“A partir do silêncio do claustro”, a irmã Lúcia de Jesus “tornou-se uma figura universal, guardando no seu coração os dramas do mundo, através da oração e dos sacrifícios, unindo harmoniosamente as dimensões mística e profética. Esta última desenvolveu-se, também, através de uma intensa atividade epistolar e literária”, diz o decreto com a declaração e reconhecimento das virtudes heroicas da vidente de Fátima. O documento foi lido hoje (13) pela primeira vez pelo bispo de Coimbra, dom Virgílio Antunes, no santuário de Fátima.

O decreto foi aprovado pelo papa Francisco em 22 de junho, quando se anunciou que a irmã Lúcia a partir de então se tornava venerável. No documento “constam as Virtudes teologais da Fé, Esperança e Caridade para com Deus e para com o próximo, bem como as Virtudes cardeais da Prudência, Justiça, Fortaleza e Temperança, e as Virtudes anexas, em grau heroico, da Serva de Deus Maria Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado (no século: Lúcia dos Santos), Religiosa Professa da Ordem dos Carmelitas Descalços, no caso e para os fins em questão”.

“Toda a vida da Serva de Deus foi uma participação no mistério Pascal de Cristo: a saúde frágil, as normas da Santa Sé sobre as visitas que podia receber, os compromissos da vida religiosa, as múltiplas relações com figuras eclesiais e de diversos âmbitos sociais”, diz o texto.

Segundo o decreto, a irmã Lúcia, iluminada pela palavra e pela vontade de Deus e “conduzida pela Senhora do Rosário, a 13 de junho de 1917, foi chamada a difundir no mundo a devoção ao Coração Imaculado de Maria”.

“Assumindo a missão com fortaleza, mostrou que a santidade é ‘viver a Luz de Deus que habita em mim, viver na Luz, viver da Luz e viver para a Luz!’”.

“Profeta da ‘graça e misericórdia’ que Deus quer derramar sobre o mundo, oferece a sua vida, em união com Jesus-Eucaristia e com o Coração Imaculado de Maria, pela Igreja e pela conversão dos pecadores”, diz o decreto.

O texto destaca ainda que, “embora vivendo em clausura, a sua vida tornou a sua cela um lugar com um horizonte mundial, indicando o caminho para a morada da luz e da paz”.

O documento também traz um percurso biográfico da irmã Lúcia. Ela nasceu em 28 de março de 1907, em Aljustrel. Foi batizada em 30 de março do mesmo ano. Recebeu a primeira comunhão aos seis anos.

Em 1916, junto com seus primos, os santos Francisco e Jacinta Marto, teve as aparições do Anjo da Paz, três vezes. No ano seguinte, nos dias 13 de maio a outubro (exceto em agosto), teve as aparições de Nossa Senhora de Fátima. Após a morte dos seus primos, tornou-se “a única guardiã da Mensagem de Fátima, tendo Nossa Senhora ‘como refúgio e caminho para Deus’”.

Entrou para o Instituto de Santa Doroteia, na Espanha, em 24 de outubro de 1925. No dia 10 de dezembro, em Pontevedra, teve a aparição de Nossa Senhora e do Menino Jesus, na qual lhe foi pedida a devoção dos primeiros sábados. Em 13 de junho de 1929, em Tuy, teve a aparição de Nossa Senhora e da Santíssima Trindade, na qual lhe foi pedida a consagração da Rússia ao Coração Imaculado de Maria.

Fez a profissão perpétua em 3 de outubro de 1934. Permaneceu em Espanha durante o período da Guerra Civil Espanhola e da Segunda Guerra Mundial.

Entre 1935 e 1941, por ordem do bispo de Leiria, escreveu as suas Memórias sobre os primos e as aparições. Em 3 de janeiro de 1944, escreveu a terceira parte do segredo de Fátima.

“Com desejo de maior recolhimento e silêncio”, entrou para o carmelo de Coimbra, em 25 de março de 1948, adotando o nome de irmã Maria Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado. Recebeu o hábito carmelita em 13 de maio de 1948 e fez a profissão perpétua em 31 de maio de 1949. Permaneceu no carmelo até 2005, quando morreu em 13 de fevereiro, “com grande fama de santidade”.

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