O papa Francisco disse que o Ocidente não deveria “exportar” o seu próprio “tipo de democracia” para outros países e mencionou as intervenções na Líbia e no Iraque como exemplos disso, segundo uma entrevista publicada recentemente.

As palavras do papa foram publicadas no jornal italiano La Stampa e retiradas de um livro lançado esta semana pelos jornalistas Francesca Ambrogetti e Sergio Rubin intitulado No sei solo: Sfide, risposte, speranze (Não estás sozinho: desafios, respostas, esperanças).

Em um trecho do livro, os autores perguntaram a Francisco sobre “as responsabilidades dos países mais desenvolvidos” em relação ao “caos” que outras nações vivem.

O papa Francisco respondeu que este caos se devia em parte ao “fracasso do Ocidente na sua tentativa de importar o seu próprio tipo de democracia” em alguns países.

“Pensemos na Líbia, que parece poder ser governada apenas por personalidades muito fortes como (Muammar al) Gaddafi”, disse. “Um líbio me disse que antes só havia um Gaddafi, mas agora têm cinquenta e três.”

Francisco também falou da guerra do Iraque, que descreveu como “uma verdadeira desgraça” e “uma das piores crueldades”. As forças lideradas pelos EUA derrotaram o exército iraquiano e o presidente Saddam Hussein, deixando um país afetado por uma violência sectária cada vez pior.

“Saddam Hussein certamente não era um anjinho, pelo contrário”, disse Francisco, “mas o Iraque era um país bastante estável”.

Francisco advertiu que não estava “defendendo Gaddafi ou Hussein”. No entanto, observou que depois desses conflitos houve “anarquia organizada e mais guerras”.

“É por isso que acredito que não devemos exportar a nossa democracia para outros países, mas sim ajudá-los a desenvolver um processo de maturação democrática segundo as suas características”, disse o papa. “Não começar uma guerra para importar uma democracia que o seu povo não possa assimilar”.

Alguns países, como os liderados por monarquias, continuou o papa, “provavelmente nunca aceitarão a democracia”, mas as nações podem “contribuir para uma maior participação”.

Embora tenha confessado ser “ignorante em relação à política internacional”, o papa disse que o surgimento do grupo terrorista Estado Islâmico (ISIS) indica “uma escolha infeliz do Ocidente”.

Ambrogetti é jornalista nascida na Itália, enquanto Rubin é argentino. Os dois colaboraram anteriormente no livro de 2014 O Papa Francisco: Conversas com Jorge Bergoglio. Rubin também escreveu uma biografia do papa Francisco.