O papa Francisco deixou aos líderes das outras religiões com que se reuniu em Lisboa a mensagem de “nos darmos as mãos, numa sociedade em que tudo parece ser comprado, vendido e trocado, para criar certas coisas que são inegociáveis como a abertura à transcendência, abertura a Deus, o respeito pela dignidade humana e atenção aos mais pobres”, disse à ACI Digital o padre Peter Stilwell.

Stilwell é diretor do Departamento das Relações Ecumênicas e do Diálogo Inter-Religioso do Patriarcado de Lisboa e foi o organizador do encontro do papa Francisco com representantes de outras confissões cristãs e outras religiões na manhã de hoje (4), no âmbito da Jornada Mundial da Juventude JMJ Lisboa 2023.

O encontro reuniu 17 lideranças de confissões cristãs como a igreja anglicana de Portugal, a aliança evangélica de Portugal, do islã, do judaísmo, do budismo, do hinduísmo, e do taoísmo, religiões presentes no país graças às comunidades de migrantes.

Também participaram da reunião José Vera Jardim, do Partido Socialista, um dos principais responsáveis pela Lei de Liberdade Religiosa de Portugal, aprovada em 2001, o reitor da Universidade de Lisboa, Luís Ferreira, e o embaixador de Israel em Portugal, Dor Shapira.

O reitor teve a ideia de plantar seis árvores no Jardim Botânico Tropical “para simbolizar seis grandes famílias humanas: o taoísmo, hinduísmo, budismo, judaísmo, cristianismo e islã”, disse o padre Stilwell. O embaixador de Israel “se empenhou para trazer duas oliveiras de Jerusalém para simbolizar o judaísmo e o cristianismo”.

O padre conta que logo no início da preparação da JMJ Lisboa 2023 pediram a ele que cuidasse da dimensão ecumênica e interreligiosa do evento. “Nessa altura expliquei ao senhor patriarca (de Lisboa, dom Manuel Clemente) e a dom Américo (Aguiar, bispo auxiliar de Lisboa e presidente da Fundação JMJ Lisboa 2023) que achava importante que houvesse um encontro do papa com os líderes das outras comunidades”.

“Não seria nada de extraordinário, porque era na linha do seu magistério”, disse Stilwell. “Esse empenho em que as religiões se encontrem e se deem as mãos como irmãs para contribuírem para o bem-estar da humanidade e fraternidade”.

Francisco fez um discurso, cumprimentou cada uma das lideranças e falou mais demoradamente com o bispo ortodoxo de Lisboa que “fez questão em parar um momento e expor essa questão da Ucrânia que pra ele é uma questão profunda, porque na sua comunidade ortodoxa, ele tem ucranianos aqui em Portugal, tem russos é, portanto, dentro da comunidade, uma ferida aberta” a guerra na Ucrânia.

“E eu vi que o papa se emocionou com ela com essa partilha”, disse Stilwell.

Para o padre, a jornada “tem esse condão” de unir pessoas diferentes. “As pessoas vêm de culturas diferentes, com línguas diferentes, com experiências de igrejas diferentes”, disse.

Para ele, o importante é que esse encontro não seja simplesmente “o papa lá em cima e eu no meu pequeno grupo”.

Stilwell disse esperar que haja um intercâmbio entre grupos de maneira que as pessoas “nas várias iniciativas do festival da Juventude se vão cruzando, vão percebendo várias maneiras de celebrar, maneiras de festejar, maneiras de viver a fé e que se vão enriquecendo com isso. E com isso, voltando para casa, pode ser que possam ver com outra perspectiva aquelas divisões que às vezes existem na igreja. Entre a gente que é mais conservadora, gosta de celebrar a missa desta maneira, outros gostam de celebrar daquela. Que não se excluam uns aos outros porque que somos irmãos”.

“Temos sensibilidades diferentes, mas que se tentarmos compreender o que que move os outros naquilo que é a sua procura de Deus, e de fidelidade a Jesus Cristo, pode ser que a gente aprenda alguma coisa”, disse o padre Stilwell.

 

 

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