Uma relíquia da Sagrada Cruz foi doada à catedral de São Carlos (SP) e será entronizada no próximo dia 17 de setembro no templo, onde ficará em exposição permanente para veneração dos fiéis. “Foi uma grande surpresa e, sem dúvida alguma, uma bênção de Deus. Acho que vai ser um marco na comunidade”, disse o pároco, padre Sandro Portela.

“A relíquia nos leva a perceber que a santidade é possível. Quando é relíquia de um santo, nos aproxima mais do mistério da vida doada, da santidade, da vida no céu. Agora, ainda mais quando é uma relíquia da Santa Cruz, na qual Nosso Senhor deu a vida pela nossa salvação”, disse o sacerdote à ACI Digital.

Para o padre Portela, é algo muito importante para “uma comunidade ter um pedacinho daquele madeiro no qual veio a salvação para a humanidade. Então, acho que é um encontro da nossa humanidade pecadora com a Salvação, com o mistério salvífico. O mistério salfívico de nosso Senhor Jesus Cristo passa pela sua entrega na cruz”.

A relíquia foi doada por Fábio Tucci Farah, perito em relíquias da arquidiocese de São Paulo e delegado brasileiro da International Crusade for Holy Relics (ICHR), organização sediada em Fátima, Portugal. Ele fundou o Oratorium Sanctus Ludovicus, um oratório privado que contém algumas relíquias, entre as quais a da Sagrada Cruz.

Farah tem como missão “resgatar um sacramental já esquecido e promover a reta devoção às sagradas relíquias” e, para isso, organiza “solenidades religiosas para aproximar os fiéis desses tesouros celestes”. Uma segunda etapa de sua missão é “a doação de algumas relíquias”, sendo a primeira delas à catedral de São Carlos. Esta corresponde à doação da “mais preciosa das relíquias, fragmentos da Cruz de Nosso Senhor, ladeada por outros da Coroa de Espinhos e da Sagrada Esponja”.

A escolha do templo que vai receber a relíquia “teve uma motivação pessoal”, revelou Farah à ACI Digital. “Em minha infância, eu costumava brincar no chão dessa catedral. E ali, pela primeira vez, ouvi o chamado do Pai. Há quase vinte anos, já na vida adulta, fui recebido de volta à Igreja pelas mãos do monsenhor Luiz Cechinato, o padre que rezava as missas na catedral em minha infância e hoje está sepultado em sua cripta. Para mim, a catedral de São Carlos é um sinal luminoso da Casa do Pai”, disse.

Segundo Farah, essas relíquias a serem doadas à catedral de São Carlos “possuem documento de autenticidade expedido em 23 de junho de 1860, em Roma, por dom Francesco Marinelli, sacristão de Sua Santidade. Isso significa que essas relíquias vieram diretamente do tesouro do papa Pio IX, beatificado por São João Paulo II”.

A relíquia da Sagrada Cruz

No século IV, “após o Concílio de Niceia, santa Helena [mãe do imperador Constantino], com quase 80 anos, partiu em peregrinação à Terra Santa. Segundo uma tradição piedosa, teria sonhado com a Cruz de Jesus Cristo. E desejava conhecer a terra em que Nosso Senhor havia pisado”, contou Farah.

Nesta viagem, disse Farah, “segundo historiadores eclesiásticos”, santa Helena “havia descoberto, ao lado do bispo Macário, em uma cisterna a leste do Gólgota, provas concretas do episódio central do cristianismo: a Vera Cruz, o Título e os Santos Cravos. A imperatriz-mãe teria lançado, então, a pedra fundamental para a construção do santuário mais importante do cristianismo, a Basílica do Santo Sepulcro”.

“Pelo relato de Sócrates, sabemos que a Cruz foi dividida. Uma generosa parte permaneceria ali, abrigada em um relicário de prata. E seria adorada por multidões de peregrinos nos séculos seguintes. Santa Helena também mandaria uma porção do Santo Lenho ao filho Constantino como sinal de bênção à futura Constantinopla. Pouco mais de dez anos após a incursão da imperatriz-mãe a Jerusalém, pedaços da Vera Cruz se espalharam pelo Império”, disse.

Segundo Farah, “em diversos santuários, as relíquias de Cristo se tornaram luzeiros celestes atraindo multidões de peregrinos”.

A data escolhida para a entronização da relíquia da Sagrada Cruz na catedral de São Carlos também tem um significado, devido à proximidade com a festa da Exaltação da Santa Cruz, celebrada em 14 de setembro.

“Quase trezentos anos após a descoberta de Santa Helena, os persas invadiram Jerusalém e roubaram a parte da Cruz ali custodiada. Felizmente, essa relíquia foi recuperada pelo imperador bizantino Heráclio, em 628 d.C. Em uma procissão solene, o monarca, descalço e sem coroa, devolveu a relíquia à Jerusalém. Foi a origem da festa de Exaltação da Santa Cruz”, contou Farah e acrescentou que “as relíquias serão entronizadas na catedral de São Carlos em uma procissão, recordando a devolução da Cruz roubada pelos persas”.

Segundo o padre Sandro Portela, “não há um rito próprio” de entronização da relíquia na igreja. “Mas, pensamos em fazer uma entronização com a leitura do documento de autenticidade da relíquia, depois será feita uma explanação sobre como a relíquia chegou à catedral. Depois, será feita a entronização com incenso, com um cerimonial. Ela será depositada sobre o altar, porque vai haver a missa. Ao final da celebração, haverá uma transladação até o local onde ela ficará para veneração dos fiéis”, disse o sacerdote.

O pároco da paróquia da catedral, “está sendo preparado um local com toda segurança, mas de forma que as pessoas possam ter contato visual com a relíquia o tempo todo”. O lugar escolhido foi abaixo da 13ª estação da via-sacra, a deposição da Cruz, que fica na entrada da capela do Santíssimo. “Ali pensamos em colocar a relíquia, para as pessoas terem essa ligação de que é a cruz de Cristo, mas que, ao mesmo tempo, Jesus é descido da cruz e logo em seguida, meditamos a sua ressurreição”.

No local onde ficará a relíquia, contou Fábio Farah, “uma placa recordará aos fiéis uma mensagem de são Paulo e a prece entoada por Heráclio ao devolver a Cruz à Jerusalém: ‘Ó Cruz mais resplandecente que o conjunto dos astros, célebre no mundo, tão amável aos homens, mais santa que tudo... Salve os que aqui estão, sob seu estandarte, para louvá-la’”.