Quando os participantes do Sínodo sobre a Sinodalidade se reunirem em Roma em outubro para refletir sobre como a Igreja Católica pode comunicar melhor o amor salvador de Jesus para toda a humanidade, um enorme contraste continental de opiniões estará em destaque. E a tensão pode ser resumida em duas perguntas opostas.

A missão de evangelização da Igreja pode ser realizada apenas descartando aqueles ensinamentos que contradizem o progressismo secular, como insistem os líderes do Caminho Sinodal Alemão e seus apoiadores em outras nações ocidentais ricas?

Ou esta nova evangelização só pode ser realizada se a Igreja continuar a proclamar sem medo o que sempre defendeu, como os líderes da Igreja em toda a África declaram coletivamente?

Um exemplo notável desses pontos de vista divergentes ocorreu em março, na sessão conclusiva do Caminho Sinodal da Alemanha. Naquele dia, a assembleia votou esmagadoramente a favor das bênçãos a uniões do mesmo sexo, em flagrante desrespeito à recente advertência da Santa Sé de que essas bênçãos são inadmissíveis pela simples razão de que Deus “não abençoa e não pode abençoar o pecado”.

Ouviu-se uma voz africana corajosa e sensata na oposição. “Os católicos da África são estritamente contra as uniões homossexuais… por isso considero esse um tema para a Igreja universal”, disse Emeka Ani, presidente do Conselho Pastoral Federal para Católicos com Outras Línguas e Ritos Maternos do país. “As pessoas olham para a África e acredito que é por isso que o Sínodo sobre a Sinodalidade rejeitará esse tema”, acrescentou.

Os líderes do Caminho Sinodal pensam o contrário, no entanto. Eles estão pressionando para que o próximo sínodo dê luz verde às suas ações sobre as bênçãos a uniões homossexuais, a ordenação de mulheres e a democratização da governança da Igreja. Apoiadores como o bispo de San Diego, cardeal Robert McElroy, expressaram abertamente a esperança de que isso, por sua vez, facilite a implementação das mesmas agendas dissidentes nos EUA e em outros países.

O choque entre as perspectivas africana e alemã sobre essas questões não é uma novidade.

Na época dos Sínodos da Família de 2014 e 2015, os líderes da Igreja africana estavam na vanguarda da resistência quando a Igreja na Alemanha fez lobby por suas agendas secularistas. Depois que os africanos se mobilizaram em defesa da ortodoxia, o cardeal alemão Walter Kasper reclamou que els “não deveriam nos dizer muito o que devemos fazer” quando se trata de questões envolvendo sexualidade e casamento. Ele também atribuiu a resistência africana à aceitação da homossexualidade como decorrente principalmente de um “tabu” cultural, e não de uma determinação coletiva de ser fiel ao ensinamento moral católicos estabelecido.

É verdade que, mesmo antes da influência do cristianismo, as culturas africanas preexistentes estavam ligadas a uma compreensão tradicional da família, incluindo forte oposição à atividade homossexual. Mas os fortes valores familiares dos africanos devem ser vistos como um ativo, não como um passivo.

Podemos ser gratos por esse aspecto positivo da cultura africana, mesmo reconhecendo os profundos problemas sociais que continuam a prevalecer em grande parte da África. E na área específica da homossexualidade, as crenças culturais tradicionais às vezes contribuíram para políticas extremistas em algumas nações. Tais políticas contradizem o que a Igreja ensina sobre respeitar a dignidade das pessoas atraídas pelo mesmo sexo e rejeitar todas as formas de discriminação injusta contra elas.

Também é verdade que em muitos lugares ainda há um trabalho considerável a ser feito para melhorar a formação dos católicos membros das relativamente jovens Igrejas locais do continente.

No entanto, o que mais impressiona no rebanho africano são duas bênçãos inegáveis: sua vitalidade juvenil e seu fervor evangélico para anunciar o Evangelho, mesmo no contexto de perseguições intensas e às vezes mortais.

Em contraste com as congregações ralas e grisalhas presentes aos domingos em muitas das igrejas na Alemanha e em outros países da Europa ocidental, as missas nas nações africanas estão cheias de católicos jovens e exuberantes que estão ansiosos para adorar a Deus com reverência durante suas liturgias e depois espalhar a amor de Jesus no serviço aos outros.

Aqui nos EUA — onde, ao contrário da Alemanha, a grande maioria dos líderes de nossa Igreja não abraçou as agendas secularistas dissidentes — podemos ser gratos e também inspirados por esse destemido testemunho da fé africana. É o tipo de dinamismo que impulsionará a Igreja do modo imaginado pelo papa são João Paulo II, pelo papa Bento XVI e pelo papa Francisco, o trio de papas que compartilharam a responsabilidade de iniciar a era da nova evangelização inaugurada pelo concílio Vaticano II.

Uma das manifestações mais inspiradoras desta nova era na vida da Igreja foi a Jornada Mundial da Juventude. Como sempre, a última versão do evento em Lisboa, que terminou em 6 de agosto, testemunhou a realidade de que um grande número de jovens de todo o mundo continua a ser animado por seu encontro sacramental com Jesus Cristo. Fortalecidos pela bênção de nossos irmãos e irmãs africanos na fé, devemos orar para que esse mesmo compromisso evangélico também seja o espírito predominante no Sínodo sobre a Sinodalidade de 2023.

Deus os abençoe!

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