tão caóticas e tão incertas”.

Sibley disse que a maioria dos jovens já está “do lado conservador” quando entram para o seminário, sendo que muitos foram formados por personalidades católicas conservadoras on-line. Ele disse que, em sua experiência, “não há ninguém” atualmente estudando em seu seminário que se descreva como “progressista”.

O padre Sibley, que foi ordenado em 2000, disse que a grande maioria dos seus colegas foram inspirados a entrar no seminário, pelo menos em parte, pelo exemplo do papa são João Paulo II. Ele disse que, em sua opinião, muitos padres mais velhos foram educados numa época em que havia “tal ênfase na pastoral, que as perspectivas intelectuais e ortodoxas foram simplesmente rejeitadas”.

Hoje, disse, a falta de “ortodoxia” nos ambientes de seminário é um problema menor do que no passado.