O bispo de Winona-Rochester, EUA, dom Robert Barron, analisa três dilemas morais no filme Oppenheimer, do diretor Christopher Nolan, que ontem (10) conquistou sete prêmios no Oscar 2024.

Na cerimônia do Oscar 2024, em Los Angeles, Oppenheimer ganhou prêmios como: melhor filme, melhor diretor (Christopher Nolan),, melhor ator (Cillian Murphy), melhor ator coadjuvante (Robert Downey Jr.), melhor trilha sonora (Ludwig Göransson), melhor fotografia (Hoyte van Hotema) e melhor edição (Jennifer Lame).

O filme Oppenheimer é baseado em American Prometheus, biografia de J. Robert Oppenheimer, físico que foi fundamental na criação da bomba atômica, escrita em 2005 escrita por Kai Bird e Martin J. Sherwin.

Também atuam no filme Emily Blunt, que interpreta a mulher de Oppenheimer, Matt Damon, como o general Leslie Groves, Casey Affleck e Rami Malek, entre outros.

“Nolan não idolatra Oppenheimer, mas o apresenta com coerência como um personagem ambíguo, um homem atormentado por seus próprios demônios, inimigos externos e dilemas morais. Parece-me que o rosto carrancudo de Oppenheimer evoca os conflitos profundos que persistem na consciência do Ocidente”, diz dom Barron no artigo “O cenho de Oppenheimer”, publicado em 25 de julho de 2023.

1. Capacidade intelectual x excelência moral

O primeiro dos dilemas morais de que fala dom Barron está relacionado “à ciência e aos cientistas. No mundo antigo, o personagem mais admirado provavelmente era o filósofo; no contexto medieval, o santo; na era moderna, o guerreiro ou o proprietário de terras rico. Mas em nosso ambiente contemporâneo, parece não haver dúvida de que o cientista ocupa o primeiro lugar”.

“Com base em um instinto bastante profundo, tendemos a não buscar sabedoria em estudiosos, políticos ou líderes religiosos, mas em profissionais da ciência exata”, acrescenta.

Para Barron, “Nolan apresentou todas essas personalidades em sua genialidade e celebrou suas conquistas, mas não as canonizou nem as apresentou como exemplos morais. Heisenberg, ficamos sabendo, trabalhou para os nazistas; Teller era um traidor; Oppenheimer era egocêntrico e desleal; etc. Há uma distinção nítida entre perspicácia intelectual e excelência moral e, em nossa cultura, muitas vezes confundimos a primeira com a segunda.

2. O que pode e o que deve ser feito

O segundo tema central do filme de Oppenheimer, continuou o bispo, "é a tensão entre o que pode e o que deve ser feito".

Com a ajuda de seus colegas, “Oppenheimer demonstrou que uma bomba de poder destrutivo épico poderia ser criada e, em vista do resultado inicial do ataque a Hiroshima, ele ficou eufórico. Mas ele começou a se preocupar se essa arma hedionda deveria ter sido usada”.

“Quando ele visita o presidente Truman, ele comenta com verdadeira dor, que sente que tem sangue nas mãos. A doutrina social da Igreja respalda a reserva de Oppenheimer sobre os bombardeios atômicos, que resultaram na morte de mais de cem mil pessoas inocentes, violando claramente o princípio da discriminação, que estabelece que em qualquer ato de guerra deve ser feita uma distinção entre combatentes e não combatentes”, disse dom Barron.

“Enquanto muitos dos personagens do filme, incluindo uma versão reconhecidamente caricatural de Harry Truman, apresentam a conhecida justificativa consequencialista de que o ataque salvou vidas a longo prazo, a doutrina católica nunca toleraria fazer algo inerentemente errado para se obter um bem”, continua.

3. Lealdade aos EUA e o comunismo

“Um terceiro tema para o rosto carrancudo de Robert Oppenheimer é a tensão entre sua lealdade à América do Norte e sua associação com o comunismo”, continua ele.

Em sua opinião, parece que para Hollywood "ser comunista é genial e de vanguarda, equivalente a uma devoção romântica aos pobres e desfavorecidos - e essa atitude é compartilhada hoje por um número alarmante de jovens em nosso país".

No entanto, lembra o bispo de Winona-Rochester, "a ideologia marxista-leninista produziu miséria econômica e montanhas de cadáveres em todos os lugares onde foi implementada e, portanto, nenhuma pessoa responsável no século XXI deveria ter o menor apreço por ela".

Para concluir, Barron disse que “Oppenheimer é um bom filme, e o próprio Oppenheimer, em sua inteligência, sua paixão, seus defeitos profundos, é um personagem cativante. Mas o que eu mais levo do filme é o seu cenho”.