A prefeita de Lo Barnechea, Martha Ehlers, recebeu nesta semana uma resposta da Ministra da Saúde, Soledad Barria, a carta que dirigiu em setembro à Presidenta Michele Bachelet solicitando uma audiência para tratar a distribuição da pílula do dia seguinte. Para sua surpresa, a resposta de Barria tinha anexa, por engano, uma cópia de sua carta original com irônicos comentários –escritos à margem– sobre sua defesa da vida e da família.

Em setembro, Ehlers dirigiu uma carta à mandatária sobre a nova normativa técnica sobre regulação da fertilidade que implica proporcionar a polêmica pílula do dia seguinte não só a quem alegar violação sexual, mas também às adolescentes a partir dos 14 anos de idade sem o consentimento de seus pais, como método para impedir "gravidezes não desejadas".

Ehlers explicou a Bachelet que esta distribuição não solucionará problema algum e "conduzirá conseqüências prejudiciais como a debilitação da autoridade dos pais e o aumento de doenças de transmissão sexual".

Depois de lembrar que como prefeita sempre defendeu o "irrestrito direito à vida" e se opôs aos denominados "anticoncepcionais de emergência porque em outras partes do mundo se reconhece sua possibilidade abortiva", Ehlers solicita respeitosamente uma audiência para dialogar sobre políticas públicas e experiências positivas em outros países.

O Executivo encaminhou a carta ao Ministério de Saúde e a resposta chegou dois meses depois, assinada por Barria, em uma missiva que só confirma a decisão do Governo de prosseguir com a polêmica normativa e não lhe concedem a audiência solicitada.

"A amável resposta que me enviou Bachelet me dizendo que seria sua Ministra quem me atenderia contrasta com a carta de Barria que só reproduz os instrutivos de Saúde, sem mostrar uma real preocupação com o tema", sustenta Ehlers.

"Acredito que a forma em que o governo enfrentou este tema novamente revela um olhar muito pouco empático do que é nossa juventude, trata-os como seres sem dignidade, incapazes de tomar decisões importantes, por isso se tomam medidas de salubridade que não consideram a espiritualidade de cada um. Às vezes parece como se o governo tivesse um convênio com as empresas que fabricam camisinhas", indicou.

Desqualificativos pessoais

Entretanto, o que mais impactou a Ehlers foi receber anexa à resposta da Ministra uma cópia de sua própria carta com selo da Presidência e insólitas cotações à margem com mais de dez comentários irônicos a suas colocações pró-vida.

Segundo o jornal La Segunda "ao parecer se trata do rascunho com o que confeccionariam a resposta oficial".

Entre os comentários figuram desqualificações pessoais como "quando for presidenta pode ditar políticas" e um desconcertante "PLOP!" –chilenismo que significa "sem comentários"– junto ao parágrafo que solicita audiência presidencial.

Uma grafóloga consultada por La Segunda atribuiu as notas à própria Bachelet, mas a Presidenta desmentiu ser a autora dos comentários e se comunicou com Ehlers para desculpar-se pelo ocorrido.

Embora Ehlers tenha exigido que Barria se desculpe publicamente pelo episódio e os desqualificativos, a Ministra optou por um telefonema pessoal em que disse à prefeita que "só se fazia responsável pela carta que redigiu e assinou e que o resto –incluídos os comentários– eram um engano administrativo. Engano administrativo Isso foi um engano político grave! E peço à Ministra que seja responsável e peça perdão, além de punir a quem corresponde".

"A Presidenta me chamou e me assegurou em três ocasiões que a letra dos comentários não era a sua, que por favor acreditasse. E eu quero acreditar, mas não vou aceitar as desculpas da Ministra porque não se fez responsável pelo presentinho que me enviou", explicou Ehlers.

Do mesmo modo, assinalou que pelo ocorrido, a mandatária finalmente sim receberá a prefeita em audiência. "Por fim poderei conversar diretamente com ela, isso vai ser muito bom. Sei que ela não mudará de posição frente a acerta matérias mas ao menos, e tal como ela mesma me fez ver, servirá para enriquecer nossas posturas", afirmou e lamentou que tenha tido que ocorrer um impasse para que me recebam em La Moneda".