O cardeal americano Raymond Burke descreveu o Sínodo da Sinodalidade como uma “revolução” que pode causar “graves danos” à Igreja ao elogiar os autores do livro O caminho sinodal, uma caixa de Pandora.

 

No livro em forma de catecismo com 100 perguntas e respostas, Julio Loredo de Izcue e José Antonio Ureta tratam do “perigo iminente de construir uma nova Igreja, diferente da Igreja Católica como sempre existiu”.

 

Os autores são membros do Instituto Plínio Corrêa de Oliveira (IPCO).

 

Loredo e Ureta veem o sínodo sobre a Sinodalidade, um processo de três anos que começou em outubro de 2021 e irá terminar com duas assembleias gerais em Roma (a primeira de 4 a 29 de setembro de 2023 e a segunda em outubro de 2024), como um processo “revolucionário” que “retoma velhas heresias reiteradamente condenadas pelo magistério”.

 

A Santa Sé divulgou todo o processo, convocado sob o tema “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”, como uma oportunidade para a Igreja Católica refletir sobre sua própria vida e missão, e discernir como pode ser mais sinodal, caracterizada ouvindo, dialogando e participando. Para isso, foram realizadas consultas de opinião do “Povo de Deus” em nível diocesano, nacional e continental, com o objetivo geral de promover uma Igreja mais inclusiva, participativa e missionária.

 

Loredo e Ureta afirmam no comunicado de imprensa do livro que uma nova Igreja “sinodal” significa uma Igreja “democrática e participativa” que inclui todos, “particularmente 'minorias marginalizadas' como pessoas que se identificam como LGBT, casais não casados, pessoas que vivem em casamentos polígamos,” e está aberto à discussão sobre “a ordenação de mulheres ao sacerdócio, ou pelo menos ao diaconato”.

 

Os organizadores “procuram reconsiderar a doutrina da Igreja sobre homossexualidade e casamento e adulterar a forma de governo da Igreja, transformando-a em uma ‘pirâmide invertida’ cujo topo está abaixo da base”, acrescentam,.

 

Segundo os autores, “apesar de seu impacto potencialmente revolucionário”, o debate sobre o processo sinodal foi “limitado principalmente a ‘insiders’, e o público em geral sabe pouco sobre isso”.

 

“Não é uma agenda oculta, porque eles têm feito referências discretas aqui e ali sobre seus objetivos, mas é uma agenda discreta”, disse Ureta ao jornal National Catholic Register, do grupo EWTN, a que pertence ACI DIgital em 19 de agosto. “Nem mesmo os bispos com quem conversamos estão cientes de tudo o que está em jogo.” Ele disse que a intenção livro que escreveu com Loredo é “justamente alertar a hierarquia, os círculos da intelectualidade católica e os fiéis comuns sobre as serpentes e lagartos heterodoxos dentro da Caixa de Pandora que está sendo aberta”.

 

Em seus comentários de 19 de agosto, Loredo disse que o sínodo é obra de minorias radicais, e não, como afirmam os proponentes do sínodo, obra do Espírito Santo, e que eles estão avançando com as mesmas propostas que apresentaram desde a década de 1960. Ele também rejeitou a afirmação de que a participação inclui todos e é resultado de uma ampla consulta, observando que o envolvimento do “Povo de Deus” foi “bastante escasso: não mais de 3%” e que todos os documentos sinodais resultam de uma “complicado mecanismo burocrático de consultas entre o Vaticano, os bispos, alguns clérigos e um número mínimo de fiéis, geralmente do lado progressista”.

 

Na introdução do livro, eles exortam os fiéis, diante da situação atual, a não sucumbir às tentações do sedevacantismo, da apostasia ou da indiferença. Em vez disso, eles argumentam que “agora é o momento em que a Santa Madre Igreja precisa de filhos amorosos e destemidos para defendê-la contra inimigos externos e internos” uma vez que “Deus vai cobrar nossa responsabilidade”.

 

Uma ameaça revolucionária

 

O livro de 110 páginas é dividido em seis capítulos. Na introdução os autores explicam por que veem esse sínodo como uma ameaça revolucionária e dizem que “é um divisor de águas na história da Igreja e, especificamente, no atual pontificado”. Citando o vaticanista francês Jean-Marie Guenois, eles disseram que Francisco espera “transformar a Igreja piramidal, centralizada e clericalizada em uma comunidade mais democrática e descentralizada”.

