Em uma mensagem aos deputados que conformam a Assembléia Nacional (AN) da Venezuela, o Arcebispo de Caracas, Cardeal Jorge Urosa Savino, exortou "a legislação e toda a vida política venezuelana" a evitar "a todo custo a intolerância, a discriminação por razões políticas ou ideológicas, o fundamentalismo partidarista".

Depois de lembrar que uma das maiores aspirações dos venezuelanos é viver em paz, exortou a que o lema "Agora a Venezuela é de todos", que identifica as campanhas do Governo, faça-se realidade na política pública. "Eu acredito que para que a Venezuela seja de todos temos que construir uma Venezuela fraterna", enfatizou.

O Cardeal destacou que aos parlamentares "corresponde a atíssima tarefa de legislar para todos os venezuelanos, sem distinção política", procurando que sempre resplandeça e se façam operativos e práticos os grandes valores da liberdade e da justiça".

Destacou a importância da decisão da AN sobre a conformação do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) e pediu que aqueles setores que tenham manifestado sua desconfiança nele "sintam que as portas estão abertas para eleições presidenciais realmente transparentes". Expressou, além disso, que a Comissão Episcopal de Seguimento Eleitoral fez precisões no sentido de que há muitos setores que sentem que "o sistema eleitoral não é suficientemente confiável".

"Este parecer está expresso no fato de que a AN está em processo de nomear a um novo CNE e que o interesse é que hajam decisões que ofereçam aos venezuelanos a confiança para votar nas eleições presidenciais de dezembro", indicou.

Quanto ao papel da Igreja nas eleições presidenciais, esclareceu que "nós não somos negociadores nem mediadores, mas apenas estamos propiciando que haja um diálogo entre todos os setores do país" e explicou que "a Igreja Católica não procura privilégios indevidos, mas sim que se reconheça o espaço devido de uma instituição, uma comunidade, um setor majoritário do povo da Venezuela que contribui eficazmente para a geração de uma nova sociedade".

"Queremos que haja entendimento e busca de soluções aos problemas reais da nação", ressaltou o Cardeal acrescentando que para que isso se obtenha, "pedimos e propiciamos que as partes que têm pontos encontrados ou diferenças no aspecto político possam chegar à solução destes problemas".

Também chamou a lutar contra a corrupção e proteger a segurança pessoal e patrimonial dos venezuelanos, além de enfrentar o narcotráfico e a delinqüência. O Arcebispo reiterou seu pedido de reformar o código penal "para punir mais duramente graves crimes sem restringir a liberdade política". Lembrou deste modo o princípio de que "não pode haver liberdade sem justiça nem justiça sem liberdade" e pediu aos deputados que não esqueçam que o Estado "está em dívida com os cidadãos" no campo da segurança social.

Educação

O Cardeal insistiu que a escola "deve estar aberta ao ensino religioso" e pediu que "não havendo nenhuma contradição" entre a laicidade do Estado e a abertura da religião, "é preciso que a escola siga sendo espaço aberto ao ensino religioso dentro do horário escolar".

Para o Arcebispo, "a pessoa deve estar no centro da preocupação de todos os cidadãos, mas especialmente dos políticos" e acrescentou que "qualquer processo político, especialmente a ação legislativa, deve se realizar no marco da promoção e defesa da pessoa humana e deve estar impulsionada pela força do amor".

"Lembremos o ensinamento do Libertador, 'sem a consciência da religião, a moral carece de base', estas e outras preocupações que os senhores irão concretizando esperam que esta Assembléia escute com abertura e humildade a todos os que constituímos o povo da Venezuela", assinalou o Arcebispo.

Finalmente enfatizou que a vida unidos como irmãos é uma exigência do evangelho de Jesus Cristo e "da estrutura social, da coesão da nação, da vida política".