O papa Francisco falou sobre homossexualidade durante o seu encontro com membros da Companhia de Jesus (jesuítas) em Portugal, e respondeu à questão de como a Igreja pode também acompanhar pastoralmente as “pessoas transexuais”.

No penúltimo dia da viagem apostólica a Portugal, 5 de agosto, o papa Francisco reuniu-se com os jesuítas do país e disse: “Vivemos numa sociedade ‘mundana’, o que me preocupa muito”.

Num diálogo aberto publicado por La Civiltá Cattolica hoje (28), o papa falou de vários temas com os jesuítas. Entre eles, a atitude “reacionária” no catolicismo, os “leigos clericalizados” em geral, que descreveu como “assustadores” e disse que quando foi cardeal participou num “Sínodo” que sofria de “censura curial que não deixava as coisas passarem”.

A Igreja e os homossexuais

Sendo eles virtuosos em outras áreas da sua vida, e conhecendo a doutrina, podemos dizer que estão todos em erro, porque não sentem, em consciência, que as suas relações são pecaminosas? E como podemos, em termos pastorais, agir para que estas pessoas se sintam, no seu modo de vida, chamadas por Deus a uma vida afetiva sã e que produza frutos?”, perguntou ao papa o jesuíta João, que trabalha num centro universitário em Coimbra.

“Penso”, respondeu o papa Francisco, “que o apelo dirigido a «todos» não tem discussão. Jesus é muito claro: todos. Os convidados não quiseram vir à festa. Por isso, ele disse para irmos às encruzilhadas e chamar todos, todos, todos. E para que fique claro, Jesus diz «sãos e doentes», «justos e pecadores», todos, todos, todos. Por outras palavras, a porta está aberta a todos, todos têm o seu espaço na Igreja. Como é que cada um o vive? Ajudamos as pessoas a viver de forma a poderem ocupar esse lugar com maturidade, e isto aplica-se a todo o tipo de pessoas”.

O “pecado da carne”

O papa disse que conhece em Roma um padre que trabalha com rapazes homossexuais e disse que “o tema da homossexualidade é muito forte, e a sensibilidade em relação a ele muda consoante as circunstâncias históricas. Mas o que não me agrada nada, de um modo geral, é que olhemos para o chamado «pecado da carne» com uma lupa, como fizemos durante tanto tempo em relação ao sexto mandamento. Se explorávamos os trabalhadores, se mentíamos ou fazíamos batota, não interessava, mas os pecados abaixo da cintura, esses sim eram relevantes”.

“Portanto, todos são convidados é esse o ponto. E a cada um deve ser aplicada a atitude pastoral mais adequada. Não podemos ser superficiais e ingênuos, forçando as pessoas a coisas e comportamentos para os quais ainda não estão maduras, ou não são capazes. Acompanhar espiritualmente e pastoralmente as pessoas exige muita sensibilidade e criatividade. Mas todos, todos, todos são chamados a viver na Igreja: nunca se esqueçam disso”.

O papa Francisco aproveitou a pergunta para falar das pessoas que se identificam como sendo do sexo oposto. “Uma freira de Charles de Foucauld, a irmã Geneviève, que tem oitenta anos e é capelã no Circo de Roma com duas outras irmãs, assiste às audiências gerais de quarta-feira. Vivem numa casa ambulante ao lado do Circo. Um dia fui visitá-las. Têm a pequena capela, a cozinha, a zona de dormir, tudo bem organizado. E essa freira também trabalha muito com raparigas transgênero. E um dia ela disse-me: «Posso levá-las à audiência?». «Claro!», respondi-lhe, «porque não?».

O papa Francisco disse aos jesuítas em Portugal que “vêm sempre grupos de mulheres transgênero” para se encontrar com ele no Vaticano. “A primeira vez que vieram, estavam a chorar. Perguntei-lhes por quê? Uma delas disse-me: «Não pensei que o Papa me pudesse receber!». Depois, após a primeira surpresa, habituaram-se a vir. Algumas escrevem-me e eu respondo-lhes por correio eletrônico. Todos são convidados! Apercebi-me de que estas pessoas se sentem rejeitadas, e isso é muito duro".

A transcrição completa em português do diálogo do papa Francisco com os Jesuítas de Portugal está disponível no portal dos Jesuítas em Portugal.

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