O Presidente da Sociedade Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, Carlos Chiattone, criticou a decisão judicial que proibe os hemocentros de todo o Brasil de indagar sobre as condutas sexuais dos eventuais doadores e os obriga a admitir doações de homossexuais, arriscando milhares de pessoas doentes que precisem recorrer aos bancos de sangue.

Um tribunal federal, a pedido do Ministério Público, sentenciou que os bancos de sangue estão proibidos de entrevistar os doadores sobre sua orientação sexual ou hábitos sexuais. A medida respondeu a uma reclamação dos ativistas homossexuais que alegaram ser discriminados como doadores de sangue.

Em declarações à agência Folha, Chiattone considerou que a decisão é muito preocupante e "pode representar um enorme retrocesso na segurança da transfusão sangüínea no país".

"Dá a impressão que os exames sorológicos são suficientes para eximir qualquer risco de transmissão de doença infecciosa. Isso não é verdade. Embora os exames sorológicos sejam de grande avanço, existem indivíduos que se infectaram recentemente, e obtêm exames negativos, pela chamada janela imunológica", indicou Chiattone, hematologista e diretor do Hemocentro Santa Casa de São Paulo.

A janela imunológica é o tempo em que uma pessoa infectada não apresenta anticorpos detectáveis no sangue. Quer dizer que se o eventual doador contraiu HIV nas semanas prévias à doação, a análise de seu sangue poderia apresentá-lo como apto, seu sangue seria dado a um paciente e este último contrairia AIDS.

Segundo Chiattone, atualmente, o período de janela imunológica dura um mês e por isso, as perguntas feitas nas entrevistas, agora proibidas, "são fundamentais para identificar um comportamento de risco na transmissão do HIV".

O especialista –que representa 1.200 profissionais–, declarou que a entrevista prévia à coleta do sangue é idêntico à adotada pelas normas européias. "A segurança do receptor deve estar acima de qualquer outro ponto", indicou.