A diocese de Madison, Wisconsin, EUA, disse na última semana que a Igreja não apoia ou se opõe a candidatos políticos específicos porque o padre Brian Dulli, pároco da igreja de São Patrício, exortou seus paroquianos no boletim semanal da paróquia a votarem contra a candidata à Suprema Corte do Estado, Janet Protasiewicz, que é abertamente abortista.

 

Em Estados dos EUA, o cargo de juiz da corte mais alta é eletivo.

 

Em um boletim paroquial de 26 de março, Dulli exortou os católicos a não votarem em Protasiewicz, dizendo que ela "tentou fazer desta corrida inteiramente um esforço para legalizar o aborto no estado de Wisconsin".

Segundo a Wisconsin Public Radio, um advogado do grupo ativista Freedom from Religion Foundation (Fundação liberdade em relação à religião), com sede em Madison, capital do estado, apelou ao IRS, serviço de receita federal dos EUA, pedindo ao órgão para, com base no boletim, revogar o estatuto de organização sem fins lucrativos da paróquia.

 

“O envolvimento da Igreja Católica na vida pública não se estende a apoiar candidatos à eleição para cargos públicos nem a pedir sua derrota e, portanto, abstém-se de atividades político-partidárias. A Igreja incentiva o registro eleitoral e incentiva os católicos, como cidadãos, a votar e a envolver-se civicamente”, afirmou a diocese em comunicado enviado à CNA, agência em inglês do grupo ACI. O voto, e consequentemente o registro eleitoral, nos EUA não são obrigatórios.

 

“No entanto, a Igreja também tem o dever e o direito de chamar a atenção para as dimensões morais e religiosas das questões públicas, julgando políticas sociais e atividades políticas em relação à lei moral natural e os valores do Evangelho. Desde o primeiro século, a Igreja tem consistentemente afirmado o mal moral de todo aborto provocado. O aborto direto, isto é, o aborto desejado como fim ou como meio, é gravemente contrário à lei moral em seu respeito por toda a vida humana”.

 

A eleição de hoje (4) é entre o ex-juiz da Suprema Corte de Wisconsin, Daniel Kelly, e a atual juíza de Milwaukee, Protasiewicz. Protasiewicz falou abertamente sobre seus pontos de vista pró-aborto, insistindo que não fez “nenhuma promessa” a grupos pró-aborto de que tentará derrubar a atual proibição do aborto no Estado.

 

 

“O aborto é a retirada intencional de uma vida humana. É assassinato. Nossa fé católica é clara ao dizer que isso é um pecado grave. Nunca deve ser uma controvérsia entre os católicos dizer que você nunca pode tomar intencionalmente qualquer ação que conscientemente ajude a tirar uma vida humana. Não se pode apoiar publicamente o aborto ou os defensores do aborto e permanecer um católico em boa posição”, escreveu Dulli.

 

“Como católico, exorto-vos, pela salvação de vossas almas; não votem nela [Protasiewicz] na corrida para a Suprema Corte em 4 de abril”, continuou.

 

Em sua mensagem no boletim de domingo (2), Dulli reconheceu que o boletim de 26 de março “teve muito mais exposição do que o normal” e reiterou que “dada a escolha entre quaisquer duas pessoas, devemos dizer 'absolutamente não' à pessoa que diz que o aborto deve ser permitido”.

“Precisamos dizer não a um sistema que exige que o sacrifício humano dos nascituros esteja à disposição. Jesus disse que seremos julgados pelo que fizermos ao menor entre nós. Os bebês são os menores e os mais pequeninos. Se alguém consentir em matar crianças não nascidas, não vão parar apenas na sua destruição ou de sua família”, escreveu Dulli.

“Não vimos destruição suficiente para saber disso?”

Ao ser contatado ontem (3) pela CNA, Dulli se recusou a fazer mais comentários, dizendo acreditar que a situação já foi “comentada o suficiente”.

Do que se trata a eleição de hoje?

A corrida judicial de 2023 em Wisconsin, que pode ter permanecido obscura em outros anos, mesmo dentro de Wisconsin, está atraindo a atenção da mídia nacional e registrando números recordes de arrecadação de fundos para os candidatos. As razões têm a ver com uma previsão, tanto entre os grupos pró-vida quanto pró-aborto, de que o vencedor da eleição pode fazer pender a balança em Wisconsin quando se trata da atual proibição do aborto no Estado.

Wisconsin é o único estado do país com uma proibição do aborto pré-Roe v. Wade, a decisão da Suprema Corte dos EUA que liberou o aborto no país em 1973. A proibição de Wisconsin, que está contida na Seção 940.04 dos Estatutos de Wisconsin e data de 1849, permite o aborto apenas para salvar a vida da mãe. Com a derrubada de Roe x Wade no ano passado, a lei, que nunca foi revogada pode voltar a ser aplicada. O governador democrata e o procurador-geral do Estado disseram que não irão aplicar a proibição e estão fazendo um processo na tentativa de revogá-la.

