O papa Francisco visitará de 31 de janeiro a 3 de fevereiro a República Democrática do Congo, país na África central que sofre a violência de grupos armados, um deles ligado ao Estado Islâmico.

A República Democrática do Congo foi colônia da Bélgica entre 1908 e 1960, quando conquistou sua independência.

Com uma população majoritariamente cristã, a República Democrática do Congo, que entre 1971 e 1997 era conhecida como Zaire, tem entre seus vizinhos a República do Congo e o Sudão do Sul.

A viagem, que inclui também uma visita ao Sudão do Sul, estava marcada para julho do ano passado, mas foi adiada por problemas de saúde do papa.

Para 2022, a viagem à República Democrática do Congo incluía uma passagem pelo leste do país, área conturbada por grupos armados como as Forças Democráticas Aliadas (ADF), organização terrorista ligada ao Estado Islâmico, e o Movimento 23 de Março (M23).

A violência nessa área tornou a República Democrática do Congo um dos países com maior número de deslocados do mundo, cerca de 5,6 milhões de pessoas, segundo a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR).

Durante a conferência "A viagem do papa Francisco à RDC e ao Sudão do Sul: uma mensagem de unidade e reconciliação para dois países esmagados pela violência e pelo sofrimento", o padre Godefroid Mombula Alekiabo, missionário estabelecido na capital Kinshasa, disse que a Igreja local está trabalhando para levar grupos de deslocados e outras pessoas afetadas pela guerra.

No evento, organizado em 16 de janeiro pela fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN), padre Mombula destacou o papel da Igreja Católica na República Democrática do Congo na educação e na saúde.

“Suas escolas educaram mais de 60% dos alunos do ensino fundamental do país e mais de 40% dos alunos do ensino médio. A Igreja possui e administra uma extensa rede de hospitais, escolas e clínicas, além de vários outros projetos”, disse o sacerdote, que é professor e secretário acadêmico da Universidade Saint Augustine, em Kinshasa.

Relação Igreja-Estado

Padre Godefroid Mombula Alekiabo disse que, durante a colônia, a Igreja manteve boas relações com o Estado. No entanto, os primeiros acontecimentos após a independência fizeram com que se tornasse "a voz institucional mais crítica".

 “O conflito se manifestou abertamente pela primeira vez em 1971, quando o Estado, como parte de seus esforços para centralizar e expandir sua autoridade, nacionalizou as escolas católicas; e o conflito se intensificou em 1972, quando, como parte de uma campanha de 'autenticidade', todos os cidadãos foram obrigados a renunciar a seus nomes cristãos de batismo para adotar nomes africanos”, disse.

Em seguida, o Natal foi suspenso, as escolas foram nacionalizadas e as imagens do papa e crucifixos foram substituídas por retratos do ditador Mobutu Sese Seko, que governou o país entre novembro de 1965 e maio de 1997.

Entretanto, “a falta de capacidade de gestão e de recursos do Estado fez com que a absorção do sistema educacional fosse um desastre”. Isso levou o governo a pedir que "as instituições religiosas assumissem novamente as escolas confessionais, e as aulas de religião voltaram a fazer parte do currículo escolar".

O padre disse que atualmente, “na sua relação com o Estado, a Igreja é considerada uma voz de oposição aos regimes autoritários”.

O papa Francisco será o segundo papa a visitar a República Democrática do Congo. São João Paulo II visitou este país em 1980 e 1985, quando ainda era conhecido como Zaire.

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