O prefeito do Dicastério para os Bispos da Santa Sé, o cardeal norte-americano Robert Francis Prevost, disse que “clericalizar as mulheres” não resolveria os problemas da Igreja Católica.

Ao ser questionado sobre os apelos à governança das mulheres na Igreja Católica, na coletiva de imprensa do sínodo ontem (25), o cardeal disse que “a tradição apostólica é algo que foi enunciado muito claramente, especialmente se quisermos falar sobre a questão da ordenação de mulheres ao sacerdócio”.

“Algo que também precisa ser dito é que ordenar mulheres – e algumas mulheres disseram isto de forma bastante interessante – ‘clericalizar mulheres’ não resolve necessariamente um problema, pode criar um novo problema”, disse Prevost aos jornalistas.

“E talvez precisemos olhar para uma nova compreensão ou uma compreensão diferente de liderança, poder, autoridade e serviço – acima de tudo serviço – na Igreja a partir das diferentes perspectivas que podem ser, se você quiser, trazidas para a vida da Igreja por mulheres e homens”.

O cardeal Prevost observou que a Igreja Católica não é uma imagem espelhada da sociedade e “precisa ser diferente”.

Ele disse que, só porque uma mulher pode ser presidente ou ter muitos tipos diferentes de papéis de liderança no mundo, não existe “um paralelo imediato para dizer: 'Na Igreja, portanto...'”.

“Não é tão simples como dizer: 'Sabe, nesta fase vamos mudar a tradição da Igreja depois de 2 mil anos em qualquer um desses pontos'”, disse.

Ao mesmo tempo, acrescentou, as mulheres estão continuamente assumindo novos papéis de liderança, tanto na Santa Sé como em outras partes da Igreja. Citou que o papa Francisco nomeou recentemente a irmã Simona Brambilla como secretária do Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica da Santa Sé.

“Penso que haverá um reconhecimento contínuo do fato de que as mulheres podem acrescentar muito à vida da Igreja em muitos níveis diferentes”, disse.

Os comentários de Prevost foram feitos depois que a agência de notícias Religion News Service informou que “uma 'coorte' de freiras que favorecem a ordenação feminina, e especialmente mulheres diaconisas, foi formada no sínodo... principalmente da América Latina e algumas da Europa”.

O papa Francisco reafirmou a impossibilidade de as mulheres se tornarem sacerdotes, ou mesmo diaconisas na Igreja moderna, em uma entrevista para um livro publicado na Itália esta semana.

“O fato da mulher não ter acesso à vida ministerial não é uma privação, porque o seu lugar é muito mais importante”, disse o papa.

“Os luteranos ordenam mulheres, mas ainda poucas pessoas vão à igreja. Seus sacerdotes podem casar, mas apesar disso não conseguem aumentar o número de ministros. O problema é cultural. Não devemos ser ingênuos e pensar que as mudanças programáticas nos trarão a solução”, acrescentou.

O presidente da Conferência dos Bispos Católicos dos EUA (USCCB) e arcebispo do ordinariado militar dos EUA, dom Timothy Broglio, também falou sobre o papel das mulheres na Igreja durante a coletiva de imprensa do sínodo.

Ao refletir sobre a “tremenda influência” que as irmãs religiosas tiveram na educação nos Estados Unidos e em outros lugares, Broglio disse: “Penso que a suposição de que, porque todos os papéis não são ocupados em todos os níveis pelas mulheres [e] que, portanto, elas não têm influência é falsa".

Nora Kofognotera Nonterah, professora de teologia em Gana, disse que durante sua experiência no Sínodo da Sinodalidade ela “se sentiu ouvida como leiga, como mulher e como africana em uma Igreja que… não teve a oportunidade de enriquecer ela mesma com a voz e a sabedoria das mulheres, dos leigos e dos africanos”.

Nonterah é uma das 54 mulheres que participam da assembleia sinodal este mês como delegadas votantes.

“Hoje em dia estou convencida de que a nossa Igreja deve estar disposta a sentar-se ao pé das mulheres, especialmente das mulheres leigas que são do sul global, para aprender como renovar a imaginação da Igreja”, disse Nonterah.