O governo da Nicarágua hasteou bandeiras sandinistas em frente à catedral de Matagalpa, cujo bispo, dom Rolando Álvarez, foi condenado em 10 de fevereiro a 26 anos e quatro meses de prisão por “traição à pátria”.

São bandeiras vermelhas e pretas da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), partido ao qual pertencem o presidente Daniel Ortega e sua mulher e vice-presidente Rosario Murillo, no poder desde 2007. Ortega foi líder da frene quando ela era um grupo guerrilheiro que derrubou o ditador Anastasio Somoza e tomou o poder em 1979. Ortega já soma trinta anos no poder desde então, com períodos afastado da presidência quando perdeu eleições.

Martha Patricia Molina, pesquisadora e autora do relatório "Nicarágua, uma Igreja Perseguida?", disse à EWTN Notícias, do grupo EWTN, ao qual pertence a ACI Digital que "obviamente esta é mais uma provocação da ditadura sandinista contra a Igreja Católica nicaraguense".

A Igreja vem sendo perseguida desde 2018, quando bispos e padres apoiaram protestos populares contra o governo de Ortega por causa das condições difíceis de vida.

“Sabemos que o bispo de Matagalpa, que é o chefe desta diocese, que foi gravemente afetada, está sequestrado numa das prisões da Nicarágua, onde são praticados mecanismos de tortura, tanto física quanto psicológica, e depois a ditadura continua perseguindo e cometendo ataques contra esta diocese para enfraquecê-la”, continuou. "Além dessas bandeiras que colocaram, proibiram uma procissão do Divino Menino, que costuma ter a participação de mais de 20 mil fiéis católicos, e que também não vai acontecer".

Para a especialista, o fato de colocar as bandeiras pode ser entendido como uma forma de “baixar a moral do clero que está sempre em oração pelo seu bispo que se encontra sequestrado neste momento”.

"Desde março não sabemos sobre seu estado físico, saúde, e também sobre sua saúde mental, porque ninguém que está preso vai estar bem", acrescentou.

Em 25 de março, o regime mostrou dom Álvarez junto com seus irmãos na prisão conhecida como La Modelo.  Para o bispo auxiliar de Manágua dom Silvio Báez isso foi uma “encenação” do governo “nojenta e cínica”. Essa foi a última vez que dom Álvarez foi visto.

Molina pediu à comunidade internacional que intervenha para conseguir "o fim da perseguição à Igreja Católica e a liberdade de dom Álvarez e de outros três sacerdotes que também estão presos arbitrariamente".

Os últimos três sacerdotes presos, em menos de uma semana, pelo governo são: Jaime Iván Montesinos Sauceda, Pastor Eugenio Rodríguez Benavides e Leonardo Guevara Gutiérrez, pároco da catedral de Estelí.

Molina disse que os fiéis também não podem rezar o terço em público, só nas igrejas, e se o fazem, não podem mencionar o nome de dom Álvarez. "Quem se atreve a fazê-lo vai imediatamente para a cadeia".

O governo não respeita o direito à liberdade religiosa, consagrado na Constituição da Nicarágua, disse Martha Patricia Molina. Ela sugeriu que a comunidade internacional pare de  financiar o governo Ortega.

“Os países, unilateral ou conjuntamente, poderiam tomar ações mais efetivas”, disse. “Não se trata apenas de condenar em espaços democráticos e políticos como a OEA e a ONU, mas que deixem de financiar a ditadura”

“Esse dinheiro está sendo usado para continuar reprimindo”, disse Molina. “Agora a maioria dos padres está sob vigilância 24 horas, seja pela polícia ou pelos paramilitares, e tudo isso significa que a ditadura está investindo nessa repressão e perseguição contra a Igreja Católica”.

"É inútil que a comunidade internacional fale e diga que Ortega é ilegal e ilegítimo, se por outro lado, no dia seguinte, estão lhe dando um financiamento, que é o dinheiro que os nicaraguenses vamos ter que pagar, ou seja, estamos pagando para ser perseguidos e criminalizados”, concluiu Molina.

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