O papa Francisco exortou os cristãos a serem "portas abertas" de caridade, amor e diálogo para toda a sociedade durante a missa que rezou na praça Kossuth Lajos, em Budapeste, Hungria, hoje (30), último dia de sua viagem apostólica.

Na homilia, Francisco disse que em algumas comunidades eclesiais existem “portas fechadas” a quem “não está dentro das regras”, a quem “aspira pelo perdão de Deus”.

“Por favor: abramos as portas! Procuremos ser também nós – com as palavras, os gestos, as atividades quotidianas – como Jesus: uma porta aberta, uma porta que nunca se fecha na cara de ninguém, uma porta que a todos permite entrar para experimentar a beleza do amor e do perdão do Senhor".

“Repito isto sobretudo para mim mesmo, para os irmãos bispos e sacerdotes: para nós, pastores. Porque o pastor – diz Jesus – não é um salteador nem um ladrão (cf. Jo 10, 8); isto é, não se aproveita da sua função, não oprime o rebanho que lhe está confiado, não «rouba» o espaço aos irmãos leigos, não exerce uma autoridade rígida”.

Na missa celebrada hoje (30) às 9h30 (4h40 no horário de Brasília), o papa chegou ao altar numa cadeira de rodas para celebrar a missa diante de 50 mil pessoas na praça Kossuth Lajos, segundo as autoridades locais.

Ao final, durante a oração do Regina Caeli com os fiéis presentes na praça Kossuth Lajos, o papa rezou pela paz na Europa.

“Virgem Santa, olhai para os povos que mais sofrem. Olhai sobretudo para o vizinho povo ucraniano martirizado e para o povo russo, a Vós consagrados."

“Vós sois a Rainha da paz, infundi nos corações dos homens e dos líderes das nações o desejo de construir a paz, de dar às jovens gerações um futuro de esperança, não de guerra; um futuro cheio de berços, não de túmulos; um mundo de irmãos, não de muros”, acrescentou.

Cristãos, sejam facilitadores da graça

Na homilia, o papa animou os fiéis “a ser portas sempre mais abertas: ‘facilitadores’ da graça de Deus, peritos de proximidade, dispostos a oferecer a vida, como Jesus Cristo”.

Neste ponto, disse que “nosso Senhor e nosso tudo, nos ensina de braços abertos a partir da cátedra da cruz e sempre no-lo mostra no altar, Pão vivo repartido para nós”.

“Digo isto – continuou o papa – também aos irmãos e irmãs leigos, aos catequistas, aos agentes pastorais, a quem tem responsabilidades políticas e sociais, àqueles que simplesmente levam para a frente a sua vida quotidiana, por vezes com dificuldade: sede portas abertas. Sede portas abertas!”.

O papa anunciou que é importante que os cristãos deixem o Senhor entrar em seus corações e depois “sairmos fora e sermos, nós mesmos, portas abertas na sociedade. Estar abertos e ser inclusivos uns para com os outros, para ajudar a Hungria a crescer na fraternidade, caminho da paz”.

O rebanho de Jesus é "inclusivo e nunca excludente"

Em outro momento, disse que a catolicidade é difundir o amor de Jesus, Bom Pastor, para que “seu rebanho seja inclusivo e nunca excludente”.

"Por isso - disse ele - somos todos chamados a cultivar relações de fraternidade e colaboração, sem nos dividirmos entre nós, sem considerar a nossa comunidade como um ambiente reservado, sem nos deixarmos tomar pela preocupação de defender cada um o próprio espaço, mas abrindo-nos ao amor recíproco", acrescentou.

“Irmãos e irmãs, reunidos aqui esta manhã, sintamos a alegria de ser povo santo de Deus: todos nascemos da sua chamada; foi Ele que nos convocou e, por isso, somos o seu povo, o seu rebanho, a sua Igreja”, disse o papa.

“Deus – continuou – reuniu-nos aqui para que, embora sendo diversos uns dos outros e pertencendo a comunidades diferentes, a grandeza do seu amor nos reúna a todos num único abraço”.

O papa disse que é “bom partilhar esta alegria juntamente com as Delegações ecumênicas, os chefes da Comunidade judaica, os representantes das Instituições civis e do Corpo Diplomático”.

Festa e testemunho de uma família mexicana

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Antes da cerimônia, a multidão recebeu o papa Francisco com cantos, bandeiras da Hungria e do Vaticano (algumas ucranianas) e alegria.

O papamóvel deu uma volta entre os fiéis reunidos na praça antes da missa. O papa Francisco estava acompanhado pelo arcebispo de Esztergom-Budapeste, cardeal Péter Erdő; vários pais e mães levantavam seus filhos para a bênção.

Em conversa com a ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI, uma família do México e da Hungria disse que, com a visita do papa, “é possível falar sobre a nossa fé nos meios de comunicação”.

“Agora todo mundo está declarando a sua fé, que Deus é nossa força, e para mim é ótimo que todos estejam finalmente falando sobre isso”.

Eles também disseram que o papa em Budapeste "chama a atenção daqueles que não estão necessariamente próximos da Igreja, mas que ainda pensam em se aproximar".

 

Presença de Hilarión

Várias autoridades civis e religiosas também participaram da missa, incluindo a presidente húngara Katalin Novák e o primeiro-ministro Viktor Orbán.

Também participou uma delegação ortodoxa, da qual a Santa Sé destacou a presença do metropolita do patriarcado de Moscou Hilarión, cuja cruz peitoral o papa Francisco beijou ontem durante um encontro "cordial" na nunciatura apostólica de Budapeste.

O Regina Caeli: Paz para a Ucrânia e a Europa

No final da celebração, o cardeal Péter Erdő dirigiu uma saudação e agradecimento ao papa Francisco.

O papa Francisco conduziu a oração do Regina Caeli com os fiéis presentes na praça Kossuth Lajos. O papa pediu à Santíssima Virgem a paz para a Europa e a Ucrânia: “Olhai para os povos que mais sofrem”.

Antes da oração mariana, o papa aproveitou a oportunidade para agradecer ao cardeal Erdő por suas palavras e "a todo o amado povo húngaro pelo acolhimento e o afeto que senti nestes dias".

“A todos digo: köszönöm, Isten fizesse [obrigado; Deus vos recompense]! Recordo de forma especial os doentes e idosos, as pessoas que não puderam estar aqui, quem se sente sozinho e quantos perderam a fé em Deus e a esperança na vida”, disse.

“É belo que as fronteiras não representem confins que separam, mas áreas de contato; e que os crentes em Cristo ponham em primeiro lugar a caridade que une e não as diferenças históricas, culturais e religiosas que dividem”.

“Queridos irmãos e irmãs, isto vos desejo: que possais espalhar a alegria de Cristo: Isten éltessen [felicidades]! Agradecido por estes dias, levo-vos no coração e peço que rezeis por mim. Isten áld meg a magyart [Deus abençoe os húngaros]!”.

Após a oração do Regina Caeli e a bênção final, o papa Francisco voltou de carro à nunciatura apostólica de Budapeste, onde almoçou em privado.

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