Diante da polêmica pelo aval do governo a um filme que apresenta como herói a um tetraplégico que se suicidou com a ajuda de seus amigos, as organizações que agrupam e defendem  estes doentes reclamaram às autoridades velar por seu direito a viver com dignidade em vez de promover sua eventual execução.

A plataforma cidadã HazteOir.org recolheu os testemunhos de vários líderes tetraplégicos e lançou uma campanha para que a cidadania apóie  estes doentes enviando cartas ao governo, em particular aos Ministros de Trabalho e Assuntos Sociais, Saúde, Justiça e Cultura, para mostrar seu rechaço pelo apoio oficial a um filme, que menospreza a vida dos tetraplégicos, e solicitar um apoio real aos deficientes.

A campanha, que pode encontrar-se em: , surgiu depois que o Presidente do Governo, José Luis Zapateiro, junto com seis ministros, assistisse à estréia do filme "Mar a  Dentro" de Pedro Amenábar, em que se narra a história do Ramón Sampedro, tetraplégico a quem uma pessoa ajudou a se suicidar.

“No HazteOir queremos dar voz aos tetraplégicos que não saem no cinema e que não desejam que lhes ofereça uma ‘bondosa’ possibilidade de morrer, mas sim uma real possibilidade de desfrutar de umas condições dignas de vida”, indicaram.

Entre as entidades que levantaram sua voz de protesto, figura a Associação para o Estudo da Lesão Medular Espinhal. Sua presidenta, María del Mar Brotos, é a primeira mulher afetada de tetraplegia que conseguiu ser mãe depois desta afecção.

Brotos declarou que “os meios de comunicação destacam a vida de Ramón, a história de um anti-herói, que não chegou a assumir sua realidade nem sua condição”.

Por sua vez, Gustavo Almela, tetraplégico licenciado em econômicas, assinalou que “este filme tem causado muito dano  aos tetraplégicos que cada dia lutamos pela vida”.

“Atualmente, a pensão não contributiva por invalidez é de 267 euros, pouco mais de 40 mil pesetas ao mês. 500 mil pessoas percebem na Espanha esta exígua pensão, com a que dificilmente podem seguir adiante”, denunciou HazteOir.org.

Ao mesmo tempo, o Foro de Vida Independente, que defende os direitos das pessoas com deficiência, também expressou seu mal-estar pelo filme e afirmou “que a vida do tetraplégico não deve ser considerada uma carga, mas sim um valor inestimável para toda a sociedade”.

Os problemas reais

Segundo HazteOir.org “é surpreendente que o Governo preste mais atenção a um filme em que se advoga pela morte do deficiente, que às legítimas reivindicações das associações de tetraplégicos e paraplégicos, que não estão interessados em morrer, mas sim em que nosso Estado de bem-estar lhes ajude a conseguir as condições mínimas para poder levar uma vida digna”.

Entre os problemas reais destes doentes que o Governo parece ignorar figuram dignas pensões por invalidez, ajudas domiciliárias, adaptação dos transportes públicos , melhorar a acessibilidade de edifícios públicos e privados; subsidiar cadeiras de rodas de propulsão elétrica e veículos especialmente adaptados.

“Convidamos a nossos leitores, especialmente àqueles que padecem uma deficiência, a comunicar a nosso Governo no que consistem as verdadeiras inquietações dos deficientes, exigindo a justa assistência social que nossa Constituição lhes garante, em particular o direito a uma pensão digna”, indicou a organização.