“Tem um monte de coisa que temos que discutir dentro da escola porque a criança pode mudar a cabeça do pai”, disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ontem (31), na cerimônia da sanção da lei que institui o Programa Escola em Tempo Integral, no salão nobre do Palácio do Planalto, em Brasília (DF).

Lula enfatizou que as crianças devem discutir nas escolas temas como “a questão do clima”, senão elas “não ajudam a educar os pais dentro de casa”. O presidente também disse que as crianças podem mudar “a cabeça” dos pais, “se a criança for orientada pra isso”.

“A fala do presidente é preocupante, uma vez que sugere uma visão autoritária e manipuladora do papel da escola na formação das crianças”, disse à ACI Digital Andreia Medrado Serrano, educadora do Estado de São Paulo e membro do Movimento Brasil Pela Educação. “Essa afirmação apoia a ideia de que é aceitável usar a educação para doutrinar e influenciar crianças com o objetivo de modificar as opiniões e valores de seus pais, o que é inaceitável, para dizer o mínimo, em uma sociedade sã”.

Para Serrano, o que o presidente Lula diz “é exatamente igual ao que propuseram grandes ditadores, que historicamente utilizaram a educação como uma ferramenta de controle social e manipulação ideológica para perpetuar regimes autoritários”

“Governantes autoritários frequentemente buscaram doutrinar jovens por meio de sistemas educacionais enviesados para criar uma geração que apoiasse e sustentasse suas agendas políticas. Se juntarmos a essa fala, a atual estrutura educacional do país, de preocupados passamos a ficar assustados, pois temos um currículo engessado e professores que, em sua maioria, não agem conforme a pluralidade de ideias, mas impõem suas visões e teorias às crianças.  Ou seja, todo um ambiente propício e acolhedor para uma declaração desse nível. Não é à toa que os pais têm se levantado contra esse movimento que tenta transformar a educação em instrumento de doutrinação político-ideológica”, frisou Serrano.

Além disso, a fala do presidente reforça “a rivalidade entre escola e família, coisa que jamais deveria acontecer”.

“A escola, que deve ser auxiliar da família e ajudar a conduzir o aluno à aquisição do conhecimento, passa a antagonizar com os pais, e vai além: ela não só quer o papel dos pais, mas quer moldar o comportamento e as ações das crianças. Essa usurpação de competência tem acontecido há algum tempo. Contudo, a primazia da educação das crianças é da família e o Estado deveria trabalhar para que houvesse uma comunhão entre elas, não a guerra aparentemente declarada pelo presidente”, ressaltou.

“Quando falamos em educação, sempre entendemos que ela deve ser ordenada à necessidade do aluno”, disse a educadora. “O que temos visto - e a fala do presidente reforça isso - é que a educação parece ser sempre reordenada de acordo com a corrente política que ocupa o Planalto, reordenada de acordo com a necessidade do mercado de trabalho. E o aluno, que deveria ser, de fato, aquele a quem a educação está ordenada, vira somente uma cobaia nas mãos dos governos e seus acordos”, enfatizou Medrado.

Segundo o Ministério da Educação, o Programa Escola em Tempo Integral é um plano nacional destinado a todos os Estados e municípios que podem aderir e alcançar “a Meta 6 do Plano Nacional de Educação (PNE)”, que determina a oferta de “educação em tempo integral em, no mínimo, 50% das escolas públicas, de forma a atender, pelo menos, 25% dos (as) alunos (as) da educação básica”. O programa visa ampliar o ensino em tempo integral nas escolas em que a jornada escolar seja igual ou superior a 7 horas diárias ou 35 horas semanais.

O Governo Federal irá investir R$ 4 bilhões no programa e espera que neste ano, ele seja ampliado em 1 milhão de matrículas de tempo integral nas escolas de educação básica do Brasil.  A expectativa do governo é alcançar cerca de 3,2 milhões de matrículas até 2026.

A escola em tempo integral é uma realidade, pode ter certeza de que ela veio para ficar. Nós vamos fazer muitas escolas nesses próximos três anos, porque queremos que a escola seja um encontro com a felicidade para uma criança", disse Lula hoje (1), no seu programa semanal "Conversa com o Presidente"

 

 

 

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