Um tiroteio foi ouvido durante a santa missa celebrada na paróquia de São João Batista, em Iguala, em 23 de junho. O som das balas interrompeu a homilia do padre José Manuel García Linzaga. Fora da igreja, um ex-policial foi assassinado.

A violência que assola o estado de Guerrero, no México, em particular a cidade de Iguala, ficou evidente. Dom Salvador Rangel, bispo de Chilpancingo-Chilapa, denunciou a evidente ausência das autoridades, entre elas, da Guarda Nacional.

As imagens da missa e o barulho do tiroteio foram gravados na transmissão ao vivo que a paróquia realizava através de sua página no Facebook.

O bispo diocesano de Chilpancingo-Chilapa, à qual pertence Iguala, disse que a cidade é um “foco vermelho”, onde “todos os dias há dois ou três assassinatos”.

“Atualmente em Iguala há pelo menos 3 ou 4 cartéis que estão em conflito pelo controle” do narcotráfico, afirmou o prelado.

Iguala da Independência fica ao norte do estado de Guerrero, a 190 quilômetros ao sul da Cidade do México, com uma população de aproximadamente 130 mil habitantes.

Para dom Rangel, “o pomo da discórdia são as minas que estão perto de Iguala. Eles têm que pagar por estar ali, os donos pagam grandes quantidades” de dinheiro.

“Outro grande espólio é o orçamento de cada município. Ali é onde os narcotraficantes são servidos com uma colher grande”, continuou o bispo, denunciando os pagamentos que grupos armados recebem das autoridades de diferentes municípios de Guerrero.

“E todo mundo quer controlar Iguala, já que é uma cidade muito estratégica. De lá eles podem ir para México, Acapulco, Puebla. Dali, é fácil ir de um lugar a outro”, acrescentou.

A situação de Iguala é tão difícil, lamentou, que “um dia houve 12 assassinatos”.

O bispo acha que “as instituições governamentais têm a obrigação de pacificar e manter a ordem no país”. “Eu falo a nível nacional. Eu me pergunto: onde está a famosa Guarda Nacional? Onde está o Exército?”, acrescentou.

A Guarda Nacional foi criada pelo atual presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, em março de 2019, substituindo a Polícia Federal.

“Onde estão as forças de segurança do estado, a polícia do estado e, mais ainda, o governo municipal?”, continuou Dom Rangel, afirmando que Iguala “é uma cidade desgovernada, não há ordem”.

Estima-se que os três primeiros anos do governo de Andrés Manuel López Obrador, de 2018 a 2021, sejam os mais violentos já registrados na história do país.

Somente entre janeiro e 27 de junho de 2021 foram registrados cerca de 14 mil homicídios no México.

Anualmente, o Conselho Cidadão para a Segurança Pública e a Justiça Penal A.C., organização não-governamental do México, publica a lista das 50 cidades mais perigosas do mundo. Na edição de 2020, as seis cidades mais violentas do mundo são mexicanas. No total, são 18 cidades mexicanas estão entre as 50 mais perigosas do mundo.

“Acredito na possibilidade de que possam pôr disciplina e ordem” na pequena cidade de Iguala, afirmou dom Rangel, “mas infelizmente há ´apadrinhamentos´ entre as instituições e os diferentes cartéis”.

Apesar de tudo, para o bispo de Chilpancingo-Chilapa há esperança de paz na região, mas é preciso “que o governo entre mais e com mão firme”. Dom Rangel considera que também “as pessoas devem se rebelar contra este clima de violência”.

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Para o bispo, “não há que perder a fé, a esperança. Cristo nos disse: ´estarei com vocês até o fim do mundo´. Ele disse: ´eu venci o mundo´”.

“Como Igreja, como cristãos, não devemos nunca perder a fé nem a esperança de que isto vai mudar, de que isto vai melhorar”, concluiu.

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