O processo de beatificação dos arcebispos de Olinda e Recife dom Helder Camara e dom Vital estão avançando na Santa Sé. O Dicastério para as Causas dos Santos anunciou que o relator da Positio do processo de dom Helder Câmara, que ainda será escrita, será o mestre em Teologia Bíblica e doutor em Teologia, o espanhol monsenhor Melchor José Sanchez de Toca y Alameda. A positio do processo de beatificação de dom Vital já foi concluída, aprovada e atualmente está “na fase de impressão” do documento, segundo o vice postulador da causa de dom Hélder e de dom Vital, frei Jociel Gomes.

A Positio é um documento que contém “uma biografia documentada” dos candidatos a veneráveis, e “testemunhos” de pessoas sobre a vida deles, relatando a prática das Virtudes Teologais (Fé, Esperança e Caridade) e Virtudes Cardeais (Prudência, Justiça, Fortaleza e Temperança) de ambos. Além da vivência dos seus votos religiosos de pobreza, castidade, obediência, e de escritos de suas autorias.

Dom frei Vital Maria Gonçalves de Oliveira foi arcebispo de Olinda entre 1871 a 1878 e teve um grande “embate com a maçonaria” em seu mandato, disse frei Jociel gomes, vice-postulador da causa de ambos os arcebispos de Olinda.

Dom Vital tornou-se bispo de Olinda em 1871 aos 27 anos. Nessa época “havia uma animosidade entre a igreja e a maçonaria no Brasil, especialmente no Rio de Janeiro porque o bispo do Rio de Janeiro havia proibido um padre de celebrar missa especial para os maçons”.

Segundo Gomes, “havia como ainda há nos dias de hoje, uma orientação da igreja de que os maçons, os membros de seitas secretas, não podem participar da igreja, especialmente dos sacramentos”. O vice-postulador lembra que “é uma orientação ainda hoje presente na igreja”.

“Talvez muita gente não saiba, mas é uma orientação da igreja também para os dias atuais”, disse frei Jociel Gomes.

Em Olinda, dois dos antecessores de dom Vital tinham tido embates com a maçonaria. Dom Vital assumiu a diocese e “os jornais maçônicos de Recife começaram a difamar dom Vital, afrontá-lo em seus textos e começam a provocar o bispo”, diz Gomes.

O bispo se manteve em silêncio até o dia em que jornais maçônicos publicaram textos contrários a dogmas marianos como a maternidade divina, a virgindade perpétua de Maria, e também contra a Eucaristia. Aí então, dom Vital saiu “do seu silêncio”, disse o vice-postulador. “Até aquele momento ele tinha mantido silêncio porque tudo que tinha saído era sobre ele, difamações acerca da sua pessoa. Mas daquele momento em diante ele não poderia ficar mais calado, já que aqueles textos atingiam diretamente as duas maiores preciosidades da Igreja que são justamente a Eucaristia e a Virgem Maria”, disse frei Jociel.

Depois disto, o arcebispo de Olinda começou “a orientar o clero”, pois ele descobriu “que havia também padres maçons”.

“Então ele começa a chamar os padres e a dizer que eles deveriam sair da maçonaria”, disse Gomes. “Também os membros de irmandades católicas, principalmente aqueles que estavam à frente, ele começa a dizer que fiéis católicos não podem pertencer à maçonaria”.

O embate se agravou e dom Vital foi preso, julgado na corte do Rio de Janeiro e condenado a quatro anos de prisão por ter expulsado maçons de irmandades católicas de sua diocese. “Naquela época, o Supremo Tribunal que julgou dom Vital” era quase todo formado por membros da maçonaria, observou frei Jociel Gomes.

“Por causa da pressão popular, o imperador dom Pedro segundo acaba mudando a sentença” de “quatro anos de prisão com trabalho esforçados”, para “a prisão simples e um ano depois ele é libertado”, sendo anistiado. “Podemos dizer por um fruto de tantas pressões da igreja, do papa de então, Pio IX e da própria sociedade, principalmente dos fiéis católicos”, ressaltou Gomes.

Ele ainda disse que muitos membros importantes do governo do “imperador” eram “maçons e o pressionavam de certa forma”. Não há “nenhuma comprovação de que dom Pedro II era maçom”, sabe-se que ele era pressionado por todas aquelas personalidades, principalmente pelo visconde do Rio Branco. “Este homem foi um grande inimigo, vamos dizer assim, de dom Vital”, disse o vice-postulador. 

Dom Vital morreu no dia 4 de julho de 1878, no convento dos Capuchinhos, em Pari. E segundo frei Jociel, seu processo de beatificação iniciou “nos anos 30, mas houve tantas dificuldades, questão mesmo de documentos”, pois o arcebispo “tinha morrido na França” e e há “diversos elementos históricos que contribuíram” para a demora do processo.  Mas em 1992, o então arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho abriu o processo e concluiu a fase diocesana e mandou toda a documentação a Roma.

O relator do processo de dom Helder, monsenhor Melchor irá acompanhar e orientar o vice postulador da causa, frei Jociel Gomes na elaboração da redação da Positio do servo de Deus. Com relação a Positio de dom Vital, o frade explicou a ACI Digital que ela foi “aprovada recentemente” e “está sendo impressa pela tipografia Vaticana” e será entregue nas comissões “de historiadores, teólogos, bispos e cardeais” que “vão estudar, avaliar, analisar e dar o seu parecer” sobre “a vida de dom Vital”.

“A gente tem a esperança de que já agora no início do semestre todos os membros das comissões estejam com o texto e comecem a analisar para que, pelo menos até o próximo ano, possam dar o seu parecer. A nossa esperança é que em 2024, se esses pareceres todos estiverem prontos, o santo padre possa declarar dom Vital venerável”, afirmou o capuchinho.

Dom Helder Camara foi arcebispo de Olinda e Recife (PE) entre 1964 a 1985 e foi um dos fundadores da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Seu processo de beatificação foi aberto no dia 3 de maio de 2015. No dia 15 de novembro de 2022, a Santa Sé decretou a validade jurídica do material enviado para o processo de beatificação.

 

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