O papa Francisco introduziu novidades no ordenamento da XVI Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, o Sínodo da SInodalidade, que acontecerá de 4 a 29 de outubro de 2023. Participarão do sínodo 70 novos membros não-bispos. Provavelmente metade deles serão mulheres. Todos terão direito a voto. A mudança foi aprovada pelo papa em 17 de abril.

Até agora, o sínodo era uma assembleia de bispos que se reúnem convocados pelo papa para “trocar mutuamente informações e compartilhar experiências, com o objetivo comum de buscar soluções pastorais válidas e universalmente aplicáveis”. Foi instituído como órgão permanente pelo papa são Paulo VI em 15 de setembro de 1965.

Esses “membros não bispos” do Sínodo da Sinodalidade serão escolhidos pelo papa. “Com esta decisão do Santo Padre, o Sínodo continuará sendo um Sínodo dos Bispos, mas haverá esta participação ampliada”, disse o cardeal Mario Grech, secretário-geral do Sínodo dos Bispos, hoje (26) em entrevista coletiva no Vaticano.

Os dez padres pertencentes a institutos de vida consagrada, que normalmente eram escolhidos pelas respectivas organizações para representar os superiores gerais, serão substituídos por cinco religiosas e cinco religiosos pertencentes a institutos de vida consagrada. Eles terão direito a voto.

“Na hora de identificá-los, não se leva em conta só a sua cultura geral e prudência, mas também seus conhecimentos, tanto teóricos quanto práticos, assim como sua participação em diversas capacidades no processo sinodal”, dizem os organizadores.

“Não é uma revolução, mas uma mudança importante: os 70 novos membros são 21% da assembleia, que permanece sendo uma assembleia de bispos, com uma certa participação de não bispos”, disse o arcebispo de Luxemburgo e relator-geral do Sínodo, o cardeal jesuíta Jean-Claude Hollerich, durante a coletiva.

“Caberá às assembleias continentais propor 20 nomes, e o papa Francisco poderá escolher dez de cada continente e da Conferência dos Patriarcas do Oriente Médio”, continuou Hollerich. “Seria bom que, entre estes 70, metade sejam mulheres e que haja jovens, para que a Igreja esteja bem representada”.

Em fevereiro de 2021, o papa Francisco nomeou uma freira, irmã Nathalie Becquart, subsecretária do Sínodo. Ela seria a primeira mulher a votar numa assembleia sinodal. Até à data, as mulheres, religiosas ou leigas, só podiam ser “auditoras” e intervir durante a assembleia, sem direito a voto.

Outra novidade será a presença de bispos que não fazem parte de uma Conferência Episcopal, como Luxemburgo. “Até agora, essas Igrejas não estavam representadas. Desta vez, poderão enviar um membro ao Sínodo. A Igreja estará mais completa neste sínodo e será uma alegria ter toda a Igreja reunida em Roma”, disse o cardeal Hollerich.

“O espaço da tenda se amplia”, disse o cardeal Mario Grech, citando o nome do documento sobre a fase continental do sínodo da sinodalidade. “A participação dos novos membros não garante só o diálogo que existe entre a profecia do povo de Deus e o discernimento dos pastores – a circularidade posta em movimento ao longo do processo sinodal – mas também garante a memória”.

Para Grech, os novos membros “são testemunhas da memória, do processo sinodal, do caminho de discernimento iniciado há dois anos. Esperamos que as mudanças introduzidas pelo Santo Padre possam enriquecer não tanto o Sínodo, cuja natureza não é afetada porque continuará sendo o Sínodo dos Bispos, mas toda a Igreja”.

Respondendo a uma pergunta sobre as votações finais, os cardeais reiteraram: "Não estamos atrás dos votos". Segundo eles, o voto é um instrumento humano que ajudará, mas o Sínodo “é um discernimento, é uma oração”.

O papa Francisco disse em várias ocasiões que o Sínodo não é um "parlamento", mas um "processo" para ouvir e "envolver-se com o Espírito".

O Sínodo da Sinodalidade começou em 2021 com uma fase de consulta em todas as dioceses do mundo. As consultas geraram novas reuniões e relatórios regionais, continentais e um, geral, que se chama “Alarga o Espaço da Tua Tenda”.

Com base nesse relatório está sendo escrito, por uma comissão nomeada pela Santa Sé, o Instrumentum laboris que deverá estar pronto no final de maio e servirá de base para as discussões na assembleia de outubro. Uma nova assembleia em outubro de 2024 deve encerrar o Sínodo da Sinodalidade.

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