A irmã Ângela de Fátima Coelho, vice-postuladora da causa de beatificação da irmã Lúcia de Jesus, declarada hoje (22) venerável pela Santa Sé, disse que a vidente “reúne em si toda a espiritualidade da mensagem de Fátima e também a espiritualidade do Carmelo; mas é uma figura que ultrapassa os limites deste espaço físico de Fátima e do Carmelo, porque Lúcia é uma figura universal”.

Em audiência com o prefeito do dicastério para as Causas dos Santos, cardeal Marcelo Semeraro, o papa Francisco aprovou a promulgação do decreto que reconhece as virtudes heroicas de irmã Lúcia, um dos três pastorinhos videntes das aparições de Nossa Senhora de Fátima. Agora ela é considerada venerável e, para que seja beatificada, é necessário o reconhecimento de um milagre por sua intercessão.

“Creio que pode ser uma fonte inspiradora para tantos de nós que caminhamos em busca do Senhor, que passamos por momentos difíceis, por momentos confusos”, disse a irmã Coelho. Para ela, a irmã Lúcia “fez eco do que Nossa Senhora quis transmitir a toda a humanidade, o seu grande desejo da oração, da oração do terço, da entrega a Deus, da consagração... são tudo sinais deste rasto de luz que Lúcia vai deixando a cada um de nós neste momento, particular, em que também precisamos de figuras luminosas, que nos levantem o olhar e nos continuem a dar esperança”.

O bispo de Leiria-Fátima e presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), dom José Ornelas, disse que Lúcia “confirma os efeitos que a mensagem de Fátima traz às pessoas que dela se aproximam e que por ela se deixam influenciar, numa completa dedicação ao Senhor”.

Para dom Ornelas, o reconhecimento das virtudes heroicas da irmã Lúcia é motivo de “alegria” para todos os que “amam Fátima e se deixam inspirar pela presença de Maria”. “Primeiro porque os pastorinhos não ficariam completos sem Lúcia, mas sobretudo porque foi ela que deu a conhecer as memórias de todo o acontecimento de Fátima”, disse.

“Se os dois primeiros pastorinhos, [os santos] Francisco e Jacinta, representam a idade da infância, aqueles que foram objeto do especial carinho de Maria, Lúcia representa a idade adulta, a idade da razão, das memórias meditadas, amadurecidas e transmitidas pela sua própria pena”, declarou. Para o bispo, mais do que aquilo que Lúcia disse, “foi a sua própria vida que deixa a marca”.

O bispo emérito de Fátima, cardeal António Marto, destacou a “forma discreta e humilde” como a irmã Lúcia viveu o seu amor a Deus, a Nossa Senhora, à Igreja e a toda a humanidade, “procurando a verdade e não a notoriedade, sempre escondida, mas sempre presente a todos”.

“Esta sua espiritualidade, santidade e virtudes são muito humanas: ela não era uma extraterrestre, não vivia fora da nossa órbita; foi humana e muito feminina, uma mulher inteligente e perspicaz, desembaraçada e solidária, cheia de alegria e humor contagiante como testemunham as irmãs do Carmelo”, disse o cardeal Marto, que é membro do dicastério para as Causas dos Santos.

A diocese de Coimbra, onde a irmã Lúcia viveu por 57 anos e morreu em 13 de fevereiro de 2015, disse receber “esta notícia com particular júbilo, uma vez que teve uma longa história de convivência com a irmã Lúcia, continua a amá-la na morte e procura acolher o seu testemunho de fidelidade a Deus, amor à Igreja, serviço à humanidade a devoção à Virgem Maria”.

O processo de beatificação da irmã Lúcia foi aberto na diocese de Coimbra, em 2008, apenas três anos após a morte dela e depois que o papa Bento XVI concedeu a dispensa do tempo limite de cinco anos após a morte para a abertura de um processo. A fase diocesana do processo foi concluída em fevereiro de 2017.

Em nota, a diocese disse ainda que a notícia “enche de grande alegria o carmelo de Coimbra, lugar de silêncio, de oração, de serviço e de santidade, que tem na irmã Lúcia uma das suas mais queridas consagradas”.

“Convido os diocesanos de Coimbra a elevarem a Deus, nesta hora de júbilo, um hino de gratidão pelo Seu amor para conosco e a comprometerem-se no caminho da santidade, o grande desafio que nos deixou a irmã Lúcia e que constitui a vocação comum de todos os cristãos”, concluiu a nota, assinada pelo bispo de Coimbra e antigo reitor do santuário de Fátima, dom Virgílio Antunes.

Para a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), a promulgação do decreto que reconhece as virtudes heroicas da irmã Lúcia é “um passo importante no processo de beatificação e canonização”. “Que a vida e as virtudes da irmã Lúcia sejam cada vez mais conhecidas e fomentadas entre o povo de Deus, a fim de ser declarada como modelo de santidade”.

“Neste momento de jubilosa celebração, a Conferência Episcopal manifesta particular sintonia com a Ordem dos Carmelitas Descalços e com o Santuário de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, desejando que o processo em curso, na oração e no estudo, conduza brevemente à beatificação da Irmã Lúcia”.

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