 

Eles alertam sobre o potencial precedente do Caminho Sinodal Alemão, que no início deste ano aprovou bênçãos para uniões de pessoas do mesmo sexo, o fim do celibato sacerdotal, e supervisão de leigos sobre os bispos. Eles citam dois ex-bispos anglicanos convertidos ao catolicismo, Gavin Ashenden e o padre Michael Nazir-Ali, e suas experiências do que os sínodos da Igreja da Inglaterra causaram.

 

Loredo e Ureta também argumentam que o Sínodo sobre a Sinodalidade “se baseia em erros e heresias antigas”, como o conciliarismo, que no século XV defendia a redução do poder hierárquico do papa em favor de uma assembleia conciliar.

 

A intenção central, dizem eles, é “questionar a própria estrutura da Igreja” e a mudança proposta “é tão radical que os documentos sinodais falam de 'conversão', como se a Igreja estivesse no caminho errado e precisasse fazer uma inversão de marcha.” Citam também o cardeal Joseph Ratzinger, que denunciou tais tentativas de derrubar a hierarquia da Igreja como “uma ilusão” que “careceria de toda a legitimidade”, e que “a obediência a ela deveria ser recusada de forma decisiva e clara”.

 

No corpo principal do livro, procuram compreender o que realmente significa sinodalidade, se as suas conclusões são vinculantes, o que os organizadores realmente querem dizer com ouvir, e as desvantagens de confiar no “conceito moderno de ouvir”.

 

Em particular, eles argumentam que a “inclusão radical” é a chave para entender o Sínodo. Eles prevêem que isso mudará as estruturas da Igreja e citam o canonista da EWTN, padre Gerald Murray, que disse que isso levará ao descarte de certos ensinamentos morais fundamentais e, em vez disso, “tentará nos convencer de que abraçar a heresia e a imoralidade não é pecaminoso, mas sim uma resposta à voz do Espírito Santo”.

 

Loredo e Ureta então desvendam extensivamente o caminho sinodal Alemão e como eles dizem que ele influencia o sínodo universal. Eles apontam anomalias na atitude do papa Francisco em relação ao experimento alemão, que suas críticas são mais sobre o método do que sua substância, e observam que ninguém foi punido por formular proposições heterodoxas durante o processo universal.

 

Prefácio do cardeal Burke

 

Em seu prefácio ao livro, o cardeal Raymond Burke, prefeito emérito da Assinatura Apostólica, agradeceu a todos os que trabalharam nele “de forma tão diligente e excelente para formular as perguntas apropriadas e fornecer respostas idôneas”.

 

Ele elogiou a publicação por abordar “de forma clara e abrangente uma situação muito séria na Igreja de hoje”, que, “com razão, preocupa todos os católicos conscientes e pessoas de boa vontade, os quais constatam o dano evidente e grave que está sendo infligido ao Corpo Místico de Cristo”.

 

“A sinodalidade e seu adjetivo [sinodal] tornaram-se slogans por meio dos quais uma revolução está em curso, para mudar radicalmente a compreensão que a Igreja tem de si, de acordo com uma ideologia contemporânea que nega muito do que a Igreja sempre ensinou e praticou”, escreveu o cardeal Burke. “Não se trata de uma questão puramente teórica, pois esta ideologia já foi colocada em prática há alguns anos na Igreja na Alemanha, espalhando amplamente a confusão, o erro e seu fruto, a divisão – na verdade, o cisma –, prejudicando gravemente muitas almas.”

 

Ele acredita que “é de se temer, com razão, que a mesma confusão, erro e divisão se abatam sobre a Igreja universal” e “já começou a acontecer, por meio da preparação do Sínodo em nível local”. Somente a verdade de Cristo, a doutrina imutável e a disciplina da Igreja “lidar eficazmente com essa conjuntura, desmascarando sua ideologia oculta”, disse ele, “corrigindo a confusão mortal, o erro e a divisão que ela está propagando” e inspirando membros se convertam diariamente a Cristo.

 

Loredo e Ureta acrescentam que “amar a Igreja, a sagrada hierarquia e a civilização cristã” os obriga a denunciar “os erros desta reforma sinodal”.

 

Os autores terminam com uma súplica a Nossa Senhora “que não permita a desfiguração do Corpo Místico do seu Divino Filho” e “que apresse a restauração que prometeu em Fátima: ‘Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará!’ ”

 

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