O patriarca de Lisboa, cardeal Manuel Clemente, recordou hoje (1) na missa da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) Lisboa 2023, que quando falou com o papa Francisco sobre o tema desta jornada, ‘Maria levantou-se e partiu apressadamente’, Francisco destacou a diferença entre partir com pressa e com ansiedade.

“Quando disse ao papa Francisco que era este precisamente o lema da nossa Jornada [...], ele logo acrescentou que sim, apressadamente mas não ansiosamente. Na verdade, a ânsia é do que ainda não temos e pretendemos inquietos. A pressa é diferente, é partilhar o que já nos leva. Por isso é uma urgência serena e sem atropelo”.

O patriarca lembrou um trecho da carta de são Pedro sobre os primeiros cristãos, em uma “sociedade que demorava em entendê-los: ‘no íntimo do vosso coração, confessai Cristo como Senhor, sempre dispostos a dar a razão da vossa esperança a todo aquele que vo-la peça; com mansidão e respeito, mantendo limpa a consciência…’ (1 Pe 3, 15-16)”.

“Assim estareis vós, nesta pressa sem ansiedade, como quem partilha o que vai tendo. O que vos trouxe aqui e levareis acrescentado pela graça destes dias”, disse.

Logo ao início de sua homilia, o cardeal deu as boas-vindas a “todos”, “também na amplitude ecumênica, inter-religiosa e de boa vontade que estes dias têm e congregam”. “Desejo que vos sintais ‘em casa’, nesta casa comum em que viveremos a Jornada Mundial da Juventude”, disse.

O patriarca se concentrou em três pontos da passagem evangélica que conta o episódio da visitação de Maria a sua prima Isabel: “Maria pôs-se a caminho”, “dirigiu-se apressadamente para a montanha” e “entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel”.

O cardeal recordou que Maria era jovem quando concebeu Jesus e logo tomou “um caminho difícil e sem os meios de transporte de que hoje dispomos”.

“Também vós vos pusestes a caminho. Foi para muitos um caminho difícil pela distância, as ligações e os custos que a viagem envolveu. Foi preciso juntar recursos, desenvolver atividades para os obter e contar com solidariedades que graças a Deus não faltaram”, disse.

Dom Manuel Clemente destacou a importância de se colocar a caminho. “Assim devemos encarar a própria vida, como caminho a percorrer, fazendo de cada dia uma nova etapa”.

Mas, reconheceu que atualmente há “muita coisa” que pode “deter” os jovens, como a possibilidade de substituir “a realidade verdadeira” pela “aparência virtual de um mundo à escolha” diante de uma tela e “dependente de um clique que o mude por outro”.

“A virtualidade mantém-nos sentados, diante de meios que facilmente nos usam quando julgamos usá-los. Bem pelo contrário, a realidade consistente põe-nos a caminho, ao encontro dos outros e do mundo como ele é, tanto para o admirar como para o fazer melhor”.

“Maria levava já no seu ventre o ‘bendito fruto’ que era Jesus. Os cristãos levam-no também, espiritual mas realmente, porque o recebem na palavra, nos sacramentos e na caridade onde Ele se oferece. E como acreditamos em Jesus como caminho para Deus, caminhamos com Ele para O levar aos outros. No mesmo impulso que levava Maria, no mesmo Espírito que nos leva a nós”.

O cardeal Clemente disse que “não é por acaso que o texto fala da pressa de Maria”, como outras passagens evangélicas falam “da urgência do anúncio, do testemunho e da visitação permanente aos outros, como havemos de fazer”. Segundo ele, “quando o coração está cheio rapidamente transborda” e, por isso, “é impossível sufocar o que vos vai alma”.

Ao lembrar que a saudação de Maria a Isabel levou à exclamação ‘Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre’, o cardeal Clemente disse que “cada encontro que tivermos deve ser inaugurado com verdadeira saudação, em que troquemos entre nós palavras de acolhimento sincero e plena partilha”.

“Falta muito disto mesmo no mundo em que estamos, quando nem damos bem pelos outros, nem reparamos como devemos naqueles que encontramos”, disse.

Por fim, pediu que “aprendamos com Maria a saudar a todos e cada um. Pratiquemo-lo intensamente nos dias desta Jornada Mundial da Juventude. O mundo novo começa na novidade de cada encontro e na sinceridade da saudação que trocarmos. Para que sejamos pessoas entre pessoas, em mútua e constante visitação”, concluiu.

 

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