O beato Giuseppe “Don Pino” Puglisi “foi até o fim no amor”, disse o papa Francisco em carta publicada antes do 30° aniversário do assassinato do padre siciliano pela máfia, ocorrido em 15 de setembro de 1993.

 

O beato foi baleado e martirizado por pistoleiros sob ordens do grupo mafioso siciliano Cosa Nostra em 15 de setembro de 1993, seu aniversário de 53 anos.

Puglisi nasceu em 15 de setembro de 1937, em uma família da classe trabalhadora em Palermo. Entrou no seminário aos 16 anos e foi ordenado sacerdote em 1960, aos 22 anos.

Como padre, era conhecido por se manifestar contra a injustiça, incluindo o comunismo, a máfia e os problemas dentro da Igreja.

O beato também se envolveu com paixão na pastoral juvenil e na promoção das vocações religiosas. Em 1990, foi transferido para a paróquia de San Gaetano, no bairro de Brancaccio, ocupado pela máfia.

A abordagem de Puglisi no bairro controlado pelo crime era a mesma: conquistar os jovens e ser um pastor para seu rebanho.

“O padre Puglisi não era um típico padre antimáfia. Ele não organizou comícios nem condenou publicamente a máfia”, disse dom Michele Pennisi, arcebispo de Monreale, ao National Catholic Register em 2013 . “[A] Máfia não vê esse tipo de padre como perigoso.”

Puglisi era considerado mais perigoso “porque educava os jovens”, disse Pennisi. Ele convencia os meninos do bairro a não roubar ou abandonar a escola e os incentivava a se afastar da máfia, que costumava usar crianças para traficar drogas e outros materiais ilícitos.

Puglisi pregou contra a máfia, proibiu-os de liderar procissões religiosas e até deu pistas às autoridades sobre suas últimas atividades em suas homilias. Foi revelado após sua morte que recebeu inúmeras ameaças contra a sua vida.

Em 15 de setembro de 1993, Puglisi foi capturado na rua e baleado no pescoço à queima-roupa por pistoleiros dirigidos pelos chefes da máfia local Filippo e Giuseppe Graviano.

Um dos assassinos, que posteriormente confessou o crime, revelou que as últimas palavras do padre foram: “Estava esperando por vocês”.

Puglisi foi declarado mártir pelo papa Bento XVI em 2012 e beatificado pelo papa Francisco em 2013.

 

“Seguindo o exemplo de Jesus, dom Pino foi até o fim no amor”, escreveu o papa Francisco em uma carta a dom Corrado Lorefice, arcebispo de Palermo, publicada ontem (20).

 

O sacerdote, «tinha os mesmos traços do manso e humilde 'bom pastor': os seus meninos, que conheceu um a um, são o testemunho de um homem de Deus que favoreceu os pequenos e indefesos, educou-os para a liberdade, amar a vida e respeitá-la”, escreveu o papa.

 

Em sua carta, o papa dirigiu-se aos sacerdotes da Sicília e os encorajou a “não se deter diante das muitas pragas humanas e sociais da hora atual, que ainda sangram e precisam ser curadas com o óleo da consolação e o bálsamo da compaixão”.

Francisco destacou a sabedoria “prática e profunda” do beato Pino Puglisi, resumida por seu frequente encorajamento de que “se cada um de nós fizer alguma coisa, então podemos fazer muito”.

“Que este seja o convite para que todos saibam superar os muitos medos e resistências pessoais e trabalhar juntos para construir uma sociedade justa e fraterna”, disse o papa.

O papa Francisco visitou a antiga paróquia de Puglisi em Palermo em 2018 para marcar o 25º aniversário do assassinato do beato.

“Possa o sorriso cativante do padre Pino Puglisi estimular-vos a ser discípulos alegres e audaciosos, disponíveis antes de mais nada para aquela constante conversão interior que vos torna mais disponíveis para servir os irmãos e irmãs, fiéis às vossas promessas sacerdotais e dóceis na obediência ao Igreja”, disse o papa Francisco em sua carta aos sacerdotes pelo 30º aniversário da morte de Puglisi.

“Vocês que sustentam diariamente as responsabilidades do ministério sacerdotal em contato com as realidades que habitam este território, sejam sempre e em toda parte uma verdadeira imagem do Bom Pastor acolhedor, tenham a coragem de ousar sem medo e infundir esperança em aqueles que encontras, especialmente os mais fracos, os doentes, os sofredores, os migrantes, os que caíram e querem ser ajudados a se levantarem”, disse.

“Os jovens serão então o foco do seu cuidado: eles são a esperança do futuro.”

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