"Meus anos com João Paulo II" (Espasa, 2023) é o título com o qual foram apresentadas as anotações pessoais de Joaquín Navarro-Valls, porta-voz de são João Paulo II e Bento XVI.

As anotações publicadas de Navarro-Valls não são extratos de um "diário sistemático", mas a edição das notas pessoais do espanhol que passou mais de duas décadas servindo os dois papas.

Diego Contreras Luzón, vice-reitor de Comunicação da Pontifícia Universidade da Santa Cruz, em Roma, é o editor das notas de Navarro-Valls, morto em 2017.

Nelas, diz Contreras em conversa com a ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI, não são revelados novos dados sobre o pontificado de são João Paulo II ou Bento XVI, mas "a perspectiva dos bastidores" do porta-voz do vigário de Cristo na Terra ao longo de duas décadas.

As notas de Navarro-Valls constituem “um olhar sem intermediários para os bastidores, sobretudo, do pontificado de são João Paulo II.

“Trata-se de uma visão bastante confidencial”, em que Navarro-Valls é “muito meticuloso na descrição” de algumas situações e conversas em que se reflete o sentido de humor do papa polonês ou como cresce a relação de amizade e “admiração mútua” entre o espanhol e o papa.

As notas revelam de forma especial a “solidão do papa”, que, segundo Contreras, era “inversamente proporcional à sua força”.

O livro também relata como Navarro-Valls registra as primeiras conversas sobre uma possível renúncia do papa com seu secretário, o atual arcebispo emérito de Cracóvia, cardeal Stanislaw Dziwizs, no início dos anos 1990.

“Como era médico, tinha um bom olhar clínico”, recorda Contreras, por isso são de especial interesse as notas sobre “todo o processo de saúde do papa e seus sofrimentos”.

Para além dos conteúdos específicos, Contreras diz: “Estou apaixonado pelo livro na sua simplicidade”, na forma como reflete a vida cotidiana com o papa.

Essas anotações foram objeto de desejo dos editores por muito tempo. O próprio Joaquín Navarro-Valls, que as digitalizou, embora tenham sido feitas à mão, começou a dar-lhes forma quando terminou o seu trabalho na Santa Sé.

No entanto, "ele percebeu imediatamente que o trabalho de reescrever era muito superior à força que ele tinha na época", diz Contreras. O próprio Navarro-Valls ficou desiludido e pensou que "de repente estas notas não servem para nada", acrescenta.

Navarro-Valls colaborou desde a sua fundação em 1996 com a Faculdade de Comunicação da Universidade da Santa Cruz. “Nós sabíamos sobre as notas. Não tínhamos lido, mas nos oferecemos a 'arrumá-las' e ele gostou da proposta”, diz Contreras.

Assim, um grupo de professores da Cátedra Navarro-Valls se dedicou a eliminar as repetições, suprimir o irrelevante e resumir episódios longos.

Também retiraram os discursos completos dos papas - que podem ser facilmente encontrados na internet -, revisaram questões de estilo e conferiram nomes.

O fato de o livro ter sido publicado quase seis anos depois de sua morte se deve, sobretudo, ao desejo do porta-voz da Santa Sé.

Contreras avalia, "como sua própria impressão", que Navarro-Valls "não quis publicá-lo em vida, mas sim anos depois para não ser protagonista".

Ele também queria deixar tempo e verificar se suas anotações ainda eram interessantes e, por outro lado, para que sua publicação não fosse entendida como uma reivindicação de sua atuação.

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