O governo na Nicarágua mudou o nome da Universidade Centro-Americana (UCA) que expropriou dos jesuítas para "Universidade Nacional Casimiro Sotelo Montenegro", em homenagem ao líder estudantil sandinista morto em 1967.

Vídeos divulgados nas redes sociais na noite de quinta-feira (17), mostram vários homens removendo as letras que compunham o nome da UCA da fachada daquela que era considerada a mais importante universidade privada do país.

A perversa ditadura de Ortega-Murillo age sempre à noite como os ladrões e criminosos que são. Hoje estão retirando as letras da UCA. pic.twitter.com/09vNHENSdt

- Martha Patricia M (@mpatricia_m) August 18, 2023

Está circulando nas redes uma fotografia da bandeira da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), partido de esquerda ao qual pertence o presidente e ex-guerrilheiro Daniel Ortega, sendo hasteada dentro das dependências da universidade.

#LOULTIMO A bandeira do sangue e da morte na UCA. Ortega não promove a riqueza, ele a rouba. Ele não quer Pátria e Vida. Ele quer a Pátria e a Morte. Assim como em Cuba ou na Venezuela, na Nicarágua não existe um governo progressista, mas um POBRESSISTA que promove a pobreza e a miséria. pic.twitter.com/OUK1ECutRM

- Arturo McFields Yescas (@ArturoMcfields) August 18, 2023

Na quinta-feira (17), o Conselho Nacional de Universidades (CNU) havia decidido cancelar a autorização de funcionamento do centro de estudos católicos e aprovar a criação da nova universidade nacional, nomeando as autoridades da reitoria.

Arturo McFields Yescas, ex-embaixador da Nicarágua na Organização dos Estados Americanos (OEA), hoje exilado político por críticas feitas do regime, considera "lamentável" o que está sendo feito.

"Mudar o nome daquilo que você rouba, como quando um bandido rouba um carro, pinta e troca a placa, é promover antivalores. É isso que está sendo promovido nesta nova fase repressiva da ditadura", disse ele à ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI, na sexta-feira (18).

Casimiro Sotelo foi um líder estudantil da Universidade Centro-Americana, da qual foi expulso em 23 de julho de 1966 por suas atividades partidárias. Integrou também a direção nacional da FSLN, grupo guerrilheiro de esquerda que em 19 de julho de 1979 derrubou a ditadura de Somoza, comandada por Anastasio Somoza Debayle.

O biógrafo Kennett Morris escreveu em seu livro Unfinished Revolution: Daniel Ortega and Nicaragua's Struggle for Liberation (Revolução inacabada: Daniel Ortega e a luta da Nicarágua pela libertação) que Ortega "não era muito diligente em seus estudos" e "seu principal papel na universidade era apoiar seu amigo e colega Casimiro Sotelo para criar uma célula FSLN dentro dela".

Apesar de ter se unido à FSLN em 1963, Ortega ainda não ocupava posição de destaque nas fileiras do movimento guerrilheiro. Na época, ele era apenas um dos integrantes, ao contrário de Sotelo, que já ocupava cargos nas frentes estudantis.

Em 1967, Sotelo fez parte de uma delegação estudantil que viajou a Cuba para participar das conferências da Organização Latino-Americana de Solidariedade (OLAS), diz o jornal nicaraguense El Confidencial.

"Há pessoas que olham para Sotelo com sentimento de romantismo, como um jovem que sonhava com uma Nicarágua livre. Mas há uma diferença fundamental entre os jovens que hoje sonham com uma Nicarágua livre e Sotelo, porque faz parte de uma geração que acreditava que as armas eram a única forma de gerar uma mudança na Nicarágua", disse McFields à ACI Prensa.

Segundo McFields, o líder sandinista era “um jovem estudante que acreditava na mudança violenta na Nicarágua, depois de ter sido formado em Cuba com as ideias da ditadura cubana”.

"Ele acreditava nos princípios e antivalores da ditadura cubana, com mais de 64 anos no poder, durante os quais confiscaram mais de 360 colégios católicos, fecharam a Universidade Católica de Santo Tomás de Villanueva e se obstinaram na perseguição e na prisão de padres”, continuou.

Em 4 de novembro de 1967, Sotelo foi preso no bairro de Monseñor Lezcano, em Manágua, junto com outros três ativistas. Ele foi morto por um coronel da guarda Somocista.

McFields considera que o nome de Sotelo “não representa os princípios e valores de santo Inácio de Loyola, que eram amar e servir”.

"Este jovem não foi um herói, foi expulso da UCA e era amigo de Daniel Ortega, compartilhava as suas ideias. Era um jovem que queria uma Nicarágua livre da ditadura de Somoza através da morte e da violência", concluiu.

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A expropriação de todos os bens da UCA, fundada em 1960 pelos jesuítas, foi reprovada nacional e internacionalmente.

O fechamento da universidade, que deixou mais de 9,5 mil alunos sem acesso à educação, é o último ato de perseguição e repressão sofrido pela Igreja desde os protestos antigovernamentais de 2018 e que afetaram também outras instituições católicas e dissidentes.

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