Marta Luís é uma jovem deslocada da província de Cabo Delgado, em Moçambique. Em 2021, ela, a mãe e quatro irmãs tiveram que fugir às pressas de terroristas muçulmanos. Mas, não perderam a fé. Ela dará esse testemunho no dia 5 de agosto, durante a vigília da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) Lisboa 2023, na presença do papa Francisco.

Marta chegou ontem (26) com um grupo de oito jovens à arquidiocese de Braga, Portugal. A diocese portuguesa tem um acordo de cooperação missionária com a diocese de Pemba, Moçambique, e cuida da paróquia de Santa Cecília de Ocua.

“Na vigília vou ter a oportunidade de lhe explicar um pouco como foi aquele momento em que minha família teve que fugir dos terroristas, da região de conflito, em 2021”, disse Marta ao departamento de comunicação da arquidiocese de Braga.

Moçambique é uma ex-colônia portuguesa que se tornou independente em 1975. Entre as décadas de 1970 e 1990, o país viveu uma guerra civil que matou mais de 1 milhão de pessoas. Agora, vive sob ataques de radicais muçulmanos.

Segundo relatório sobre a liberdade religiosa deste ano, da Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN), “Moçambique é um país predominantemente cristão (5,7 milhões de católicos, 2,5 milhões de protestantes), com uma grande comunidade muçulmana (3,6 milhões, majoritariamente sunitas)”, sendo que a maioria desses vive “nas províncias nortenhas do Niassa (61%) e Cabo Delgado (54%) e nas zonas costeiras”.

A insurgência islâmica no norte do país começou em outubro de 2017, com ataques na província de Cabo Delgado por parte de uma milícia extremista muçulmana ligada ao Estado Islâmico.  Nos últimos anos, o exército nacional não conseguiu parar a violência, e a insurgência tem se alastrado.

O relatório da Fundação ACN diz que “na província de Cabo Delgado, onde ocorreu a maior parte dos ataques jihadstas, os católicos são muito numerosos (cerca de 36%)”.

O relatório apresenta dados da Armed Conflict Location & Event Data Project (ACLED), segundo os quais “mais de 4.000 pessoas foram mortas desde o início do conflito no Norte de Moçambique”. Além disso, a Agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) “regista 1.028.743 deslocados no Norte de Moçambique devido à violência jihadista (935.130 em Cabo Delgado)”.

Marta Luís contou à arquidiocese de Braga que, em 2021, sua avó já “tinha conseguido sair”, porque “andava sempre doente”. Mas, ela, a mãe e as irmãs não. Até que se viram em um momento em que era preciso “fugir dos terroristas” muçulmanos.

“Com muita dificuldade conseguimos sair para a província de Nampula”, contou. Segundo ela, foi a fé que lhes sustentou. “Deu-nos força, porque pedimos a Deus naquele momento, rezamos muito, para não acontecer o pior nas casas das pessoas e superar aquele momento de dificuldade. Não perdemos a fé”, disse.

Marta recordou que durante a fuga, pararam em um local “onde passava água” e onde as pessoas que fugiam de suas casas ficavam. “Teve um momento em que os terroristas vieram até onde estávamos, mas não fizeram nada conosco, atiraram para cima e nós fugimos. Minha mãe perdeu um documento e estava sem chinelos. Tirei os meus e dei para ela. E ela perguntou-me como ia andar assim, e eu disse: então vamos partilhar”. Assim elas andaram até encontrarem um saco plástico e alguns pedaços de pano para os pés que estavam descalços.

Elas percorreram a pé uma distância de 41 quilômetros entre Muidumbe e Mueda, onde dormiram por um dia. Depois, o tio de Marta, que estava em Nampula, lhes enviou dinheiro para pagarem o transporte até lá.

Marta Luís agradeceu pela oportunidade de ao papa Francisco sua história, e tudo o que passou “durante aquele tempo de dificuldade”. “Estou muito emocionada mesmo e espero que tudo corra bem”, disse.

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