Defensores de cristãos perseguidos na Nigéria estão criticando um novo relatório feito pela Comissão dos EUA sobre Liberdade Religiosa Internacional (USCIRF) que, segundo eles, ignora atrocidades cometidas pelo grupo étnico fulani, majoritariamente muçulmano, contra os cristãos na Nigéria e, em vez disso, pinta os fulani como vítimas de perseguição.

 

O relatório publicado na última quinta (27) pela USCIRF, um órgão federal apartidário, afirma que os civis Fulani foram submetidos a um "sentimento xenófobo" porque "as comunidades cristãs muitas vezes igualam os muçulmanos fulani às crenças jihadistas salafistas por causa de sua identidade muçulmana". O relatório ainda diz que “os abusos levaram alguns membros das comunidades fulani a se armarem e realizarem ataques de represália com base na identidade étnico-religiosa”, com “as comunidades cristãs em toda a Nigéria sendo ameaçadas por ataques mortais de agressores em busca de vingança por queixas contra os civis muçulmanos fulani” como resultado.

 

Os fulani são um grupo étnico que ocupa uma grande área da África que se estende do Senegal ao Sudão. Grupos muçulmanos jihadistas, como o Estado Islâmico na África Ocidental (EIAO), reivindicaram a responsabilidade por vários ataques mortíferos contra os cristãos do país. Mas uma miríade de outros ataques atribuídos a pastores fulani contra cristãos na Nigéria, especialmente no norte do país, foram relatados nos últimos anos. O atual presidente da Nigéria, Muhammadu Buhari, tem ascendência fulani, e há evidências de que os fulanis gozaram de impunidade para realizar ataques.

 

Os defensores dos cristãos perseguidos discordam veementemente da afirmação do relatório da USCIRF de que os numerosos ataques atribuídos aos Fulani nos últimos anos aos cristãos no país são uma forma de retaliação.

 

Sean Nelson, consultor jurídico da Alliance Defending Freedom, organização de defesa jurídica da liberdade de religião,com sede nos EUA, disse à CNA, agência do grupo ACI em inglês, que o relatório da USCIRF “não consegue explicar o contexto mais amplo da violência religiosa contra os cristãos, em que milhares são mortos todos os anos por causa de sua fé”.

 

Nelson diz que “o relatório está gerando uma polarização desnecessária em uma área que requer grande sensibilidade”.

 

“A comunidade internacional pela liberdade religiosa seria muito beneficiada por uma explicação de como o relatório foi produzido e aprovado, e a USCIRF deveria considerar uma retratação. É vital que a comunidade internacional pela liberdade religiosa seja capaz de se unir para defender os que foram vitimados de forma tão grave e regular na Nigéria”, continua o consultor jurídico.

 

Nelson diz que o relatório parece culpar a comunidade cristã pela marginalização dos fulani, ao mesmo tempo em que falha em reconhecer a perseguição brutal enfrentada pelos cristãos da Nigéria, muitas vezes pelos fulani.

 

“O relatório fala de forma acertada contra o uso de um pincel excessivamente amplo ao discutir a comunidade muçulmana fulani e a militância dentro dela, mas passa a sugerir com falsa equivalência moral e poucas evidências de que a comunidade cristã mais ampla é responsável por grande parte da violência”, observa.

 

Nina Shea, pesquisadora sênior e diretora do Centro de Liberdade Religiosa do Instituto Hudson, pediu que a USCIRF preparasse e divulgasse um relatório “mostrando o outro lado”, que narra a perseguição aos cristãos na Nigéria.

 

Shea destacou à CNA que um novo relatório do Kukah Center, instituto de pesquisa política com sede na Nigéria fundado pelo bispo Matthew Hassan Kukah, da diocese de Sokoto, contradiz a afirmação da USCIRF de que os ataques dos fulani aos cristãos - especialmente na região centro-norte do país - são retaliatórios, sendo na verdade uma forma de terror destinada a expulsar os cristãos de suas terras.

 

O relatório inclui relatos detalhados de testemunhas oculares sobre ataques a civis suspeitos de terem sido executados por pastores fulani – muitos dos quais não apresentam as marcas de ataques retaliatórios, mas parecem ter como objetivo aterrorizar a comunidade cristã. O relatório Kukah também observa que, desde o início de 2022, pelo menos 18 padres católicos foram sequestrados por homens fulani armados em todo o país, com 80% desses sequestros ocorrendo no noroeste da Nigéria.

 

A USCIRF, por sua vez, divulgou ontem (1°) seu relatório anual, que inclui a recomendação de que a Nigéria seja listada pelo Departamento de Estado dos EUA como um “País de Preocupação Particular”, uma designação que a USCIRF recomenda para a Nigéria desde 2009 devido à “violência e atrocidades” cometidas em toda a Nigéria, inclusive por grupos militantes islâmicos e “alianças dinâmicas entre insurgentes, criminosos e justiceiros”.

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