O jornal do Vaticano L'Osservatore Romano celebra seus 145 anos com uma exposição em Roma na qual serão apresentados diversos originais do jornal que são pouco conhecidos e que foram impactantes em seu momento.

O jornal foi fundado em 1861, conforme recordou o Arquivista e Bibliotecário da Santa Igreja Romana, Cardeal Jean-Louis Tauran, que apresentou a exposição, para enfrentar a onda de anticlericalismo que existia nos reinos que conformaram a futura a Itália, e a cuja frente estavam, do lado político, o estadista Conde de Cavour e o agitador Giuseppe Manzini, e do lado militar, Giuseppe Garibaldi.

L'Osservatore Romano não nasceu para defender o Papa e a religião católica das "calúnias" que sobre estas duas instituições lançavam os liberais recolhendo os slogans e tópicos que já foram famosos na Revolução Francesa.

Além disso, o jornal teve que enfrentar não só os ataques do liberalismo do século XIX, mas também defendeu o Papado e os católicos dos regimes poderosos como o Fascismo, dirigido por Benito Mussolini, que quis enquadrar a Ação Católica nas filas das organizações juvenis fascistas.

O Cardeal Tauran recordou além disso que "quando o autoritarismo fascista se converteu em totalitarismo, L'Osservatore Romano foi o único jornal que continuou sendo livre", e por isso conseguiu um recorde de vendas em Roma, porque era a única voz que falava de fora do Fascismo. "lhe devemos a condenação de todas as ideologias" totalitárias da época, como o Fascismo, o Nazismo e o comunismo, acrescentou o Cardeal, que foram, as três ideologias totalitárias mais importantes do século XX. Estas condenações foram feitas nos documentos elaborados pelo Papa Pio IX, que tinha como secretário de Estado Eugenio Pacelli, futuro Papa Pio XII.

Também se distinguiu o jornal na pós-guerra. Nas eleições de 1948, a Itália se jogava entre pertencer ao bloco de países aliados com regimes democráticos parlamentares, ou ao bloco de países totalitários que tiveram regimes chamados "repúblicas populares" controlados e impostos pelo comunismo da União Soviética.

Naquelas eleições, as intervenções do Papa Pio XII e da hierarquia católica fizeram inclinar o voto para a Democracia Cristã, partido que se apresentava como baluarte real para derrotar a Frente Popular, onde o Partido Comunista era hegemônico. Naquela campanha o PCI pedia a aliança com a União Soviética e a DC com os Estados Unidos e Grã-Bretanha.

A exposição do L'Osserrvatore Romano, será inaugurada pelo novo Secretário de Estado Vaticano, o Cardeal Tarciso Bertone. Esta conterá painéis que recordarão os fatos históricos de 145 anos de vida do jornal e que criarão um percurso pela história da Santa Sé, de seus Papas e das relações com o Estado Italiano, que tiveram seus momentos mais baixos na chamada "Questão Romana".

Poderão ser vista desde a primeira capa de 1 de julho do 1861, até a edição extraordinária que se fez depois da nomeação de João Paulo II em 16 de outubro de 1978, e a que se fez por motivo de seu falecimento em 2 de abril de 2004.

Ao longo desses anos, o jornal sempre apoiou o Papa, mas não foi até Leão XIII que o jornal dependeu do Papa diretamente. foi "o periódico do Papa mas não o diário oficial da Santa Sé", como destacou o diretor geral do L'Osservatore Romano, o sacerdote salesiano Elio Torrigiani, contou todo o ocorrido durante 10 pontificados, desde Pio IX a Bento XVI.

A exposição, que permanecerá aberta até 10 de novembro, "é uma ocasião para reler a história da Itália e a história internacional através de um periódico especial", afirmou hoje durante a apresentação o presidente da província de Roma, Enrico Gasbarra.

Gasbarra contou que a idéia de uma exposição sobre L'Osservatore Romano surgiu depois de ser recebido em audiência pelo Papa Bento XVI e passar a visitar a redação do jornal vaticano.