O papa Francisco condenou a ideologia de gênero e o "insensato direito ao aborto" em seu primeiro discurso em Budapeste, capital da Hungria, perante as autoridades políticas, civis e religiosas, hoje (28), na sala do ex-mosteiro carmelita dentro do Palácio Sándor, residência oficial do presidente da República da Hungria desde janeiro 2003.

Após o discurso da presidente da República da Hungria, Katalin Novák, o papa condenou “o caminho nefasto das ‘colonizações ideológicas’, que eliminam as diferenças, como no caso da chamada cultura do gênero”.

Lamentou que essas colonizações "antepõem à realidade da vida conceitos redutores de liberdade, quando por exemplo se alardeia como conquista um insensato ‘direito ao aborto’, que é sempre uma trágica derrota".

O papa pediu que a "Europa dos vinte e sete" não fique refém de "populismos autorreferenciais" e que não se transforme numa "realidade fluida gasosa", nem se renda ao "supranacionalismo abstrato, alheio à vida dos povos”.

Antes de seu discurso, o papa teve um breve encontro com o primeiro-ministro Victor Orbán. O primeiro-ministro é alvo de críticas de líderes europeus e seu governo sofre boicotes da União Europeia por defender a família e se opor ao aborto e às causas LGBT.

Orbán descreveu a visita do papa como "um momento maravilhoso". “Isso representa para nós uma confirmação, um apoio. Lutamos para preservar o caminho do cristianismo e isso é uma batalha muito difícil na situação atual da Europa e com esta guerra que clama pela paz”, acrescentou Orbán.

O papa Francisco também pediu políticas eficazes em favor da natalidade e da família. Na Europa não nascem crianças suficientes e a sua população está envelhecendo, ao mesmo tempo, disse que há locais onde a população já tem uma idade média de 46 a 48 anos.

“Para isso muito contribui a fé cristã, podendo a Hungria servir de ‘construtora de pontes’ graças ao seu específico caráter ecuménico: aqui convivem sem antagonismos diferentes Confissões, colaborando respeitosamente, com espírito construtivo”.

A composição religiosa da Hungria é variada, embora, na Igreja Católica, o rito latino seja majoritário. No entanto, 5% dos católicos do país são de rito bizantino, há entre 15% e 17% calvinistas, 3% luteranos e há uma importante comunidade judaica. Em Budapeste também existem várias igrejas ortodoxas antigas.

Ajudar o estrangeiro

O papa falou sobre o exemplo de acolhimento aos refugiados de alguns santos húngaros, como santo Estêvão.

O acolhimento de refugiados e imigrantes “é um tema que suscita muitos debates em nossos dias e é, sem dúvida, complexo. Todavia, para quem é cristão, a atitude de fundo não pode ser diferente daquela que Santo Estêvão transmitiu”, disse o papa.

Francisco citou santo Estêvão, o primeiro rei da Hungria: “Recomendo que sejas gentil não só com a tua família e parentes, ou com os poderosos e ricos, ou com o teu vizinho e os habitantes do país, mas também com os estrangeiros”.

Dados da ONU mostram que mais de 620 mil refugiados ucranianos entraram na Hungria desde a invasão em 24 de fevereiro de 2022. Mas, segundo dados húngaros, apenas cerca de 20 mil solicitaram "proteção temporária", que lhes garante acesso aos sistemas locais de saúde e segurança social.

"Por isso – disse o papa - é urgente, como Europa, trabalhar em vias seguras e legais, em mecanismos partilhados face a um desafio epocal que não se pode travar rejeitando-o, mas deve ser acolhido para preparar um futuro que, se não for de todos em conjunto, não existirá.

O papa recordou que a Hungria viveu durante a Segunda Guerra Mundial, “a deportação de dezenas e dezenas de milhares de habitantes, com a restante população de origem judaica encerrada no gueto e sujeita a numerosos massacres”.

Francisco pediu que a política internacional trabalhe pela paz na Ucrânia. “Nesta fase histórica, os perigos são muitos; mas eu me pergunto, pensando também na martirizada Ucrânia, onde estão os esforços criativos de paz?”

Para o papa, "é essencial reencontrar a alma europeia: o entusiasmo e o sonho dos pais fundadores".

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