O ex-presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva disse que a Igreja Católica contribuiu para sua formação política e para a construção do Partido dos Trabalhadores (PT). Em entrevista à Rádio Brasil Campinas, da arquidiocese de Campinas (SP), Lula afirmou que é “católico há 76 anos” e que, logo após sair da prisão na Polícia Federal de Curitiba (PR), em 2019, a primeira coisa que fez foi visitar o papa Francisco.

“Graças a Deus, a Igreja teve muito a ver com a minha formação política, com o sucesso que tivemos nas coisas que fizemos na vida, sobretudo na luta sindical, muita solidariedade, quando a gente fazia greves, e também na construção do PT”, disse.

Lula é fundador e principal líder do PT e governou o Brasil por dois mandatos, entre 2003 e 2011. Em 2017, o ex-presidente foi condenado em primeira instância no âmbito da Operação Lava Jato, decisão que foi confirmada em segunda instância no ano seguinte. Em 2019, foi solto, depois de decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de que a execução da pena só poderia ocorrer após trânsito em julgado da sentença. Lula recuperou seus direitos políticos em março de 2021, após o ministro do STF Edson Fachin anular suas condenações pela Justiça Federal do Paraná na Operação Lava Jato, por entender que a 13ª Vara de Curitiba não tinha competência para analisar os casos.

Embora não tenha lançado oficialmente sua pré-candidatura à presidência da República nas eleições deste ano, Lula é apontado com o nome do PT para concorrer ao cargo, e lidera todas as pesquisas eleitorais divulgadas até o momento.

“Quando eu saí da Polícia Federal em Curitiba, a primeira coisa que eu fiz foi visitar o papa Francisco porque estava interessado em fazer uma campanha mundial contra a desigualdade. Como o papa Francisco é uma das figuras mais proeminentes da religião mundial, fui conversar com o papa Francisco. Depois eu fui à Suíça conversar com o Conselho Mundial de Igrejas, porque queria fazer uma campanha. Lamentavelmente, depois das reuniões veio a covid-19, que fez com que não pudéssemos tocar a campanha”, disse o ex-presidente.

O encontro com o papa Francisco aconteceu no dia 13 de fevereiro de 2020, na Casa Santa Marta, no Vaticano, onde o papa mora. Foi um encontro privado, sem caráter oficial. A visita aconteceu através da mediação do presidente da Argentina, Alberto Fernandez, que levou ao papa o pedido de Lula que expressou o desejo de conhecê-lo após deixar a prisão.

Na entrevista, Lula afirmou que é batizado e crismado e possui “muitos amigos na Igreja” Católica.

Segundo ele, em todos os lugares para onde “viajava no Brasil, tinha uma igreja progressista, um padre progressista, uma casa paroquial, lá haveria uma reunião com a comunidade católica, para a gente discutir política”.

O ex-presidente citou nomes de algumas pessoas com as quais tinha um laço de amizade, como frei Betto, frade dominicano que teve o cargo de assessor especial da presidência da República e coordenador da Mobilização Social do Programa Fome Zero no primeiro mandato de Lula, o teólogo Leonardo Boff, dom Pedro Casaldáliga (1928-2020), espanhol que foi bispo de São Félix do Araguaia (MT), dom Mauro Morelli, bispo emérito de Duque de Caxias (RJ), dom Hélder Câmara (1909-1990), que foi arcebispo de Olinda e Recife (PE), e dos arcebispos de São Paulo (SP) dom Paulo Evaristo Arn (1921-2016) e Claudio cardeal Hummes.

“Acho que a Igreja tem muito a ver com minha vida política, com os passos que dou na política, porque acho que, embora eu tenha uma relação com todas as religiões e respeito todas as religiões, não tenho vergonha de dizer que sou católico, não tenho vergonha de dizer da minha relação de amizade”, declarou.

Lula afirmou ainda que não tem “preconceito com nenhuma religião” e disse ter uma relação com “evangélicos, de matriz africana, com o pessoal islâmico”. “Acho que religião tem que ser seguida de acordo com a crença de cada um. Quero que respeitem minha crença de ser católico”, disse.

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