Em sua segunda predicação de Advento no Vaticano, em presença do Papa Bento XVI e os membros da Cúria Vaticana, o Pregador da Casa Pontifícia, Pe. Raniero Cantalamessa, assinalou na Capela Redemptoris Mater que os sacerdotes devem manifestar "o bom perfume de Deus no mundo".

Depois de deplorar a ação dos sacerdotes que geram escândalo por sua infidelidade pois atentam contra o sagrado do sacramento recebido de Deus, da unção recebida d’Ele, o Pe. Cantalamessa explicou que "ter unção significa portanto ter o Espírito Santo como companheiro inseparável na vida, fazê-lo tudo ‘no Espírito’, em sua presença, com sua guia".

"Tudo isto se traduz, externamente, às vezes em doçura, calma, paz, e às vezes em autoridade. É uma condição que se caracteriza com uma certa luminosidade interior que dá facilidade e domínio ao fazer as coisas. Como ‘estar em forma’ para o atleta ou a inspiração para o poeta", acrescentou.

Como um risco real, o sacerdote capuchino advertiu que um sacerdote poderia cair em "deter-se no aspecto ritual e canônico da ordenação, em sua validez e licitude, e não dar a suficiente importância ao efeito espiritual, à graça própria do Sacramento, neste caso ao fruto da unção na vida do sacerdote".

A unção sacramental, prosseguiu, "nos habilita para cumprir certas ações sagradas, como governar, pregar, instruir; nos dá, por dizê-lo de alguma forma, a autorização para fazer certas coisas, não necessariamente a autoridade em fazê-las; assegura a sucessão apostólica, não necessariamente o êxito apostólico".

Fazendo referência à uma passagem de São Paulo aos Coríntios, o presbítero assegurou: "este deveria ser o sacerdote: o bom perfume de Cristo no mundo". O Apóstolo das Gentes coloca todos em guarda acrescentando imediatamente depois que "levamos este tesouro em vasos de barro. Sabemos muito bem, a dolorosa e humilhante experiência recente que significa tudo isto. Jesus dizia aos apóstolos: ‘vós sois o sal da terra; mas se o sal se torna insípido, com que se salgará? Não é bom já para nada, mas que para ser lançado e pisoteado pelos homens’".

"A verdade destas palavras de Cristo estão dolorosamente perante nossos olhos. Também se o ungüento perde o aroma se danifica e se transforma no contrário, em fedor, e em lugar de atrair a Cristo, afasta d’Ele", continuou.

O Pregador da Casa Pontifícia concluiu sua reflexão citando ao Pe. Lacordaire, do século XIX, quem explicava que o sacerdote deve "viver no meio do mundo sem desejo algum por seu prazer; ser membro de toda família sem pertencer a nenhuma delas; compartilhar todo o sofrimento, estar à margem dos segredos, cuidar de todas as feridas; ir cada dia dos homens a Deus, para oferecer a Ele suas devoções e suas orações e voltar de Deus aos homens para levar-lhes seu perdão e sua esperança; ter um coração de aço para a castidade e um coração de carne para a caridade".