O papa Francisco disse hoje (2) na missa de Domingo de Ramos, na Praça de São Pedro, que Jesus se entregou até o extremo, experimentando até mesmo o abandono de Deus, para que nos momentos mais difíceis as pessoas não percam a esperança.

Francisco celebrou o início da Semana Santa 2023 hoje, um dia depois de ter alta do hospital Agostino Gemelli, de Roma, onde ficou internado desde quarta-feira (29), para tratar uma infecção respiratória.

A celebração foi precedida pela procissão do Domingo de Ramos, conduzida por bispos, sacerdotes, religiosos e leigos ao redor do obelisco da Praça de São Pedro para recordar a entrada de Jesus em Jerusalém.

O papa Francisco chegou de papamóvel ao obelisco. Depois da cerimônia em que foram abençoados os ramos, a procissão de bispos e sacerdotes, juntamente com o papa, se dirigiu ao átrio da basílica vaticana para a missa com a qual se inicia a Semana Santa.

Na homilia, o papa refletiu sobre a palavra de Cristo na cruz: "Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?". Francisco recordou que o sofrimento de Jesus foi “dilacerante”, pois experimentou não só dor física, mas também espiritual, com a traição de Judas, as negações de Pedro, as condenações e o ridículo público e o abandono dos discípulos.

Mais ainda, disse o papa, “na hora mais trágica, Jesus experimenta o abandono por parte de Deus”. “Aquilo que o Senhor chega a sofrer por nosso amor, até temos dificuldade de o entender. Vê o céu fechado, experimenta o viver no seu amargo limite, o naufrágio da existência, o colapso de toda a certeza: grita ‘o porquê dos porquês’. ‘Tu, ó Deus, porquê?’", disse o papa diante dos 60 mil fiéis reunidos na Praça de São Pedro.

O papa Francisco disse que “na Bíblia, o verbo ‘abandonar’ é forte; aparece em momentos de dor extrema: em amores fracassados, rejeitados e traídos; em filhos enjeitados e abortados; em situações de repúdio, viuvez e orfandade; em casamentos gorados, em exclusões que privam dos laços sociais, na opressão da injustiça e na solidão da doença”.

“Cristo levou tudo isto para a cruz, ao carregar sobre Si o pecado do mundo. E, no auge, Ele – Filho unigênito e predileto – experimentou a situação mais estranha no seu caso: o abandono, a distância de Deus”, disse.

Francisco destacou que Cristo chegou a esse extremo para cada um dos seres humanos. “Irmãos e irmãs, isto hoje não é um espetáculo. Cada um de nós, ouvindo referir o abandono sofrido por Jesus, diga para si mesmo: por mim”, disse.

O papa declarou aos fiéis que Jesus “experimentou o abandono para não nos deixar reféns da desolação e permanecer ao nosso lado para sempre”, para que, quando alguém se sinta “encurralado à parede”, possa ter esperança.

"É assim que o Senhor nos salva: a partir de dentro dos nossos ‘porquês’. De lá, descerra a esperança que não desilude”, disse.

O papa Francisco destacou que, na cruz, Jesus, “enquanto experimenta o abandono extremo, não Se deixa cair no desespero – este é o limite –, mas reza e entrega-Se” ao Pai.

“No abandono, entrega-Se. No abandono, continua a amar os Seus que O deixaram sozinho. No abandono, perdoa aos que O crucificaram”, disse o papa, destacando que este extremo amor de Cristo “é capaz de transformar os nossos corações de pedra em corações de carne", porque "é um amor de piedade, ternura, compaixão".

Cristo, acrescentou Francisco, está também em cada uma das pessoas que são descartadas. Ele lembrou o caso do morador de rua que morreu na Praça de São Pedro. “Penso naquele homem dito ‘vadio por estrada’, alemão, que morreu sob a colunata, sozinho, abandonado. É Jesus para cada um de nós”, disse.

O papa Francisco apelou à atenção a "tantos 'Cristos abandonados'", os visíveis e os invisíveis, aqueles "que são descartados de forma ‘elegante’: crianças nascituras, idosos deixados sozinhos – podem porventura ser o teu pai, a tua mãe, o avô, a avó, abandonados nos lares de terceira idade –, doentes não visitados, pessoas portadoras de deficiência ignoradas, jovens que sentem dentro um grande vazio sem que ninguém escute verdadeiramente o seu grito de dor”.

Ao final de sua homilia, o papa convidou a pedir a Deus a graça de “saber amar Jesus abandonado e saber amar Jesus em cada abandonado, em cada abandonada”.

“Peçamos a graça de saber ver, saber reconhecer o Senhor que continua a clamar neles. Não permitamos que a sua voz se perca no silêncio ensurdecedor da indiferença. Não fomos deixados sozinhos por Deus; cuidemos de quem é deixado só”, disse.

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