A lei era anteriormente inaplicável após a decisão Roe v. Wade em 1973, mas a derrubada de Roe no ano passado permitiu que o estatuto entrasse em vigor. Até agora, não foi bloqueado no tribunal, como aconteceu com as proibições pré-Roe em West Virginia e Michigan.

Grupos pró-aborto dentro e fora de Wisconsin identificaram a disputa pela a Suprema Corte do estado como a chave para derrubar o 940.04. O governador Tony Evers, junto com o procurador-geral de Wisconsin, Josh Kaul, anunciou um processo no ano passado para tentar derrubar a lei, argumentando que ela foi substituída pela legislação subsequente e não pode ser aplicada.

O processo provavelmente será decidido pela Suprema Corte estadual, que teve uma maioria conservadora de 4 a 3 nos últimos 15 anos. A eleição atual determinará quem se sentará na vaga que está sendo desocupada pela juíza conservadora Patience Roggensack, que se aposenta. O vencedor cumprirá um mandato de 10 anos.

Defensores pró-vida temem que, caso a Suprema Corte do estado obtenha uma maioria “pro-choice”, a proibição pré-Roe do estado possa ser declarada inconstitucional, como aconteceu no ano passado no estado vizinho Michigan.

Quem são os candidatos?

Kelly é um ex-juiz da Suprema Corte de Wisconsin que atuou no tribunal desde sua nomeação pelo então governador Scott Walker em 2016 até ser eliminado em 2020. Ele se descreve como um “conservador constitucional” e em seu site de campanha acusa seus oponentes de “ativistas judiciais que buscam impor sua própria agenda política em nosso estado”.

Em meio a uma campanha contenciosa, Kelly ganhou o apoio de três grupos pró-vida em todo o estado - Wisconsin Family Action, Pro-Life Wisconsin e Wisconsin Right to Life. Ele disse durante um debate recente que seus numerosos endossos de grupos pró-vida surgiram depois de conversar com eles sobre sua promessa de defender a Constituição, não por causa de qualquer promessa de manter a proibição do aborto em vigor.

Em contraste, Protasiewicz obteve endosso de vários democratas importantes em Wisconsin, bem como de grupos pró-aborto, como NARAL, Planned Parenthood e EMILY's List. Protasiewicz atualmente é juíza da Seção 24 do Tribunal do Condado de Milwaukee em Wisconsin, tendo sido eleita para esse tribunal em 2014.

Protasiewicz insistiu que não fez “nenhuma promessa” a grupos pró-aborto, como Planned Parenthood e EMILY's List, mas também não escondeu suas opiniões pro-choice. “Minha opinião pessoal é que [deveria] ser direito da mulher tomar as decisões sobre saúde reprodutiva, ponto final”, disse ela durante um debate em 21 de março.

O que os líderes católicos disseram?

Pelo menos dois dos bispos de Wisconsin, incluindo o bispo Donald Hying de Madison, reiteraram aos católicos que o direito à vida é uma questão fundamental que deve formar suas consciências enquanto decidem como votar hoje (4).

“Sem o direito de nascer e viver, todos os outros direitos são inúteis”, escreveu Hying em uma carta de 30 de março.

“Queremos viver em um país que acolhe a maravilha de cada vida humana, apoia casamentos e famílias, ajuda os necessitados e sofredores, busca justiça para todos e constrói uma civilização de amor, ou queremos uma sociedade que aborte seus filhos, deixa pais em dificuldades sem apoio e vive uma autonomia radical sem referência à dignidade da vida e ao bem comum? Elegemos líderes cívicos que se baseiam no princípio moral inabalável de que toda vida humana é sagrada e de valor imensurável, ou elegemos aqueles que desrespeitam a dignidade fundamental da vida e defendem tirar a vida dos mais inocentes no útero? Essas perguntas devemos nos fazer ao exercer nosso dever moral e cívico de votar”.

O arcebispo Jerome Listecki de Milwaukee também emitiu uma carta , datada de 28 de março, instando os católicos a votarem em candidatos que defendam o direito à vida.

“O assassinato de inocentes nunca foi apoiado pelos ensinamentos da Igreja Católica. Como cidadãos, temos a obrigação de apoiar as leis que protegem os inocentes. Devemos assumir nossa responsabilidade, como cidadãos perante o julgamento de Deus, pelas vezes em que apoiamos a destruição de inocentes. Também devemos assumir a responsabilidade pela falta de apoio à proteção dos inocentes quando votamos em candidatos e leis que liberalizam as leis de aborto”, escreveu Listecki.

“Não há nada de iluminado no indivíduo que não percebe que a negação do direito à vida dos mais vulneráveis ​​entre nós é um atentado à dignidade e ao valor pessoal de cada cidadão. Eu não poderia e não apoiaria um candidato cuja posição na vida é contrária aos ensinamentos da Igreja — uma posição contrária aos ensinamentos e ao amor de Jesus”.

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