O ano de 1968 foi um período turbulento nos EUA. A Guerra do Vietnã estava em pleno andamento, o pastor protestante e líder negro dos direitos civis Martin Luther King Jr. e o candidato democrata à presidência Robert F. Kennedy foram assassinados, e motins raciais começaram a estourar nos EUA, inclusive na capital, Washington.

Mas houve um evento no final de 1968 que trouxe um vislumbre de esperança: o primeiro Natal no espaço, que viu três homens circundarem a lua e transmitirem uma mensagem cristã para uma audiência extasiada de centenas de milhões.

Guy Consolmagno, astrônomo e jesuíta que dirige o Observatório do Vaticano, disse à CNA, agência em inglês do grupo ACI, que se lembra de ter assistido, amontoado com amigos e familiares em torno de um aparelho de TV com a imagem granulada típica da época, os astronautas decolar rumo ao espaço.

“Foram momentos que marcaram minha vida, desde que eu era criança”, lembrou o irmão Consolmagno.

Os EUA lançaram o programa Apollo em 1965, em resposta ao desafio feito pelo presidente John F. Kennedy em 1961 de colocar um homem na Lua até o final da década. A União Soviética vinha fazendo avanços em seu próprio programa espacial e havia rumores de que derrotariam os EUA na corrida à lua.

Antes da viagem da Apollo 8, uma missão de teste não tripulada, Apollo 6, fracassou.

Pior do que isso, em 1967, um incêndio em uma cápsula de teste tirou a vida de três astronautas.

O momento da missão era crítico, pois a distância entre a Terra e a lua varia. Pelos cálculos da NASA no começo do primeiro semestre de 1968, a data ideal para um lançamento à órbita lunar era o final de dezembro.

E em 21 de dezembro de 1968, o foguete Saturno V estava pronto na plataforma de lançamento na Flórida, com os astronautas Frank Borman, Jim Lovell e William Anders a bordo. O Saturno V é o veículo mais poderoso criado por humanos antes ou depois. Nunca havia carregado humanos antes.

Os astronautas mantinham um diário, enquanto observavam imagens que nenhum ser humano antes tinha visto. Na véspera do Natal, a Apollo 8 alcançou a órbita lunar. Borman, Lovell e Anders se tornaram os primeiros seres humanos a deixar a órbita da Terra e os primeiros a vislumbrar o outro lado da lua.

A nave tinha uma câmera de TV a bordo e os homens fizeram seis transmissões, a última das quais no horário nobre na véspera de Natal. É dessa transmissão que Consolmagno lembra com tanta clareza.

Para a transmissão da véspera de Natal, a NASA não deu aos homens nenhuma instrução específica sobre o que eles deveriam dizer. Eles apenas deveriam dizer algo "apropriado".

E assim, para uma audiência de 1 bilhão de pessoas, Bill Anders começou a transmissão, seguido por Lovell e, depois, Borman:

"Para todas as pessoas na Terra, a tripulação da Apollo 8 tem uma mensagem que gostaríamos de enviar a vocês.

No princípio, Deus criou o céu e a terra.

E a terra era sem forma e vazia; e as trevas cobriam a face das profundezas.

E o Espírito de Deus se movia sobre as águas. E Deus disse: Haja luz: e houve luz.

E Deus viu que a luz era boa: e Deus separou a luz das trevas. "

"E Deus chamou à luz dia, e às trevas noite. E foi a tarde e a manhã o dia primeiro.

E disse Deus: haja um firmamento no meio das águas, e haja separação entre águas e águas.

Mais em

E Deus fez o firmamento, e separou as águas que estavam sob o firmamento das águas que estavam acima do firmamento: e assim era.

E Deus chamou o firmamento de Céu. E foi a tarde e a manhã, o dia segundo. "

"E disse Deus: Que as águas debaixo dos céus se ajuntem num só lugar, e apareça a terra seca: e assim foi.

E Deus chamou a terra seca de Terra; e o ajuntamento das águas chamado mares: e Deus viu que era bom. "

Os astronautas disseram mais tarde que escolheram o capítulo 1 do livro do Gênesis por causa de sua importância não só para os cristãos.

Consolmagno disse que a escolha dessa passagem específica da escritura foi inesperada, mas deixou uma marca nele.

“Eu esperava um Salmo sobre como os céus proclamam a glória de Deus, mas, em vez disso, ter escolhido essa leitura em particular foi um ato de gênio em que eu nunca teria pensado”, ele meditou.

"Ouvir a história de Gênesis lida dessa maneira, daquela maneira muito respeitosa, foi gratificante e afirmador de uma forma que eu nunca teria imaginado."

Na manhã de Natal, os astronautas ligaram o motor da nave e começaram a voltar para casa. Enquanto ganhavam velocidade, festejaram o Natal ceando peru recheado e conhaque.

Poucos dias depois, a espaçonave pousou no oceano Pacífico e um porta-aviões os recolheu. Eles haviam passado o primeiro Natal no espaço e voltaram para casa em segurança a tempo de tocar no novo ano, 1969.

A missão foi uma conquista surpreendente que galvanizou o público, pois a possibilidade de tocar e atravessar a superfície lunar se tornou ainda mais real. Em julho de 1969, os astronautas da Apollo 11 fizeram exatamente isso.

Infelizmente, esta história não tem um final de conto de fadas. Anders, que leu parte da passagem da Bíblia, disse anos mais tarde que ver a minúscula terra abaixo deles na verdade contribuiu para a perda de sua fé católica. Talvez porque fez tudo parecer tão pequeno.

Além disso, nem todos ficaram felizes com o fato de os astronautas terem lido uma passagem da Bíblia. Um militante ateu até abriu um processo contra a NASA, que a Suprema Corte rejeitou.

Consolmagno disse que tudo isso não surpreendem. Afinal de contas, militantes ateus ateus proeminentes fizeram um escarcéu quando o desenho animado "Um Natal com Charlie Brown", com uma mensagem explicitamente cristã, foi ao ar numa rede de TV.

Até hoje, Consolmagno adora falar desse episódio da história. Isso o ajudou a seguir o caminho que trilhando hoje, como um praticante de sua fé e cientista de sucesso.

“Se você consegue encontrar um dia em que não esteja nublado, preste atenção onde a lua está todos os dias. E lembre-se de que há 50 anos atrás, as pessoas estavam lá. As pessoas andaram por essa superfície e chegará a hora em que voltaremos”, disse ele.

“Faz parte da criação de Deus. E eu acho que Deus está nos convidando para explorá-la.”

Confira também;