As negociações do governo de Daniel Ortega com a Igreja na Nicarágua para libertar e deportar dom Rolando Álvarez fracassaram ontem (5), e o bispo foi voltou para a prisão “La Modelo”.

Segundo o jornal nicaraguense Confidencial, dom Álvarez "não aceitou as condições impostas para seu exílio".

A informação sobre a libertação de Álvarez começou a ser divulgada na terça-feira (3), com publicações de Maradiaga e da defensora de direitos humanos Bianca Jagger, além da mídia local e internacional.

A agência Reuters disse que dom Álvarez, condenado em 10 de fevereiro de 2023 por "traição à pátria" e privado de seus "direitos cidadãos" de forma "perpétua", foi levado à sede da Conferência Episcopal da Nicarágua em Manágua, capital do país, enquanto se faziam "negociações" sobre o seu "futuro".

O arcebispo de Manágua e vice-presidente da Conferência Episcopal da Nicarágua, cardeal Leopoldo Brenes, negou ontem (5) que o bispo tivesse sido libertado e disse que a notícia é "especulação".

Segundo Brenes, o bispo está “lá mesmo em Tipitapa”, local onde fica a prisão “La Modelo”. Embora ele não o tenha visitado na prisão recentemente, disse que a sua “família foi”.

Sobre a notícia divulgada pela ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI, sobre a possível saída do país de dom Rolando Álvarez, ele respondeu “está errada”.

O cardeal disse: “O Santo Padre diz que às vezes as notícias são divulgadas sem confirmação e, infelizmente, foi isso que aconteceu agora".

Dom Silvio Báez, bispo auxiliar de Manágua exilado nos EUA desde abril de 2019 por causa da perseguição do governo, escreveu ontem (5) no Facebook: “atualmente eu não tenho nenhuma informação sobre a libertação de dom Rolando Álvarez”.

Algumas horas depois, ele fez outra publicação dizendo: “Não há nada para negociar. Eu conheço o Rolando e ele jamais negociará uma decisão de consciência que ele tomou e que eu entendo perfeitamente. Em 2019, eu teria feito o mesmo que ele. Nunca teria deixado meu país no exílio. Se saí, foi em obediência ao Papa, que me ordenou que o fizesse”.

Anos de perseguição

O regime liderado pelo presidente Daniel Ortega e sua mulher e vice-presidente Rosario Murillo, a quem a Assembleia Nacional concedeu o controle total sobre as autoridades policiais em 5 de julho, move uma campanha de assédio e perseguição contra o bispo nicaraguense há anos.

Condenado em fevereiro deste ano, dom Álvarez foi preso na penitenciária Jorge Navarro, conhecida como "La Modelo", uma das prisões mais antigas e superlotadas do país para onde são enviados os presos políticos do regime.

Um dia antes de ser sentenciado, dom Álvarez se recusou a embarcar no avião em que foram deportados mais de 200 presos políticos para os EUA.

Dom Álvarez "não quer deixar a Nicarágua"

Dom José Antonio Canales Motiño, bispo de Danlí, na vizinha Honduras, disse em sua página no Facebook que dom Álvarez “não quer deixar a Nicarágua. Quer ser livre, sem condições, em seu país”.

Consultado pelo jornal El País, dom Canales disse: "Minha publicação responde ao fato de que conheço pessoalmente dom Rolando Álvarez; troquei com ele tanto em Honduras quanto na Nicarágua, é um homem de temperamento firme, seguro; sabe onde está e não é de desistir facilmente".

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