“É impossível criar uma verdadeira inteligência artificial”, disse o padre José Antonio Fortea, doutor em Teologia pelo Pontifício Ateneo Regina Apostolorum de Roma.

Num vídeo publicado em seu canal no YouTube há alguns dias, o padre fez uma reflexão “baseada em nossa fé em Deus” e disse que “para nós, crentes, é impossível que a ciência crie uma verdadeira racionalidade”.

“Repito, é impossível criar uma verdadeira inteligência artificial, porque por mais impressionantes que sejam os programas, esses omputadores produzirão segundo as diretrizes que têm em sua programação”, continuou.

“Um computador pode surpreender-nos com os dados que nos dá, mas nada sairá fora do que foi posto nele”.

Na reflexão que o padre ofereceu após semanas de debate público sobre a inteligência artificial (IA) e suas aplicações, o padre Fortea deu um exemplo: "Quem manuseia uma calculadora pode se surpreender com os resultados, mas a calculadora não faz nada fora daquilo para o qual foi programada”, ainda que faça “operações espantosamente complexas”.

O padre disse que a máquina pode "aprender" ou atingir um certo nível de "aprendizagem", mas não pode ser comparada a um ser humano que tem racionalidade.

No caso das máquinas e aparelhos, continuou, “tudo o que aprenderem será executado nas estruturas estabelecidas desde o início”. "É como uma bola que cai e tem caminhos diferentes e as comportas se fecham, outras se abrem e a bola vai caindo por onde diz um programa" desenhado pela inteligência humana, acrescentou.

O que é "inteligência artificial"?

Em termos gerais, pode-se dizer que a inteligência artificial (IA) é a combinação de algoritmos para criar máquinas, programas ou dispositivos que se assemelham às habilidades de raciocínio dos seres humanos.

Nos últimos meses, o conceito popularizou-se e ferramentas baseadas em IA como o ChatGPT, que permite a produção de vários textos, ou o Midjourney, que permite a criação de imagens, estão ao alcance dos internautas.

A esse respeito, o doutor Eugene Gan, professor da Universidade Franciscana de Steubenville que estuda o assunto há 30 anos, disse em fevereiro deste ano que, embora pareça humana, a inteligência artificial “não terá alma”.

Um conhecido pesquisador de inteligência artificial e recentemente aposentado do Google, Geoffrey Hinton, alertou que essa tecnologia está se desenvolvendo em um ritmo "aterrorizante" e que não deveria se espalhar além da capacidade de controlá-la.

Hinton, considerado por alguns como o "padrinho" da inteligência artificial, também adverte que os perigos potenciais da nova tecnologia merecem um exame minucioso.

A razão só é possível com um espírito

O padre Fortea disse que “para um crente não é possível pensar em criar uma verdadeira racionalidade, porque a razão, a racionalidade, a verdadeira capacidade de pensar é própria de um espírito”.

“Onde há razão, e pensa e reflete, há um eu, há uma pessoa. Isso é o que nós, homens, não podemos criar. Não podemos criar pessoas de forma artificial”, acrescentou.

"Não nos deixemos enganar. Deus criou o homem e o fez à imagem e semelhança. [Embora] possa criar uma imagem de si mesmo, não pode conceder o espírito."

Por outro lado, a IA "no final é eletricidade passando pelos circuitos, nada mais".

Diante da possibilidade de que programas de inteligência artificial sejam desenvolvidos "para parecerem humanos", o padre espanhol disse que isso levaria a problemas morais.

“Se tivéssemos a capacidade de criar racionalidade, os problemas morais que isso implicaria… Desconectar um ser racional seria o mesmo que matar alguém. E neste caso sua duração é indefinida”.

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A “escravidão” do celular

Em outra parte de sua reflexão, o padre Fortea criticou que em 2023 as pessoas vivam “acorrentadas ao celular (telefone celular)”.

“O computador, os telefones celulares, têm isolado cada vez mais os humanos dos humanos, mas se você tem um amigo aí e até pode fazer uma festa online com 10 amigos que conversam, (...) você mesmo se transforma em um avatar", alertou

Para o padre Fortea, o maior problema nesta área é "a escravização de tantas pessoas que vão levar uma vida 'zumbi' em um mundo de fantasia, afastando-se cada vez mais deste mundo, sem contar com todos os empregos que o desenvolvimento destes programas irá fagocitar”.

“Se os homens seguissem todos os ditames da palavra de Deus, usariam isso que é tão poderoso de forma adequada, de uma forma boa para os homens”, disse ele.

Depois de dizer que tudo relacionado à IA deveria ter sido canalizado "a partir da fé em Jesus Cristo", o padre lamentou que com isso "vão sobrar humanos" e ocorrerá "uma catástrofe" que afetará também o emprego.

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