Em uma nova carta, o papa emérito Bento XVI afirmou que o Concílio Vaticano II não foi apenas "significativo, mas necessário".

Divulgada na quinta-feira (20), a carta é dirigida ao padre Dave Pivonka, sacerdote da Ordem Terceira Franciscana Regular e presidente da Universidade Franciscana de Steubenville, em Ohio, Estados Unidos, onde foi realizado o X Simpósio Internacional sobre a Eclesiologia de Joseph Ratzinger.

A carta, com quase três páginas e meia, apresenta novas observações de um dos poucos teólogos vivos da Igreja Católica que participou do Concílio Vaticano II, que começou há 60 anos.

“Quando comecei a estudar teologia, em janeiro de 1946, ninguém pensava em um Concílio Ecumênico”, lembrou o papa emérito de 95 anos.

“Quando o papa João XXIII o anunciou, para grande surpresa de todos, havia muitas dúvidas sobre se seria significativo, antes ainda, se seria possível, organizar as instituições (...) e, portanto, de dar à Igreja uma direção para o seu ulterior caminho”, disse Bento XVI.

“Na realidade, um novo Concílio se revelou não apenas significativo, mas necessário. Pela primeira vez, a questão de uma teologia das religiões se mostrou em sua radicalidade”, continuou.

“O mesmo vale para a relação entre a fé e o mundo da simples razão. Ambos os temas nunca haviam sido previstos dessa maneira. Isso explica por que o Concílio Vaticano II no início ameaçava perturbar e abalar a Igreja mais do que dar-lhe uma nova clareza para sua missão”, escreveu o papa emérito.

“Ao mesmo tempo, tornou-se gradualmente evidente a necessidade de reformular a questão da natureza e da missão da Igreja”, acrescentou. “Desta forma, o poder positivo do Concílio também está lentamente emergindo”.

A eclesiologia, o estudo teológico da natureza e estrutura da Igreja evoluíram após a Primeira Guerra Mundial, escreveu Bento XVI. "Se até aquele momento a eclesiologia havia sido tratada essencialmente em termos institucionais, agora se percebia com alegria a mais ampla dimensão espiritual do conceito de Igreja”, afirmou.

Ao mesmo tempo, escreveu, o conceito da Igreja como o Corpo Místico de Cristo estava sendo reconsiderado criticamente.

Foi nessa situação, disse, que escreveu sua tese de doutorado sobre o tema "Povo e Casa de Deus na doutrina agostiniana da Igreja".

Bento XVI destacou que "a completa espiritualização do conceito de Igreja, por sua vez, perde o realismo da fé e de suas instituições no mundo". E acrescentou que, "no Concílio Vaticano II, a questão da Igreja no mundo tornou-se finalmente o verdadeiro problema central”.

O papa emérito, que renunciou ao pontificado em 2013, concluiu sua carta resumindo seu propósito ao escrevê-la.

"Com essas considerações, eu só queria indicar a direção em que meu trabalho me levou", escreveu.

“Espero sinceramente que o Simpósio Internacional da Universidade Franciscana de Steubenville seja útil na luta por uma justa compreensão da Igreja e do mundo em nosso tempo”, concluiu.

Confira também: